V.

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M A R Y B.

Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, eu tomava banho.

O mascarado estava ao outro lado da cortina, virado para a parede, segurando uma faca.
A sensação de que vou ser esfaqueada a qualquer momento me mantém me total alerta.
Lavo meu cabelo e meu corpo.
Nunca me levei tão bem, tão rápido.
Tiro a cortina e saio da banheira.
Ele permanece virado para a parede.
A faca para trás. Ele a segura com força.
Sou obrigada a soltar a toalha para me trocar.
Coloco peças íntimas, uma camisa branca e uma calça moletom entregue por ele. Tudo entregue por ele.
Sem que ele note, me estico e toco no alto das paredes, deixando digitais.
- Coloquei minha roupa. - Digo.
Ele não me responde, apenas se vira.
Quando estou pronta, ele me segura por meu braço e me venda.
Ele me leva para baixo novamente e tira minha venda.
- Você está bem? - Pergunta Vance, preocupado.
- Sim, sim. É a sua vez.
Vance respira fundo, mas sabe que precisa fazer isso. Já fizemos há 5 dias.
Ele se afasta e acompanha o homem, que tranca a porta quando eles saem.

Me sento na ponta do colchão.
Aqui fica muito mais frio sem Vance.
Muito mais.
Espero que eles retornem.
Fico encarando o chão, a parede, o teto.
Penso em como Finney está, em como Gwen está.
Gostaria de pensar em como Terrance está, mas sinceramente, não me importo.
Penso se Finney está bem.
Se Gwen está bem.
Se Finney está sofrendo bullying na escola.
Se Robin o está defendendo.
Penso se Gwen está contando seus sonhos para alguém e se essa pessoa a está chamando de louca, dizendo que são apenas sonhos.
Penso se Finney está sendo obrigado a comprar novos lápis de cor, pois usava os meus.
Penso se Gwen está sendo mais cobrada por meu pai, pois agora é a única mulher em casa. Há 3 meses, éramos três.
Três meses.
Me mantenho tão ocupada com pensamentos sobre como fugir daqui que não penso em Finney, em Gwen e nem em Vance.
Deveria pensar em Vance.
Ele também está aqui.
Tenho certeza de que está chateado, irritado. Tenho certeza de que quer explodir.
Se conheço Vance, sei que ele quer ir para cima do mascarado toda vez que ele abre aquela porta. Toda vez que ele me toca.
Se Vance pudesse, cortaria sua garganta na primeira oportunidade.
Sei que ele não é um psicopata, mas não posso afirmar que ele não é um sociopata.
Depois de um tempo, Vance retorna.
Seu cabelo está molhado.
Fico nervosa, mas já o vi assim antes.
Suas roupas são iguais às minhas.
Ele se senta ao meu lado.
- Ele fez algo com você?
- Não. Com você?
- Não.
Ficamos em silêncio. Não sabemos o que dizer.
Estamos cansados.
Sempre fazemos exercícios antes de tomarmos banho.
Vance acha que para sairmos daqui, precisamos ao menos conseguir bater nele.
Mas... Também estamos cansados emocionalmente, mentalmente.
Ficamos tanto tempo sentados sem dizer nada que nossos cabelos já secaram.
Me jogo no colchão, caindo no mesmo.
Ele me imita, caindo ao meu lado.
- Eu quero morrer. - Revelo.
- Eu também.
Dizer isso parece libertador, mas, na verdade, é preocupante.
Rolo no colchão para perto de Vance.
Ele me abraça como se fosse automático.
Meu coração não acelera.
O seu também não.
Não é como antes.
Nunca vai ser.

Estávamos apaixonados, e agora, apenas estamos presos juntos.
Eu gostaria de beijá-lo, mas não sei se ele me aceitaria.
Não sei se ele ainda gosta de mim.
Não sei se ele me empurraria para longe.
Não quero arriscar.
Eu mesma não sei o que sinto.
E sinceramente, não quero saber.
Só quero estar com ele.

- Eu sinto falta de 1977. - Diz Vance.
- Eu também.
- Sinto falta de você.
- Eu também sinto falta de você. Tanto quanto sinto falta de mim.
Ele faz carinho em meu braço.
- Ei, você se lembra daquela vez que nós fomos jogar boliche?
- Hm... Lembro. Eu deixei a bola de boliche cair no meu pé.
- Aham. Eu tive que te carregar até o hospital porque o seu dedinho tinha quebrado.
- Foi só a gente sair do hospital para você rir de mim. Eu vou lembrar, ok?
- Para de ser dramático, foi um pouquinho engraçado.
- Engraçado? Sai para lá. - Ele me empurra para longe.
- Qual é? - Me ajoelho na cama para conseguir me aproximar. Rio.
Ele me abraça.
Seguro seu rosto.
Olho no fundo de seus olhos e não sinto nada. Isso faz meu peito doer.
Seus olhos estão indecifráveis e sem brilho.
Meus olhos começam a arder.
Seus olhos estão marejados, como os meus.
- Eu quero morrer. - Repito, já chorando.
Ele fecha seus olhos, lamentando. Lágrimas escorrem por seu rosto.
Ele me abraça forte.
Sinto meu coração se estilhaçar.
- Sinto muito. - Ele diz.
- Sinto muito.
Eu me choro por ele e por mim.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora