Tᴇʀʀᴀɴᴄᴇ Bʟᴀᴋᴇ não descreveria sobriedade como algo... fácil.Definitivamente não era fácil.
As garrafas de álcool chamavam por seu nome, sussurrando em seu ouvido.
Na manhã de um dos 31 dias de outubro, Terrance visitou o túmulo de sua falecida esposa.
Comprou flores e lá deixou.
Ajoelhou-se na frente da lápide. "Aqui jaz Corine Blake, uma amada filha, esposa e mãe. 28/10/1929 – 17/11/1977"
— Hoje é o seu aniversário. — Sussurrou, a voz trêmula. O homem juntou suas mãos e cantou: — Parabéns para você. Nessa data querida. Muitas felicidades... Muitos anos de vida. — A última frase que saiu de seus lábios esfaqueou seu coração.
Terrance pigarreou e se sentou no chão.
Não sabia como agir. Não ia lá há bastante tempo.
— Você acha que eu seja um hipócrita? — Perguntou, rindo de sua tristeza. — Por estar aqui. Gwen acha que sim. — Engoliu seco. — Eu estou tentando melhorar. Estou sóbrio há mais de um dia... — Ela sorriu de sua conquista.
Mesmo que fosse uma conquista pequena, era um grande passo.
— Vou parar de beber. Por você e por nossos filhos. Eu fui o pior marido que você poderia ter, mas eu te amei. Ainda amo. Eu acho que o arrependimento é o maior sentimento dentro de mim. — Confessou. — Não está sendo fácil... Nada fácil.
Lágrimas se formavam em seus olhos.
— Acho que tudo ficou pior quando você se foi. Mary ficou depressiva, ansiosa. Gwen e Finney eram menores, o impacto não foi tão grande quanto foi em nós... Todos esses anos, eu te amei. Mas mesmo assim não foi o suficiente. Não foi o suficiente, pois eu não soube como te amar.
As lágrimas caíram. O homem soluçou, nervoso.
— Se eu pudesse, mudaria todas as minhas ações. Mas é impossível. Não posso fazer isso. Você não sabe o quanto eu desejo que isso seja possível.
Ele respirou fundo.
O homem se ajoelhou e se curvou para a lápide, a beijando.
Ele hesitou em se levantar.
— Feliz aniversário, querida.
Se virou de costas e foi embora.
Quando chegou em sua casa, Gwen estava lá.
— O que aconteceu, filha? Por que não está na escola?
— Eu... passei mal. — Mentiu a garota, sentada no sofá.
— Mas eles não me ligaram. Não avisaram que estava vindo para casa.
— Eles ligaram, mas você não atendeu.
Ele suspirou, decepcionado consigo mesmo.
— Sinto muito, Gwen. Eu...
— Você estava bebendo? — Questionou, direta, olhando em seus olhos.
Terrance não sabia exatamente o que dizer.
— Não, filha. Eu não estava bebendo. — Respondeu à pergunta, sincero.
— Então onde estava? — Ela mexia os próprios dedos, os encarando.
— Gwen...
— Onde você estava?
— Eu estava no cemitério. — Revelou.
O olhar da garota encontrou o seu.
O ar fugiu de seus pulmões sem que ela percebesse.
Lágrimas começavam a se formar em seus olhos.
— Hoje é o aniversário dela. — Comentou.
— Eu sei... Eu sei. — Ele se aproximou.
Terrance se sentou no sofá, Gwen se afastou, assustada.
— Sinto muito. — Sussurrou.
Gwen se aproximou após notar a falta do cheiro de álcool.
— Somos só nós dois. — Murmurou, abaixando sua cabeça. As lágrimas quentes escorriam por seu rosto.
— Não, não. Mary e Finney vão voltar. Eles vão voltar. — Ele a puxou para perto.
Gwen desabou em seus braços, agoniada.
— Estou cansada de perder pessoas. — Ela se afogava nas próprias lágrimas.
— Gwen, eu estou aqui. Sempre estarei. — Robin está aqui.
A garota assentiu com a cabeça.
Ficaram abraçados por algum tempo até que Gwen decidisse dormir um pouco.
— Ok, vá. — Disse Terrance, se recuperando.
Gwen se levantou e caminhou até seu quarto, encostando a porta.
Terrance soluçou algumas vezes e se levantou.
O homem caminhou até a cozinha e procurou por todas as suas bebidas.
As colocou em cima da pia e tirou a tampa de uma.
O forte cheiro invadiu suas narinas, fazendo suas pernas bambearem. Ele segurou a garrafa de vidro.
De seu quarto, Gwen o espiava. A porta entre aberta.
"Eu te amo, mas eu nunca vou te perdoar."
O homem virou o líquido na pia, diretamente no ralo.
O aperto em seu peito e garganta era indescritível.
Gwen suspirou, surpresa.
Na mente de Terrance se passavam todas as vezes em que feriu sua família.
Todas as vezes em sua família se estilhaçou. Cada vez mais.
Aqueles líquidos desgraçados acabaram com sua vida.
Acabaram com sua felicidade e conforto. Acabaram com tudo.
Por mais que fizesse de tudo para se reconciliar com seus filhos, nunca seria a mesma coisa.
Ele sabe que seus filhos ficam desconfortáveis perto dele. Ficam com medo.
Nunca, jamais, poderia julgá-los.Estava sóbrio há 1 dia.
1 dia, 15 horas, 23 minutos, 2 segundos.
1 dia, 16 horas, 36 minutos, 18 segundos.
1 dia, 17 horas, 58 minutos, 26 segundos.
1 dia, 18 horas, 19 minutos, 44 segundos.
1 dia, 19 horas, 2 minutos, 35
segundos.A cada hora, a cada minuto, a cada segundo, ficava mais difícil.
Passou anos bebendo quase todos os dias e agora, de repente, tudo parou.
Aquilo era ruim, mas era ótimo.
Toda vez que pensava em beber álcool, bebia um copo d'água. Aquilo era bom.
Era ótimo.
Mas suas conquistas estavam o destruindo por dentro.
Estavam o fazendo passar mal.
Sua pressão caiu, seu corpo suava.
O homem cambaleou até seu quarto e depois até seu banheiro.
Tirou seus sapatos e ligou o chuveiro. Entrou na banheira e se deitou lá.
A água — mais fria do que quente — mantinha sua temperatura estável.
Ele respirava ofegante, como se tivesse corrido.
Por um momento, pensou que não conseguiria.
Por um momento, pensou em desistir.
Por um momento, pensou em Corine.
Por um momento, pensou em Mary.
Por um momento, pensou em Finney.
Por um momento, pensou em Gwen.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.
M̶E̶ P̶E̶R̶D̶O̶E̶, C̶O̶R̶I̶N̶E̶.Desistir não era uma opção.
Nunca poderia ser.
Corine não desistiu dele.
Mary não desistiu de defender seus irmãos.
Seus filhos não desistiram de convidar Terrance para as apresentações escolares mesmo que ele nunca fosse.
Não poderia desistir deles, da mudança.
Não poderia desistir, jamais.
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𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance Hopper
Fanfiction[+16] 𝐌𝐀𝐑𝐘𝐀𝐍𝐍 𝐁𝐋𝐀𝐊𝐄 acaba por presenciar o sequestro de seu colega de sala, Vance Hopper. Para manter seu testemunho em segredo, Maryann também é levada. Agora, ela precisa lutar por sua vida. - Plágio é crime! - Sem hots...