𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance Hopper

XLV.

Nᴀ ᴄᴀsᴀ ᴅᴏs Bʟᴀᴋᴇ, Gwen desejava não ter acordado.

    Desejava não ter acordado, pois sabia que algo ruim estava por vir.
    Ela sabia exatamente o que estava por vir, e faria de tudo para impedir que aquilo acontecesse.
    Nunca iria permitir que Robin morresse.

    Finney, por sua vez, não fazia ideia do sonho da irmã.
    Não fazia ideia, pois ela não havia contado para ele.
    Não fazia ideia, pois ela estava tentando protegê-los.
    
    Assim que chegaram à escola, se despediram de Gwen.
    Nunca houve uma manhã tão tranquila quanto aquela.
   
    A calmaria precede a tempestade.

    De qualquer forma, Robin não fazia ideia do que o aguardava.

    Seus pensamentos naquela manhã foram normais, os mesmos de cinco dias para cá.

    Finney.
    Gwen.
    Finney.
    Finney.
    Qual será o almoço hoje?
    Será que a minha mãe deixa Finney dormir em casa hoje?
    Odeio matemática.
    Odeio matemática.
    Odeio matemática.
    Odeio matemática.
    Newton, eu te odeio.
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    D̶o̶n̶n̶a̶. F̶i̶n̶n̶e̶y̶ D̶o̶n̶n̶a̶ F̶i̶n̶n̶e̶y̶
    Queria que Mary estivesse aqui.
    Odeio matemática.
    Estou com fome.

    Nada fora do comum.
   
    Se Robin fosse sincero, nunca conseguiria descrever o que sente por Finney.
    É indescritível.
    É estranho.
    É incômodo.
    Não é ruim.
    É doloroso.

    Olhar para Finney e não receber seu olhar de volta, pois ele está olhando para ela o incomoda.
    Robin gosta de ficar perto dele.
    Finney faz Robin esquecer que seu pai morreu. Foi há pouco tempo.
    Ficar em casa, sozinho, é extremamente deprimente.
    Robin odeia seus próprios pensamentos. Odeia ficar preso com eles. Odeia, pois ele chega a conclusões que não quer.
    Finney o anima e o faz feliz. Mas Robin sabe que Finney está tão mal quanto ele.

    Sua mãe morreu há quase 1 ano e sua irmã desapareceu há mais ou menos 9 meses.
    Estava paranoico.
    Estava paranoico, pois tinha medo de perder sua irmã para qualquer pessoa que passasse ao lado dela.
    Tinha medo de ficar sozinho acima de tudo.
    Tinha medo de que sua irmã nunca volte.

    Naquele mês, ficaram muito mais juntos.
    Finney lembra-se muito bem do dia que chorou nos braços de Robin.
    Estava de noite. Todos estavam dormindo, até Terrance.
    O loiro estava sentado em sua cama. Encarava um ponto fixo no chão.
    Não tinha nada para fazer.
    Robin dormia no chão, ao seu lado.

    Finney estava cansado de pensar.
    Estava cansado de pensar em Mary.
    Estava cansado de pensar em Vance.
    Estava cansado de pensar que talvez um dia, Gwen o deixasse.
    Estava cansado de lembrar que sua família estava desmoronando.
   
    Porque no dia 1 de fevereiro algo morreu. Algo morreu dentro de Finney quando ele percebeu que sua irmã não voltou para casa.
    Algo morreu, pois de certa forma, ele sabia que aquela era a última vez.
    Finney esperou que ela voltasse para casa para eles poderem assistir televisão, juntos. Mas ela não voltou.
  
    Finney sonhou durante muito tempo com o dia em que Mary voltava.
    Finney sonhou com o dia em que Mary e Vance se casavam e os tiravam de casa.
    Finney sonhou durante muito tempo com o dia em que ele era feliz.
    Mas ultimamente, sua cabeça é uma bagunça.
 
    Mary.
    Vance.
    Vance.
    Mary.
    Mary.
    Gwen.
    Gwen.
    Mary.
    Mary.
    Mary.
    Mary.
    Mary.
    Mary.
    Corine.
    Mary.
    Robin.
    Robin.
    Robin. Robin. Robin.
    Robin. Robin. Robin.
    Robin. Robin. Robin.
    Robin. Robin. Robin.