L.

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Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, Billy andava de um lado para o outro.

    — Eu vou ligar para ele. — Ele anuncia.
    — Vai?
    — Vou.
    — Ele precisa ligar. Se não ligar, o garoto vai abrir a porta. Ele está lá, esperando. — Bruce diz.
    — Com o cinto. — Conclui Mary. Todos no cômodo sentem seus pelos arrepiarem.
    — É. — Vance encerra.
    — Ele está indo até a porta! — Griffin volta até eles, nervoso.
    — Calma Griffin. Vamos impedir ele de subir. — Mary se abaixa para falar com ele, depois o abraçando.
    — Vai, ligue! — Vance o apressa.
    Billy tira o telefone do gancho e o coloca em cima da caixa. Não precisa colocá-lo perto de seu rosto para Finney ouvir.
    Finney se virou para trás, os olhos arregalados. Ele hesitou em correr até o telefone.
    O tirou do gancho e o colocou em seu ouvido.
    — Alô?
    — Não suba as escadas.
    — Por que não?
    — É uma armadilha.
    — Você é o Bruce?
    — Não.
    — O quê? Eu acabei de falar com ele.
    — Eu não conheço nenhum Bruce.
    Aquilo era uma mentira e uma verdade ao mesmo tempo.
    Billy não se lembra de nenhum Bruce. Só o conheceu após a morte.
    Bruce cruza seus braços e o olha curioso.
    — Ele joga baseball.
    — Não jogamos baseball aqui.
    — Quem é você?
    — Eu não me lembro.
    — Você... Jogava futebol na escola?
    — Eu entregava jornal. — Billy recorda.
    Os pensamentos de Finney se seguem até todas as crianças desaparecidas.
    Griffin — O mais novo.
    Vance — Valentão, ex-namorado de Mary.
    Mary — Irmã e responsável.
    Bruce — Jogador de baseball, colega.
    Billy — Jornaleiro.
    — Billy. Você é o Billy Showalter.
    Billy. Billy. Billy. Billy. Billy. Billy.
    Billy. Billy. Billy. Billy. Billy. Billy.
    Billy. Billy. Billy. Billy. Billy. Billy.
    Billy. Billy. Billy. Billy. Billy. Billy.
    Billy. Billy. Billy. Billy. Billy. Billy.
    Billy. Billy. Billy. Billy. Billy. Billy.
    — Não...
    — É o Billy.
    O garoto olha de um lado para o outro, confuso com suas memórias antigas.
    — Não suba as escadas.
    — O que ele está fazendo?
    — Esperando. Está do lado de fora com a porra do cinto! — Billy se alterou. Finney mexeu seus ombros como se tivesse se assustado. A respiração acelerada. — Ele disse que não pode sair. Se tentar, ele vai te castigar. Vai te bater até você desmaiar, e dói, garoto. Dói demais.
    Flashs perturbavam todos lá.
    Todos ainda possuíam as cicatrizes em seus corpos.
    — Você vai chorar. Vai implorar para ele parar. Todos nós imploramos.
    Todos estavam agoniados.
    Vance se lembrou de Mary sendo espancada em sua frente. De sua cabeça batendo na quina do balcão. Se lembrava de vê-la desmaiando.
    Ele segurava uma das mãos de Mary, nervoso. Ela retribuía o gesto, aflita.
    Mary se lembrava do borrão sentado ao seu lado na cama.
    Se lembrava de suas mãos entrando por debaixo de seu sutiã. A tocando.
    Ela olhou para o cacheado, que já a olhava.
    A garota soltou sua mão, se desequilibrando.
    — Ei. — Ele tentou puxá-la.
    — Não...
    Ela tropeçou, caindo sentada no chão.
    Bruce se aproximou deles.
    — Ele...
    — Eu sei... Eu sei. Ele não está aqui. Não pode nos machucar mais. — Ele tentou acalmá-la. A respiração da garota permanecia desregulada.
    — Estamos com você, Mary.
    — Não me chame assim... E-Eu não me lembro de praticamente nada.
    Griffin se levantou do canto contrário do cômodo e caminhou até a garota.
    Ele se sentou ao lado dela e puxou sua mão para si.
    — Ele não está aqui... Vamos ficar bem.
    — Vamos ficar presos aqui para sempre. — Ela disse, em meio as lágrimas.
    — Não... Deve haver um lugar. — Ele rebateu, calmo.
    Bruce e o loiro se entre olharam.
    — Deve haver um lugar bonito. Algum lugar bom, onde seremos felizes.
    — Garoto... — Ela começou, a voz chorosa.
    — Nós não merecemos isso, Mary.
    Por algum motivo, o seu nome não soava estranho. O menor o pronunciava com pureza.
    — Nós somos novos demais. — Ele finalizou, se virando para frente.
    — Por que eu não me lembro de nada? Vocês estão dizendo meu nome, mas nada acontecesse.
    — Você não está se permitindo lembrar de nada. Está em negação. — Bruce afirmou, assertivo.
    — O quê? Por quê?
    — Talvez você tenha passado por muitos traumas. Talvez seu cérebro não se permita lembrar.
    — Mas eu estou morta. Por que meu cérebro funciona?
    — Olha, não faça perguntas difíceis, ok?
    — Mary, dê a si mesma um tempo. — O loiro segurou seu rosto, sem pensar.
    Ela segurou sua mão e olhou em seus olhos.
    Seus olhos.
    Ah... Seus olhos...
    Azuis como o oceano.
    Lhe traziam e a apresentavam à paz eterna.
    Ela soltou sua mão e segurou seu rosto.
    Bruce os olhava, confuso.
    — Eu me lembro de poucas coisas... Mas eu me lembro de você. — Ela revelou, o assustando.
    Vance não queria revelar que também se lembrava dela. Muito mais do que gostaria.
    Lembrava de vê-la nos corredores da escola.
    Lembrava de a observar escondido na biblioteca.
    Lembrava de sonhar com o dia em que a beijava pela primeira vez.
    Lembrava de beijá-la pela primeira vez.
    O paraíso.
    Naquele dia, ele teve o real sentimento de entrar no paraíso.
    Mary se lembrava do dia em que os dois faltaram todas as aulas apenas para ficarem juntos.
    Eles foram dormir pela manhã, o sol já subia no céu.
    Quando acordaram, estava anoitecendo.
    A chuva deixava o céu nublado.
    Seu quarto estava abafado, porém, o vento frio que vinha de sua janela a fazia arrepiar.
    "Vance?" — Ela o balançou na cama.
    Só percebeu estar sem blusa quando notou que ele não usava sua camiseta.
    "Vem, levanta. Vamos tomar banho. Você está suando."
    Ele a obedeceu e os dois se levantaram.
    Ele reclamou da luz forte, escondendo seus olhos com as costas de mão.
    Mary riu, ligando a torneira da banheira.
    Vance tirou suas roupas e entrou na banheira.
    Ela se levantou e pegou algumas coisas para limpas os machucados de seu rosto.
    "Ai, ai."
    "Desculpa."
    "Não tem problema..."
    Assim que ela deixou as coisas no chão, ele a puxou para dentro da banheira, molhando o chão.
    "Vance! Por que você... O chão!"
    "E daí? É só secar."
    "Você seca."
    "Ok, eu seco, linda."
    Ela tentou manter sua postura de brava, mas não conseguiu.
    Mary sorriu, dando soquinhos em seu peito. Ele a abraçou.
    Ela o abraçou.
    — Sinto muito. — Ele a abraçou forte.
    Mary não entendia o porquê de estar fazendo aquilo, mas não podia evitar.
    Manter contato físico com o loiro a acalmava. Ela não sabia porquê.
    Merda de morte patética.
    — Eu quero me lembrar.
    — Eu também, eu também...
    — Eu me lembro de algo. — Ela sussurra em seu ouvido.
    — O quê? — Ele sussurrou de volta.
    — Eu me lembro de amar você.
   
   

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora