𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance Hopper

XIII.

Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ...

    Vance estava sentado no chão há horas.
    Seu coração doía.
 
    De longe, ele observava Mary.
    Todos os seus momentos juntos passavam em sua cabeça.
    A única coisa que ele queria naquele momento era que ela acordasse, que ela o abraçasse e dissesse que tudo ficaria bem, que ela o amava.
    Se ela não acordasse, Vance não aguentaria mais.
    Ele quebraria a garrafa d'água entregue pelo mascarado e faria o que fosse necessário.
    Vance era feito de vidro e estava prestes a quebrar.
    Mary era sua âncora, seu colete salva-vidas.
    Ela precisava acordar.

    Vance pensou no dia que eles foram para o fliperama juntos pela primeira vez.
    Ele pensou no dia que se beijaram pela primeira vez.
    Pensou no dia que ele disse "eu te amo" pela primeira vez.
    Pensou no dia que ela disse "eu te amo" pela primeira vez.
    Suas palavras estavam congeladas na mente de Vance.
    Vance se lembrou do dia em que soube que estava apaixonado.
    Se lembrou de como Mary o deixou.
    Uma carta.
    Ela não olhou em seus olhos.
    Ela terminou com ele através de uma carta entregue por Gwen.
    Mary sabia que se Finney entregasse a carta, Vance seria capaz de bater nele, apenas por ele entregar aquela carta a ele.
    Vance nunca bateria em Gwen.

    Vance se lembra exatamente de como a carta foi escrita.
    Lembra-se exatamente de como Mary partiu seu coração.

    "Oi, meu amor.

    Estou escrevendo isso no dia 26 de novembro de 1977.
    Você se lembra do que aconteceu. Você estava lá.
    Acredite em mim, eu nunca quis que você visse aquilo. Se eu pudesse, apagaria a sua memória. Se eu pudesse também apagaria a minha.
    Minha mãe morreu.
   Ela se matou.
   Aquilo matou a mim também.
   Eu preciso de tempo.
   Preciso de tempo para mim.
   Preciso de tempo para minha família. Preciso colar os pedaços que sobraram dela.
    Preciso cuidar de Terrance para que ele não mate seus filhos enquanto está bêbado.
    Vance não ache que eu não o quero mais. Não é isso...
    Vance eu nunca amei alguém como eu amei você.
    Ninguém nunca fez meu coração acelerar como você fez.
    Ninguém nunca me fez tão feliz quanto você, Gwen, Finney e minha mãe fizeram.
    Escute Can't Help Falling In Love pensando em mim, pois eu escutarei pensando em você.
    Não quero apenas dar um tempo. Não quero lhe dar esperança.
    Vance, estou terminando com você.
    Não se preocupe com nosso relacionamento, se preocupe com minha vida.
    Vance Hopper eu amo você.
    Sempre amarei."

    Com apenas uma carta tudo foi destruído.
    Todo o amor que eles haviam construído.
    Tudo.
    Eles poderiam ter tudo, e naquele momento, não tinham nada.
    Nada além de machucados, sangue, suor e lágrimas.
    Nada além de memórias embaçadas e corações partidos.
    Nada.

    Ele tentava dizer a si mesmo que não ligava tanto, mas nada o machucou tanto quanto o amor.
   
    Eles estavam no fundo do poço, e o mascarado seria a pessoa a quem lhes entregaria uma pá.

    Vance se lembrava muito bem de como foram os primeiros dias depois do término.
    Muito trabalho na oficina de seu pai, bebidas, música alta, lágrimas e socos.
    Vance nunca se envolveu em tantas brigas quanto naquela semana.
    Ele brigava com mais de quatro garotos ao dia.
    Ganhou todas as brigas. Havia tanta raiva e tristeza acumulada nele...
    No final de semana, Vance foi levado ao hospital. Estava tão machucado que mal conseguia andar.
    Mary foi visitá-lo, porém enquanto ele dormia. Ela não queria que ele soubesse que ela estava lá. Ele só soube pela manhã.
    Ele sabia que ela se importava.
    Sabia que ela queria falar com ele.
    Sabia que ela queria beijá-lo.
    Sabia que ela queria amá-lo.
    Mas ela não o fez.
    Ela não fez o que mais queria, e agora, estava morta.
    Vance jurou a si mesmo que se Mary morresse, ele morreria.

    A única coisa que Vance queria era dançar com ela novamente.
    Bater nos garotos que diziam que ele a traia, pois ele nunca seria capaz. Ele não queria bater nos garotos que fizessem piadas com sua morte.
    Ele queria que ela o beijasse.

    Queria que ela acordasse.

    Ele esperou 14 anos para conhecê-la.
    Esperou 1 ano para se aproximar, mas não para se apaixonar.
    Esperou 2 meses para se declarar.
    Esperou 2 meses para beijá-la.
    Esperou 1 mês para pedi-la em namoro.
    Não esperou sete meses para ela terminar com ele, pois ele nunca quis que ela fizesse isso.
    Ele precisou de 2 meses para ter coragem para pedir para sair com ela.
   
    O que seria mais um pouco?
    Ele esperaria 1.000 anos se fosse preciso.

    A quem você está enganando, Vance? Você sabe que ela está morta.
    Você sabe que ela não vai acordar.
    MORTA.
    M-O-R-T-A.
    Morta, Vance. Morta.

    Vance se levantou.
    Ao lado do colchão estava a garrafa de vidro.
    Suas lágrimas o cegavam.
    Ele olhou para Mary, seu rosto estava sereno e indecifrável.
    A pele pálida, quase tão branca quanto seus lábios.
    Ele se abaixou e pegou a garrafa.
    Vance a jogou contra a parede.
    O coração partido em mil pedaços.
    As lágrimas escorrendo por seu rosto.
    Ele caminhou até os cacos de vidro e pegou um deles.
    Não havia pressa.
    Não havia desespero.
    Não havia esperança.
    Ele voltou para perto de Mary e se sentou ao seu lado, virado de costas para a garota, as costas apoiadas no colchão.
    O objeto sólido e cortante encostado em seu pulso.
    Ele só precisava puxá-lo de um ponto à outro.
    Não haveria dor.
    Não haveria sofrimento.
    Haveria Mary.
   
    Há dias atrás, ele havia prometido à Mary que se ela morresse, ele sairia de lá por ela. "Sem olhar para trás."
    Vance quebrou sua promessa.
    Quebrou sua promessa sem olhar para trás.