XLII.

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Nᴀ ᴄᴀsᴀ ᴅᴏs Bʟᴀᴋᴇ, Finney Blake se arrumava para ir à escola.

Sua irmã estava desaparecida há 288 dias.
Nove meses e quinze dias.
Finney não tinha mais esperança.
Sabia que Mary nunca voltaria...

Tentava dizer isso a si mesmo.
Em seus sonhos, um policial batia em sua porta.
Ao seu lado, Vance mantinha Mary embaixo de seus braços. Estavam machucados, mas vivos.
Isso era uma pena, porque Finney Blake não tem sonhos premonitórios como suas irmãs. Nunca terá.

- Ei Robin, acorde.
- Cinco minutos más, mamá.
- Que "mamá", o quê? Acorda menino. - Finney o sacude com minhas mãos.
- Meu Deus, que grosseria. - Ele se levanta assustado. - Me sacode assim de novo para ver se não leva um soco na boca. - Robin se deita novamente.
Ele cruza seus braços.
- Estamos atrasados.
- O quê?! - Pergunta, nervoso e bravo.
- Estamos atrasados.
- Por que não me acordou antes?
- Por que será? - Ele é irônico, saindo do quarto.
Assim que Robin sai de seu quarto, está pronto.
Ele não demorou tanto para se arrumar.
- Vamos? - Seu pai pergunta.
Assentem com a cabeça.
Vão todos para o carro.
Não têm energia pela manhã.

Assim que chegamos na escola, nos despedimos de Gwen.
Como ela é um ano mais nova que eles, não participamos de nenhuma aula juntos.
A aula de matemática começa.
- Bom, hoje vocês irão fazer alguns exercícios no livro. Eles vão aumentar a nota de vocês. Eles serão em duplas! - O professor avisa.
- Ei, Robin. - Alguém chama.
Me viro, curioso.
É Finney.
- Oi?
- Q- Quer fazer dupla comigo? - Pergunta, tímido.
Não sei porque ele é tão tímido. Passaram praticamente todos os dias juntos há mais de 7 meses.
- Claro.
Sento-me ao seu lado direito.
O professor diz que podemos começar a fazer os exercícios.
Pego meu lápis e encaro o livro.
Faço as contas que entendi. Entendi porque Finney explicou.
- Professor, eu não entendi esse exercício. - Levanto minha mão.
Ele vem até mim.
O professor começa a fazer a conta do lado da conta do livro.
Entendo tudo das duas primeiras frases.
Bom, o resto é outra conversa.
- Obrigado, professor.
- Entendeu?
- Sim, sim. É fácil.
- Vai, vamos ver se consegue fazer.
Ele dá alguns tapinhas em seu ombro e se afasta.
- Finney, é o seguinte. - Sussurro. - Eu não estou entendendo merda nenhuma. Eu tenho quase certeza que aquele professor estava falando latim.
Me viro para ele.
Ele não olha para mim ou para o livro.
Olha para outro lugar.
Lugar, não. Pessoa.
Ele olha para outra pessoa.
Donna.
Claro, a Donna. Como não pensei nisso antes?
O jeito que ele olha para ela...
Do jeito que...
Do jeito que Vance olhava para Mary.
Ah.
Aquele jeito.
Reviro os olhos, um vento frio me atinge nas costas.
- Caralho, que frio. - Reclamo.
- Olha a boca, Arellano! - O professor briga comigo.
Todos na sala riem, mas eu não olho para eles. Olho para Finney.
Ele olha para mim.
- Aqui, pega o meu casaco. Eu já estou usando um.
- Obrigado. - Agradeço.
- É poliéster. É meio que um casaco térmico.
- Legal! - Sorrio, tentando não parecer sem graça.
Visto o casaco.
- Eu não entendi essa questão. Você pode me ajudar? Eu perdi ajuda ao professor, mas ele fala tão embolado que parecia meu pai bêbado.
Finney me encara, tenso.
- Robin.
- Ele está atrás de mim, não é?
- Mais ou menos isso.
Me viro.
O professor me olha de cima, os braços cruzados.
- Bom dia, professor. Como vai a sua manhã? - Sorri.

Eu e Finney saímos da sala rindo.
- Essa foi a primeira vez que eu entendi mais de três frases do que ele disse!
- Pelo visto o professor de matemática precisa estar bravo para falar português. - Conclui Finney. Rio.
- Vamos ficar no refeitório de fora?
- Pode ser. Você me acompanha na fila da cantina?
- Tá, claro.
Vimos até o refeitório.
Finney e eu ficamos na fila para ele comprar seu lanche.
- Finn, eu vou ao banheiro, rapidinho.
- Ok.
Afasto-me.
Ando rápido até o banheiro.
Faço o que preciso e lavo minhas mãos.
Me olho no espelho antes de sair.

Quando volto para a fila, há alguns de nossos colegas em frente a Finney.
É então que o garoto entrega seu dinheiro a ele.
Sério?
- O que pensam que estão fazendo? - Pergunto.
- Hm... Oi Robin, nós só estávamos contando o dinheiro do Finney. Não queríamos que ele passasse a vergonha de chegar lá na frente e não ter dinheiro suficiente. - Explica o ruivo.
- Entendi. Já contaram, né? - Pego o dinheiro. - Que bom, não precisamos mais de vocês.
Eles me olham, nervosos.
- Vazem daqui. Vão! - Aponto para longe com desdém.
Eles se viram e vão embora.
- Obrigado. - Ele agradece, sem jeito.
- Você precisa se defender, Finn.
- Eu sei, eu sei.
Permaneço lá até que Finney compre sua comida.
Nos sentamos lado a lado em uma mesa e ele começa a comer o lanche.
- Você não vai comer? - Questiona.
- Hm? Eu não trouxe lanche e nem dinheiro.
Finney me olha durante alguns segundos.
- Aqui, pega um pedaço. - Ele parte o salgado ao meio.
- Não precisa, Finn...
- Pega.
Pego o salgado e dou uma mordida.
- Obrigado. - Agradeço. Ele não responde, apenas assente com a cabeça.
Ficamos sentados enquanto comemos e conversamos.
Donna e sua amiga passam em nossa frente.
Assisto seu olhar enquanto ele olha para ela.
O sol bate em nosso rosto. De repente, não sinto mais frio.
Tiro o casaco.
- Ei, Finn. - O entrego.
- Ah, valeu. - Ele dá um sorriso simples.
O sinal toca.
Voltamos para a sala.
Assistimos às duas últimas aulas sem conversar tanto.
De qualquer jeito, nos falaremos mais tarde.
Minha mãe precisou viajar a trabalho e não pôde me levar. Ainda passarei a semana inteira na casa deles. É segunda.
Durmo sentado durante algum tempo.
O sinal toca novamente, agora, nos liberando.
Junto meu material e saio da sala, esperando por Finney.
Fico no corredor encostado em meu armário.
Quando percebo sua demora, me viro e guardo algumas coisas no armário para ele ficar mais leve.
Finn para ao meu lado, nossos armários são juntos, lado a lado.
- Espera. - Ele diz e sai.
- Tá...
Assim que fecho o armário, digo:
- Finn?
O procuro com os olhos.
Vejo ele ao longe.
Está entregando o casaco à Donna.
Ela treme de frio, como eu.
A garota agradece sorrindo.
Fica muito melhor nela do que em mim.
É só um casaco.
Engulo seco.
Finney retorna com um sorriso tímido em seu rosto.
- Vamos?
- Vamos. - Ele diz.
Caminhamos até o outro lado da escola para buscar Gwen.
Assim que a encontramos, andamos até a casa deles.
Deixamos nossas bolsas nos quartos e voltamos para a sala.
Gwen e Finney se sentam no sofá, me sento em uma poltrona ao lado.
Notamos uma atriz ruiva no filme que estamos vendo.
Os dois engolem seco. Posso ouvir Finney quase engasgar com a própria saliva.
Gostaria de dizer que ela vai ter esperança, que vai voltar, mas fazem praticamente 11 meses.
Tudo o que quero é que Mary volte, mesmo que Vance volte também.
Tudo o que quero é ver Gwen sorrir novamente.
Ela não sorri verdadeiramente há muito tempo.
Tudo o que quero é ver Finney feliz.
M̶e̶s̶m̶o̶ q̶u̶e̶ s̶e̶j̶a̶ c̶o̶m̶ D̶o̶n̶n̶a̶.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora