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Nᴀ ᴍᴀɴʜᴀ̃ ᴅᴏ ᴅɪᴀ 30, Gwen acordou.

    Olhou para a sua janela, o sol iluminava seu quarto.
    Em questão de segundos percebeu não ter sonhado.
    Levantou-se de sua cama e correu até sua casinha de brinquedo.
    A abriu, pegou sua bíblia e uma imagem de Maria — mãe de Jesus.
    — Jesus, mas que porra? — Esbravejou, estressada. — Sério, mas que porra?! Eu peço ajuda e você me dá pistas que não significam nada. Aí hoje eu acordo sem nenhum sonho? Sério, qual o seu problema?! Deixou o sequestrador levar meus irmãos! Não venha me dizer que não se envolve, porque vem me dando esses sonhos.
    Depois de brigar com Jesus, Gwen parou para pensar.
    Talvez Jesus não existisse.
    — A não ser que...
    Ela respirou fundo, lágrimas se formando em seus olhos.
    — Vai ver você não existe.

   
    Em seu quarto, Terrance encarava uma foto.
    Uma foto que havia tirado de seus filhos e... Robin.
    Lembra-se fracamente daquele dia.
    Sua visão estava turva e sua cabeça estava doendo. Resultados de sua bebedeira do dia anterior.
    Muitas de suas memórias são assim, rasas.
    Se não estivesse bêbado, se — naquela época — ligasse para a sua família, talvez estivesse sóbrio o suficiente para fazer seus filhos felizes.
    Sentou-se na cama, a foto entre seus dedos. Naquele momento, sua cama parecia muito mais fria e consistente.
    Respirou fundo, as costas curvadas.
    Colocou seus dedos nos cantos da foto para não tampar o rosto das crianças.
    Finney estava no meio. Gwen estava ao seu lado, coberta por um de seus braços. Robin estava do lado oposto.
    Terrance desceu seu olhar pelas roupas das crianças, tentando se lembrar de detalhes daquele dia turvo.
    Assim, notou algo.
    Finney e Robin mantinham suas mãos juntas. Estavam de mãos dadas.
    O homem pigarreou, se engasgando em sua saliva.
    Aproximou a foto de seus olhos, questionando a si se aquilo era real ou talvez uma invenção de sua mente recentemente sóbria. Quando percebeu a realidade, a afastou.
    Respirou fundo. Aquilo nunca havia se passado por sua mente. Nunca havia pensado que os dois eram mais próximos que apenas amigos.
    Seus pensamentos sobre seu filho normalmente eram: "                           ".
    Nunca pensou em nada do tipo.
    "Ele é meu amigo."
    "Ele é como um irmão."
    Há dias atrás, se irritaria. Quebraria coisas e brigaria com sua filha por fazer qualquer pergunta sobre o assunto. Mas agora, Terrance se levanta e caminha até sua cozinha. Pega um copo d'água e o bebe, tentando digerir a ideia.
    Terrance não cresceu ouvindo sobre esses assuntos. Não cresceu em um lugar onde pessoas do mesmo gênero se amarem romanticamente fosse aceitável.
    Mas... Eles estavam felizes.
    Olhou novamente para a foto.
    Eles estavam felizes.
    Algumas semanas atrás Terrance achou no quarto de seu filho um diário. Páginas haviam sido arrancadas.
    A única frase presente no desgastado é puído caderno era: tenho medo de que papai fique bravo.
    Nunca soube do que se tratava, agora ele sabe.
    Sabe porque Finney se manteve distante desde que a foto foi tirada.
    Estava com medo.
    Estava com medo de apanhar.
    Estava com medo de ser espancado.
    Estava com medo de ser internado em um hospital psiquiátrico.
    Estava com medo de nunca mais ver Robin.
    Talvez um hospital psiquiátrico fosse demais, mas sua ansiedade não o deixava pensar o contrário.
    Terrance não sabia o que pensar. Talvez fosse um delírio, mas seus delírios nunca pareceram tão reais quando aquele.
    O que importava era a felicidade de seu filho.
    Beliscou seu braço e perguntou a si mesmo, novamente: isso realmente está acontecendo?
    Estava disposto a aceitá-lo e apoiá-lo, mas antes precisava mandar seu eu anterior para o inferno.

   

    Robin sentia seu peito mais apertado a cada momento.
    Havia conversado com sua mãe, a mesma não gostou tanto da ideia, mas sempre apoiaria seu filho, pois o ama.
    Naquele momento, queria que Mary estivesse ali para dizer: se acha que este dia está ruim, talvez o próximo seja pior.
    Ela estava certa.
    Cada dia que se passava era cada vez pior.
    Estava a mais de 3 dias sem ver os escuros e belos olhos de Finney Blake. Isso é sinceramente torturante.
    É torturante passar o dia inteiro pensando em alguém e não poder vê-lo.
    A sensação de perda se aproximava a cada minuto.
    O medo de que nunca mais poder falar com ele assolava seu coração.
    Os pesadelos onde Finney era sequestrado
    DE NOVO e
    DE NOVO e
    DE NOVO e
    DE NOVO e
    DE NOVO e
    DE NOVO eram cada vez mais recorrentes, perturbando suas noites e o deixando exausto.
    Estava começando a se cansar da esperança.
    Mary foi levada há muito tempo, mas não é como se ele fosse se esquecer do dia 1 de fevereiro daquele ano.
    Mary e Vance eram apenas um antigo casal afastado. Eram apenas dois adolescentes com suas diferenças e coincidências. Se amavam. Não eram conhecidos por tantas pessoas, apenas pelo pessoal da escola.
    De repente, seus rostos estavam em notícias, jornais, revistas, cartazes de procura e em homenagens.
    Pessoas tinham certeza de que eles voltariam, outras tinham certeza de que nunca mais veriam seus rostos pelas ruas de Denver.
    Não é como se fosse se esquecer dos olhos azuis de Mary e o cabelo loiro acinzentado de Finney.
    Não é como fosse se esquecer das piadas ruins de Mary e a coragem de Vance.
    Por qualquer lugar que passava, se perguntava: por que ainda estou aqui?

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora