XLIV.

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ALGUNS MESES ANTES.
MARY B. | VANCE H.

    — Vance.
    — Essa é a última, eu prometo.
    Rio.
    Assim que ele solta meu braço, vejo as estrelas e corações que ele desenhou em minhas antigas cicatrizes.
    — São fofas... Essa estrela ficou torta, viu?
    Ele sorri.
    Vance coloca uma mão em cada lado de meu corpo e se inclina sobre mim.
    — Ah! De novo, não. — Digo rindo.
    — Por quê?
    — Minha perna está doendo.
    — Na segunda vez você não reclamou!
    Ficamos nos encarando durante um tempo.
    Rio antes de tentar me desvencilhar dele.
    Vance me segura rindo por ser bem mais forte que eu.
    Consigo ficar por cima dele.
    Ele junta nossas mãos, me segurando.
    Empurro-as no travesseiro, o prendendo.
    — Eita!
    Gargalho.
    — Normalmente, sou eu que te prendo, mas se você topar, eu topo. — Ele diz enquanto eu rio.
    Dou um soco em seu peito, ele tosse, depois ri.
    — Idiota. — Digo.
    Um grito chama nossa atenção.
    O ar escapa de meus pulmões enquanto saio de cima de meu namorado.
    Procuro as primeiras roupas que vejo à minha frente.
    Visto uma camisa de Vance e um short jeans.
    Vance só tem tempo de vestir sua calça jeans azul antes que eu abra a porta. Ele me segue.
    Corro até a sala. Então vejo de onde os gritos vêm. De Gwen.
    Finney está em cima da garota, fazendo cosquinhas na mesma.
    Robin está sentado no chão, rindo.
   — O que estão fazendo? — Pergunto, achando graça.
    — Eu não tenho ideia. — Diz Gwen enquanto ri descontroladamente.
    — Estamos com fome! — Finney se levanta. Agora Gwen pode respirar.
    — Isso é verdade. — Robin aponta para ele.
    — Onde estão nossos pais? — Questiono.
    Vance abraça-me por trás, os braços rijos em volta de minha cintura.
    — Eles saíram há algumas horas.
    — Sim. Vocês estavam "ocupados". — Robin faz aspas com os dedos e depois cruza os braços, sorrindo.
    — Pois é. Não queríamos atrapalhar. — Finney ri.
    — O que isso significa? — Pergunta Gwen, inocente.
    — Nada. Não significa nada, querida. Por que não pedimos uma pizza?
    — Pizza! — Eles comemoram.
    — Acho que o isolamento acústico do seu quarto não é o suficiente. — Sussurra Vance em meu ouvido. Meu corpo se arrepia.
    Dou tapinhas em seus braços, ele me solta.
    Caminhamos até a cozinha.
    — Fizeram as tarefas de vocês? — Pergunto, me virando para a geladeira. De lá, tiro um papel de uma pizzaria.
    Um silêncio perturba o cômodo.
    Me viro devagar para eles.
    — Pelo visto, não. Vão fazer as tarefas agora!
    — Ah não... Nós fazemos depois. — Gwen faz drama.
    — Se não fazerem, não pedirei pizza. De qual matéria é a tarefa?
    — Biologia. — Robin e Finney respondem uníssono.
    — Português. — Responde Gwen.
    — Sério? Matérias mais fáceis que essas não existem! Eu ajudo vocês. Dá tempo de fazer antes que a pizza chegue.
    — Então você vai pedir?
    — Se vocês começarem a fazer as tarefas, sim.
    Os três correm para seus quartos, em busca de suas coisas.
    Vance me abraça por trás novamente, agora, com seus braços ao redor de meu pescoço.
    Ele se encosta no balcão. Apoio-me nele, descansando meu corpo no seu.
    — Você soou como uma mãe.
    Sorrio.
    Vance se aproxima e beija minha cabeça. Eu beijo seu antebraço.
    Me viro para ele. Quando noto eles, meus olhos se arregalam.
    — O quê? — Pergunta, assustado.
    — Olhe lá. — Aponto para o micro-ondas.
    — Jesus Cristo.
    Ele se vira para mim.
    — Você é uma vampira. — Ele se aproxima, se abaixando. Quando chega perto de mim, me levanta.
    O garoto me coloca no balcão e beija-me.
    — Minha vampira.
    Sorrio entre seus lábios.
    — Não. Sério, está muito visível.
    — Um de cada lado, Mary. Sério?
    Não sei o que dizer, então rio.
    Abraço seu pescoço, permanecemos ali.
    Vance se afasta e fica ao meu lado. Me apoio nele.
    Assim que as crianças voltam, desço do balcão.
    Os três ficam de um lado do balcão, ficamos do outro.
    Não conseguimos ver nada deles da cintura para baixo. Creio que seja a mesma coisa em relação a nós.
    — Ok. O que temos aqui?
    — Sistema reprodutor... — Finney diz rápido demais, juntando seus lábios. Não entendo.
    — O quê?
    — Ele disse "sistema reprodutor". — Vance diz atrás de mim.
    — Ah.
    — Por isso vocês não queriam fazer a tarefa? Meu Deus! Como são infantis. — Gwen exclama.
    — Faz você então. Já que você é boa em tudo. — Rebate Robin, fazendo pouco caso.
    — Tranquilamente. — Responde ela.
    — O que deu em vocês? Estavam brincando agora pouco.
    — Acho que os dois têm personalidade forte. — Finney dá de ombros.
    — Concordo com Gwen. — Vance diz antes de dizer só para mim: é um assunto interessante, afinal.
    Uso meus quadris para empurrá-lo para longe.
    — Também tem sobre o sistema cardiovascular e nervoso.
    — Isso é mais fácil. — Resmungo. — E você, Gwen?
    — É só sobre crase.
    — Você consegue fazer sozinha, não é?
    — É claro. — Ela confirma, sorrindo.
    — Eu vou tomar um ar. — Vance me solta, indo em direção à porta.
    — Hm... Gwen, pode ajudar eles, caso eles precisem?
    Ela assente com a cabeça.
    Vou atrás de Vance.
    O vento frio entra em minha casa sem ser convidado. Sinto meus pelos arrepiarem.
    — O que aconteceu?
    — Hm? Nada.
    Sento-me ao seu lado.
    — Você está estranho...
    — Não estou estranho.
    — Não? Então o que está?
    — Apaixonado. — Ele responde, um sorriso se formando em seu rosto. Ele sabe que essa única palavra irá me deixar nervosa.
    O frio em meu corpo some. Agora ele se aquece sem a necessidade de tecidos para protegê-lo.
    — É? — Pergunto, sei que estou rosada. Rezo para as luzes amareladas dos postes não deixarem que ele veja.
    — Sim.
    — Eu não entendo você.
    — O que não entende?
    — Por que está tão apaixonado? Eu sei porque eu estou apaixonada. Você é inteligente, bonito, gentil, protetor, atencioso, carismático, determinado, fiel. Você é você, e eu sou eu. Sabe? — Digo, tentando entender suas decisões. Mexo meus dedos, ansiosa.
    — Não, eu não sei. Você não é só você, Mary. Você é a mulher mais empoderada e racional que eu já conheci. Você é observadora, sagaz, afetiva e corajosa. E ah... A sua beleza. Mary, eu não tenho palavras para descrever o quão perfeita você é. Você é a garota mais bonita que eu já vi. —Ele faz uma pausa para respirar fundo. — E desde que te vi pela primeira vez, não tive olhos para mais ninguém.
    — Ninguém?
    — Nem garotas, nem garotos.
    — Garotos?
    — É.
    — Hm... Mas você namorou a Ailyn após me conhecer.
    — A Ailyn foi só mais uma garota que passou pela minha vida. Nunca vai ser como você. Eu nunca amei Ailyn.
    — Eu nunca amei Jack. Nunca amei ninguém como amei você.
    — Eu nunca amei ninguém como amei você... Acho que estamos quites.
    — Estamos. — Rio, me apoiando em seu ombro.
    — Eu te amo, sabia?
    — Sabia. — Tento esconder meu sorriso.
    — Convencida.
    — É verdade. Foi difícil conquistar esse coração de gelo.
    — Gelo?
    — Eu derreti ele.
    — Derreteu mesmo, mas nunca vai deixar de ser gelo.
    — Nunca vai... Eu sei.
    — Só se você me deixar.
    — Te deixar?
    — Sim. Ele seria congelado novamente.
    — Eu nunca te deixaria, Vance. — Eu prometo.
    — Mary... Um dia, você vai me ver. Acredite em mim. Nesse dia, você vai me deixar.
    — Não vou. — Me afasto e seguro seu rosto. — Olhe para mim.
    Vance demora a olhar em meus olhos.
    — Eu te amo. — Digo com convicção. — E eu não vou te deixar.
    — Ok, tá bom. — Ele diz. Não sinto firmeza em suas palavras.
    O beijo.
    — Nós não conversamos tanto sobre coisas banais. — Ele contesta.
    — "Banais" como?
    — Qual a sua cor favorita? — Ele pergunta, curioso.
    — Hm... Verde. Verde musgo escuro, para ser exata. Acho que vermelho bordô também.
    — As minhas são laranja e azul.
    — Laranja como as laranjas?
    — Não... Como o seu cabelo. — Ele brinca, como sempre.
    — Azul?
    — Como os seus olhos.
    — Hm. — Ajo como se eu não ligasse para suas palavras, mas meu coração acelera enquanto eu abaixo minha cabeça e tento esconder um sorriso.
    Não consigo evitar olhar para ele como uma boba apaixonada.
    O amo tanto que nunca seria capaz de descrever meu amor.
    O beijo novamente.
    — Eu te amo. - Sussuro.
   Ele sorri.
    — Eu sei.
    Rio.
    — Vamos entrar?
    — Aham. — Ele murmura.
    Quando voltamos para dentro, a temperatura calorosa nos recebe.
    — Estamos quase terminando. — Anuncia Robin.
    — Eu vou ligar para eles.
    Ando até o telefone com o papel entre os dedos.
    Disco o número deles e espero que eles atendam.
    — Alô?
    — Alô? Como posso ajudar?
    — Eu gostaria de fazer um pedido...

 
    Já comemos. Estamos deitados em colchões no chão.
    Vance e eu dividimos um colchão assim como Robin e Finney.
    Gwen, por sua vez, tem um colchão inteiro só para si.
    Vance me abraça, mantendo-me aquecida.
    Minha família está completa agora. Faltavam apenas Vance e Robin.
    Apenas eles.
    Esse é o verdadeiro sentimento de pertencimento. Esse é o meu lar e eu nunca fugirei daqui.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora