LXIII.

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MARY BLAKE. | JACK DAVIS.
1 ANO ANTES.
JANEIRO DE 1977.

    Junto minhas coisas e as guardo em meu armário. Assim que o fecho, dou de cara com Jack.
    — Desculpa, não queria te assustar. — Ele levanta suas mãos, rindo.
    — Só a intenção não muda muita coisa. — Rebato rindo. Tranco o armário.
    Viro-me de costas, esperando que ele me siga.
    — Então... — Ele começa.
    — Então... ?
    — Eu quero saber se você quer ir a uma festa comigo.
    Paro de andar e me viro para ele.
    — Bom, há festas de fim de ano, essa vai ser de começo de ano. A maioria dos meus amigos estavam com suas famílias no dia 31 de dezembro.
    — Hm... Tá, claro. Preciso saber se meus pais deixam.
    — Claro que deixam. Seu pai me ama.
    — Meu pai te amar não é um bom sinal, minha mãe te odeia.
    Ele vira sua cabeça, considerando a ideia.
    — Só... Por favor, tente convencê-los. — Ele abraça minha cintura e beija meus lábios.
    — Tá, claro. — Forço um sorriso.
    Ele me beija novamente e se afasta. Viro meu corpo, o assistindo ir embora.
    Respiro fundo.
    Não gosto de festas. Vou a elas apenas por Jack, normalmente não são tão divertidas.
    Ficar apenas com meus amigos próximos parece e é muito mais legal. Sempre me divirto mais.
    Me sinto invisível naquelas festas.
    As pessoas passam por mim como se eu fosse uma flor de parede.
    Posso não chamar a atenção das pessoas, mas mereço ser tratada como uma pessoa normal. "Bom dia, boa tarde e boa noite" são um bom começo.
    Não gosto de ficar na sombra de meu namorado, não é como se eu precisasse dele para me proteger ou qualquer coisa do tipo. Posso cuidar de mim mesma.
    Eles me tratam como uma criancinha. Eu tenho 14 anos, não 4. Jack está no último ano, quase completando 18.
    Sinceramente, essas festas são um saco.

    Há algo de estranho em Jack nas últimas semanas. Está inquieto e preocupado demais com quem falo, vejo, para aonde vou.
    Ailyn está tão estranha quanto ele. Está paranoica, assustada. Quando chamo por seu nome, ela me olha como se eu estivesse apontando uma arma em seu rosto.
    Ela é minha melhor amiga, e mesmo assim, não me conta o que está acontecendo. Eu conto tudo a ela, mas parece que ela não confia em mim o suficiente para fazer o mesmo.
   
    Tudo o que quero é que ela me conte tudo, porque e̶u̶ s̶e̶i̶ d̶a̶ v̶e̶r̶d̶a̶d̶e eu me preocupo com ela.
    Estão frios o suficiente para congelar meus ossos. Não entendo porque estão assim, tão... frios.
    Cada respiração que escapa dos pulmões de Ailyn é como uma nevasca transformando meu coração em gelo.
    É como se eu não os conhecesse mais.
    Há momentos em que sinto que deveria os jogar contra a parede e perguntar o que está acontecendo.
    Não estou tão preocupada com Jack quanto estou com Ailyn. Ela não se dá muito bem com sua mãe, já Jack, faz drama por perder os jogos de futebol.
    Estou acostumada com ele descontando sua raiva em mim. Nós brigamos bastante, mas sempre ficamos bem. No final de tudo, ele me trata bem. Jack briga comigo, mesmo que eu não tenha culpa de nada. Depois ele me abraça e pede desculpas, eu aceito, claro. Acho que está tudo bem.
    Relacionamentos têm altos e baixos. Não vou desistir de meu namorado por brigas bobas.
    Em relação a Ailyn, vou esperar até que ela esteja pronta para me contar. Ela sempre conta. É minha amiga há anos, nada que ela disser vai me chocar.

   
    Chego em casa e jogo minha mochila no chão do quarto.
    Jogo meu corpo na cama. Encaro o teto esperando que ele fale comigo. "Fale com ela."
    A verdade é que não me importo tanto com Jack, é que ele é meu primeiro namorado. Não sei como é estar em um relacionamento.
    Ele é mais velho que eu, mais experiente. Deixo que ele lide com o namoro. Eu apenas decoro os passos de sua longa e t̶o̶r̶t̶u̶r̶a̶n̶t̶e linda dança.
    Talvez Ailyn tenha brigado com seu namorado, Vance. Digamos que ele não é a melhor influência para ela. Já o vi bebendo em festas e brigando na rua.
    Vance é o pior tipo de pessoa que pode se ter por perto.
    O conheci a quase 1 ano, no fliperama de Denver. Estava jogando Pinball enquanto eu escolhia um jogo mais interessante.
    Ele não é tão rude comigo quanto é com os outros. Antigamente ele era bem mais grosso. Ficamos mais próximos quando ele começou a namorar Ailyn, mas mesmo assim, não nós falamos tanto. São coisas básicas, como ele me perguntando onde ela está e vice-versa.
    Há alguns dias me aproximei e perguntei se ela também estava sendo rude com ele. Ao que ele respondeu: "não... não que eu tenha percebido". Não estava se importando nem um pouco. Após isso, perguntou: "por quê? Ela fez algo para você?" Neguei com a cabeça. Ele perguntou outra vez: você está bem?
    "Sim, estou bem, Vance."
    Afastei-me, confusa. Não é possível que não tenha notado tudo aquilo. Fico indignada ao saber que ele não liga para Ailyn. Se ele não liga para ela, por que está namorando ela? Não faz sentido.
   

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora