XVII.

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GWEN B.

Desligo a TV ao perceber que Finney pegou no sono.
Me levanto do sofá.
Não tenho mais nada para fazer.
Caminho até o quarto de Mary.
Ligo as luzes e começo a mexer em suas coisas.
Abro uma gaveta e encontro jogos de tabuleiro.
Em outra, encontro roupas, me ajoelho na frente dela.
Pego um de seus suéteres e o cheiro.
O cheiro de baunilha e café invade minhas narinas.
As lágrimas são automáticas.
Espero que onde quer que esteja, não esteja sozinha.
Espero que esteja bem.
Espero que esteja viva.

FINNEY B'S DREAM.

Estou sentado no sofá.
A TV está ligada, nela se passa um filme.
Sinto fome, então caminho até a cozinha e faço pipocas.
Enquanto volto para a sala, me olho no espelho da parede.
Meu cabelo está mais curto.
Tenho uma barba recém raspada.
E com certeza estou mais alto.
Estranho, porém ignoro.
Conto para a sala e me jogo no sofá novamente.
Estou esperando por alguém, não sei quem.
Alguém sai do quarto de Gwen.
Uma mulher de cabelos longos e castanhos.
Ela veste um vestido florido e sandálias amarelas.
- Eles estão chegando? - Pergunta, a voz madura.
- Sim. - Respondo. Minha voz está grossa. Eu respondi, mas não sei sobre o que estou falando.
A mulher se senta ao meu lado e come algumas pipocas.
Parece nervosa.
- Não vemos eles há 3 meses, sabia?
- Sim... Não tenho tanto tempo para outras coisas além de trabalhar. O Dwight está me cansando mais do que qualquer coisa.
- Dwight?
- Meu chefe novo.
- Hm...
A campainha toca.
- São eles! - Ela afirma sorrindo e se levantando.
"Eles" quem?
Me levanto.
Não percebo, mas estou sorrindo.
Estou vivendo em corpo sem controlá-lo.
A mulher quem suponho ser Gwen abre a porta.
Assim que a porta se abre, uma garotinha loira corre até mim.
- Tio Finn! - Grita ela.
Me abaixo para pegá-la no colo.
- Oi, mocinha! Você cresceu.
Depois dele, entram pessoas as quais não mudaram.
Mary e Vance.
Maryann veste uma calça jeans e uma camisa social branca. A camisa fica grande nela. Suponho ser de Vance.
Ele entra segurando em sua cintura, a acompanhando.
Ele veste uma calça preta, assim como sua jaqueta de couro.
Mary sorri muito.
Em seus braços, Vance carrega meu sobrinho de apenas um ano.
O garoto é apenas três anos mais novo que a garotinha, assim como eu e Mary.
Percebo que Mary e Vance fizeram uma tatuagem juntos.
Em seus braços, no mesmo lugar, a Medusa.
- Que coisinha mais linda. - Diz Gwen, se oferecendo para carregar o garoto.
Vance se aproxima e me cumprimenta com abraços, sorrisos e ameaças de socos.
Finjo tentar atingi-lo na barriga.
- E aí, cara? Tudo bem?
- Estou bem sim, e você?
- Eu estou ótimo. - Seu sorriso está maior que nunca.
Solto a menina e me aproximo para abraçar minha irmã.
- Senti saudades. - Ela diz.
- Também.
- Onde estão Robin e Donna?
Donna?
- Donna pediu para que eu a buscasse na faculdade, porém eu precisava estar aqui para recebê-los, então o Robin foi.
Nos sentamos em volta da mesa da sala enquanto a garotinha brinca com seus brinquedos no chão.
Cerca de 10 minutos depois, Robin e Donna chegam.
- Oi, amor. - Donna me cumprimenta.
Amor...
Seu cabelo agora chega às suas costas. Seu rosto é mais adulto.
- Oi, meu bem. - A cumprimento.
- Oi, irmão. Beleza? - Robin se aproxima. Seu cabelo está preso em um coque, a bandana presa em seu pulso.
- Beleza, e você?
- De boa.
Pegamos suco para todos e nos sentamos novamente.
- Então, o que traz vocês aqui? - Pergunta Robin.
- Precisamos conversar com vocês. Gostaríamos de acompanhar que a família está completa agora. Estamos todos aqui...
- Hm... Parece sério. - Diz Gwen.
- É... É sério.
- Gente, fala logo, pelo amor de Deus. - Diz Donna.
Concordo com a cabeça.
De seu bolso traseiro, Mary tira um teste de gravidez.
Um teste de gravidez positivo.
Ela o coloca na mesa. Eu o pego.
Me levanto rapidamente.
- Está grávida? Você está grávida de novo? - Não consigo esconder um sorriso.
- Meu Deus! Parabéns! - Donna corre para abraçá-la.
- Mais um sobrinho para a titia cuidar! - Gwen diz animada.
- Mais um? Estão planejando montar um time de futebol? - Robin pergunta sorrindo irônico.
- Robin! - Dou um tapinha em seu ombro.
- Estou brincando. Um brinde ao nuevo hijo da família! Um brinde aos Blake! - Levantamos nossos copos e brindamos.
Um ruído aparece.
Todos nós nos viramos para televisão.
Ela sintoniza em um canal.
- Hoje completam exatamente 10 anos desde o último assassinato cometido pelo denominado "The Grabber". Há 10 anos, o suspeito principal era preso. Ele foi levado à delegacia da cidade e lá confessou seus crimes. A polícia encontrou duas das crianças sequestradas em seu porão. Maryann Blake e Vance Hopper. Ele foi condenado a pena de morte por injeção letal... - A notícia continua, porém, desligo a televisão o mais rápido possível.
- Acho que preciso... - Mary começa.
Minha irmã corre para o banheiro.
- Merda. - Vance corre atrás dela.

Eles foram resgatados há 10 anos.
Essa fase de suas vidas acabara a 10 anos.
Eles só precisavam de paz.
Só precisavam viver suas vidas.
Enquanto tinham tempo para isso.
Me jogo no sofá.
Aquele assunto acaba com qualquer um de nossa família.
Faz com que queiramos sumir.
Aquilo assombra nossa família até hoje.
Não é para menos, afinal, a sorte não estava ao lado de Mary e Vance.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora