XXIX.

2.2K 254 53
                                    


MARY B.
2 MESES ANTES.

Agora eu sei o que aconteceu no dia 17 de novembro de 1977.
O suicídio e morte de minha mãe.
Meu sonho estava certo.
Preferia se estivesse errado.
Vance e eu voltamos para casa à noite.
Seu corpo estava caído na cozinha quando eu entrei.
A puxei para perto para tentar sentir seus batimentos.
De joelhos, implorei para que ela aguentasse firme.
O pior de tudo foi que Finney estava lá.
Eu poderia aguentar tudo sozinha, mas ele havia visto.
Vance também.
Gritei para meu namorado para que ele o tirasse do cômodo.
Seu corpo estava petrificado como gelo.

Ligamos para a ambulância.
Não havia nada que pudessem fazer.
Quando chegamos no hospital, ele já estava morta há 10 minutos.
Minha mãe morreu 5 minutos antes de eu chegar.
Nunca vou superar o fato de que eu podia ter impedido aquilo de acontecer.
Nunca vou me perdoar.
Nunca vou deixá-la ir.

Sinto alguém colocar seu braço ao redor de minhas costas.
É Vance.
A chuva acima de minha cabeça some. Vance está me protegendo com seu braço.
Percebo por sua sombra.
Não levanto meu olhar.
Meus pés doem por causa dos saltos.
Sinto frio em minhas panturrilhas. Meu vestido chega até meus joelhos.
A terra em cima no caixão de minha mãe está sendo molhada pela chuva.
- Amor? - Vance diz.
Viro meu rosto levemente em sua direção.
Assim, consigo ver a rosa-vermelha presa em meu vestido, na altura de meu coração.
Tento admirá-la, mas a cor me lembra o sangue pelo chão da cozinha.
Respiro fundo.
A mão de Vance sobe para meus braços e depois para minha cabeça. Ele beija minha têmpora.
Sinto meu nariz escorrer. O limpo com o pano que me deram.
Estou chorando há horas.
Preciso parar de chorar para receber as condolências de pessoas as quais não sei os nomes.
Elas chegam, dizem palavras vazias, me relembram a dor e se vão como fumaça.
"M̶e̶u̶s̶ p̶ê̶s̶a̶m̶e̶s̶."
A sua mãe morreu.

Meus olhos estão ardendo e minhas mãos tremendo.
Viro-me para Vance de cabeça baixa.
Ele não pensa duas vezes antes de me abraçar.
Desabo em seus braços.
A mulher que me criou, que me amou como ninguém amou nunca mais fará isso.
Não vai me criar mais.
Não vai me amar mais.
Eu irei.
Sempre irei amá-la.
- Dói tanto, Vance. Tanto. - Soluço.
Estou sem ar. Preciso me afastar para estabilizar minha respiração.
Nunca gostei de admitir que preciso de Vance.
Não preciso de ninguém.
Precisa.
Não preciso de ninguém.
Preciso de Vance agora.
Não preciso de ninguém.

Minha cabeça está uma bagunça.
Assim que fecho meus olhos, vejo toda a cena novamente.

"- MÃE?"
"- MÃE, POR FAVOR."

"MEUS PÊSAMES."

SANGUE. LÁGRIMAS.
SUOR.

E̶U̶ P̶R̶E̶C̶I̶S̶O̶ D̶E̶ V̶A̶N̶C̶E̶

E̶U̶ N̶A̶O̶ P̶R̶E̶C̶I̶S̶O̶ D̶E̶ N̶I̶N̶G̶U̶E̶M̶

"SEU PAI PEDIU QUE VOCÊ COMPRE LÂMINAS PARA O APARELHO DE BARBEAR DELE".
V̶O̶C̶E̶ A̶C̶R̶E̶D̶I̶T̶O̶U̶ N̶E̶L̶A̶

é̶ s̶u̶a̶ c̶u̶l̶p̶a̶

VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
VOCÊ MATOU A SUA MÃE.
Parabéns, Mary.
Você é uma assassina.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora