Epílogo III

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A ᴍᴀɴʜᴀ̃ do dia 31 de outubro, todos se levantavam animados.

    As únicas pessoas que odiavam o Halloween tinham um bom motivo para isso: terem suas casas cobertas por papel higiênico. Por outro lado, a maioria das pessoas que gostam do Halloween são as pessoas que jogam papel higiênico nas casas das outras.
    Finney havia acordado cedo, como o costume o obrigava. Gwen permanecia adormecida, e em seu quarto, um sonho atormentava sua cabeça.
    As portas da escola eram abertas para que ela e sua família entrassem. Gwen caminhava ao lado esquerdo de Finney, agarrada ao seu braço. Do lado direito de seu irmão, Robin andava agoniado. Eles estavam de mãos dadas, é como se o mundo fosse se quebrar ao meio se eles se separassem.

    Eles foram direcionados até a quadra, onde havia o pequeno e familiar palco onde a diretora anunciou todos os desaparecimentos.
    Finney foi obrigado a falar sobre algumas coisas que passou no porão, as mãos do garoto tremiam, Gwen sentia seu estômago se embrulhando.
    Ouvir tudo aquilo novamente era tão doloroso quanto ouvir pela primeira vez.
    Ela não conseguia acreditar que o causador de toda aquela tragédia era seu tio.
    Ela não conseguia acreditar no que aconteceu.
    Não conseguia acreditar que sua irmã nunca mais voltaria para casa.
    Gwen poderia odiar admitir, mas considerava Mary sua mãe. Ela não gostava de fingir que não se lembrava de sua mãe, mas em certos momentos, era inevitável. Perder Mary foi como perder uma mãe pela segunda vez.
    Ela não era tão próxima de Vance quanto era de Mary, claro, mas ele amava sua irmã. Vance mostrou a Mary o que Terrance não mostrou a Corine: amor, um amor puro.
    Gwen e Finney lembram-se muito bem das noites de jogos e filmes que passavam com seus "pais".
    Lembram-se das mímicas que os dois faziam e eles tinham que adivinhar o que eles estavam tentando dizer.
    Pizza de pepperoni e sorvete de chocolate viraram seus melhores amigos. Era o que Mary e Vance conseguiam comprar quando juntavam suas notas amassadas e esquecidas no fundo de seus bolsos.
    Tudo parece ter congelado no tempo. Os jogos, os filmes, os papéis das pizzarias, os sorrisos, as lágrimas.
    Gwen lembra-se de se deitar no meio de sua irmã e seu namorado, pois tinha tido um pesadelo com o filme Tubarão. Para acompanhá-la, Finney colocou se colchão no chão e adormeceu por lá.
    Tudo parecia mais calmo quando eles estavam juntos, seus corpos ficavam leves e suas mentes, vazias de preocupações.

    A reação de todos na quadra quando o Detetive Wright confirmou a morte dos outros foi dolorosa demais para se assistir.
    Kasey começou a chorar copiosamente enquanto Edwina tinha uma crise de pânico incessável. Suas mãos tremiam e as pernas bambeavam.
    Ailyn caiu de joelhos assim que os mesmos cederam. A intensidade da dor profunda em seu coração a fazia querer vomitar. Em meio às lágrimas, gritos de desespero fugiram das cordas vocais dos adolescentes.
    Kelly estava estático. Não dizia nada, não ouvia nada. As lágrimas escorrendo lentamente por seu rosto diziam tudo que todos precisavam saber.
    Eu preciso dela.
    EU NÃO PEDI PERDÃO.
    Eu estou sonhando. Isso é um sonho.
    NÃO, NÃO, NÃO, NÃO.
    Eu preciso dela.
    EU NÃO PEDI PERDÃO.
    Eu estou sonhando. Isso é um sonho.
    NÃO, NÃO, NÃO, NÃO.
    Eu preciso dela.
    EU NÃO PEDI PERDÃO.
    Eu estou sonhando. Isso é um sonho.
    NÃO, NÃO, NÃO, NÃO.
    Eu preciso dela.
    EU NÃO PEDI PERDÃO.
    Eu estou sonhando. Isso é um sonho.
    NÃO, NÃO, NÃO, NÃO.
    Eu preciso dela.
    EU NÃO PEDI PERDÃO.
    Eu estou sonhando. Isso é um sonho.
    NÃO, NÃO, NÃO, NÃO.
    Os quatro amigos não podiam acreditar que haviam perdido Mary e Vance ao mesmo tempo.
    O grupo estava quebrado. Partido ao meio, completamente sem reparos.
    Seus corações, partidos, suas mentes, vazias, suas visões, apagadas. Não viam a si mesmos depois daquele momento. O futuro deles havia sido escrito com tinta lavável, e eles estavam se afogando em um poço infinitamente profundo.
   
    Aquilo havia acontecido há um ano, e mesmo assim, era impossível esquecer cada detalhe.
    Eles não eram perfeitos, claro. Não é fácil se esquecer das crises de raiva e ciúme de Vance. Mary não falava com outros garotos além de Kelly, mas mesmo assim. É uma mentira dizer que o ciúme de Vance não era possessivo.
    As crises de ansiedade de Mary destruíam seus dias. Deixavam todos na casa agoniados.
    Havia dias em que ela comia muito pouco, ou não comia nada.
    O mesmo que está acontecendo com Robin já aconteceu com Mary. Gwen e Finney sabiam que eles precisavam ajudar Robin, mas também sabiam que ele precisava de sua mãe, de um médico.
    É uma pena que Mary não teve tempo para procurar ajuda. Vance e seus irmãos eram os únicos que sabiam desses problemas com comida.
   
    Era o primeiro Halloween dos 3 sem Mary. Tudo parecia normal, mas vazio demais.
    Não era tão ruim quanto o aniversário dos 3. O primeiro aniversário deles sem Mary, Vance, Corine e o Sr. Arellano. Cada vez ficavam mais solitários, vazios.
    Haviam sete cadeiras ao redor da mesa, mas apenas quatro estavam sendo usadas. Gwen não permitia que ninguém se sentasse na cadeira de Mary, Vance e Corine. Sempre que outra pessoa fosse se juntar a eles, ela pegava outra cadeira.
    Ela não era a única que não conseguia ignorar tudo aquilo. Finney simplesmente não conseguia se livrar daquela droga de telefone. Ele ainda pensa que Mary retornará a ligar.
    Finney tentava ignorar seus traumas, seu passado, suas lágrimas, tudo a sua volta, mas era impossível. Por mais que ele tentasse, não conseguia.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    ESTOU TENTANDO MEU MÁXIMO.
    Mas ainda não é o suficiente.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora