Epílogo II

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FINNEY B. | GWEN B.

    O sol brilhava só no céu de Denver. Estava cedo — talvez cedo demais — quando Gwen se levantou.
    A garota caminhou até o quarto de seu irmão e não ficou surpresa ao vê-lo acordado, olhando para o teto.
    Finney não dormia durante mais de 5 horas há dias. Olheiras começavam a se formar ao redor de seus olhos.
    — Finney? — Chamou.
    — Sim? — O garoto se apoiou em seus cotovelos, a procurando com os olhos.
    — Você quer andar por aí? — Perguntou. — Se você não quiser, eu posso ir sozinha.
    — Não, não! Eu vou. — Finney disse, assustando sua irmã. Ele se levantou, e caminhou até seu banheiro, saindo de lá com outras roupas.
    Gwen já havia trocado de roupa, então foi colocar seu tênis.
    Os dois saíram de casa, começando a vagar pela cidade.
    Denver parecia extremamente mais segura sem Albert, mesmo que Finney soubesse que aquilo não passava de uma ilusão.
    O garoto sabia haver alguém pior a cada beco, a cada bairro, a cada rua. Sempre haverá alguém pior.
    Enquanto andava por uma das ruas, Gwen avistou um cachorro ao longe. Estava deitado na sarjeta, sujo e muito magro.
    — Meu Deus... — A garota cobriu a boca, atônita.
    Finney, sem palavras, aproximou-se do cachorro. Abaixando-se ao seu lado e fazendo carinho no mesmo, logo notando sua respiração pesarosa.
    — Ele está vivo.
    — Ele tem uma coleira ou algo assim? — Questionou Gwen, fazendo carinho no animal, porém com medo de machucá-lo.
    — Ah... Sim. — Finney olhou. — Tem o número do dono, e o nome...
    — O que foi?
    Finney leu o número, em seguida lendo o nome:
    — Olivia Showalter.
    — É o cachorro do Billy. — Concluiu Gwen.
    — Acho que ele não conseguiu achar o caminho para casa. Os pais de Billy deveriam estar muito ocupados com os cartazes e tal.
    — Consegue carregar ele? — Ela perguntou.
    — Por quê?
    — Vamos levar ele para casa.
    — Terrance não vai permitir.
    — Só carrega ele, tá?
    — Sim, senhora. — Finney se abaixou, pegando o Golden Retriever em seus braços.
    Os dois voltaram para casa, nervosos. Terrance estava acordado, tomando leite gelado. Parecia aflito, ansioso.
    Assim que a porta da sala foi fechada, o homem virou para eles. Seu coração estava acelerado e suas mãos tremiam.
    — Onde estavam? — Ele andou rapidamente até Finney, segurando seu rosto e checando sua temperatura.
    — Fomos caminhar. — Finney respondeu, afobado.
    — Vocês me assustaram!
    — Desculpa, papai. — Disse Gwen, abaixando sua cabeça.
    — Não, não, tudo bem. — Tranquilizou. — Só não façam isso de novo, tá?
    Os dois assentiram com a cabeça.
    — Espera, isso é um cachorro? — Ele apontou para o animal nos braços de seu filho.
    — É o cachorro de Billy, o encontramos na rua.
    — Billy... Showalter?
    — Sim. Precisamos ajudar ele.
    — Filha, você sabe, eu não quero animais na minha casa.
    — Pai, por favor. — Insistiu Finney.
    Terrance o encarou, colocando suas mãos na cintura.
    — Eu tenho 2 condições. — Ele disse, prendendo a atenção de seus filhos. — Nós o levaremos ao veterinário e depois ligarmos para a mãe de Billy. Não podemos simplesmente ficar com o cachorro dela.
    — Tá, claro. — Eles concordaram.
    Assim foi feito.
    Hakim — o cachorro — foi levado ao veterinário, onde foi tratado devidamente. Terrance ligou para Olivia e eles conversaram sobre a situação. A mesma revelou que não possuía condições para manter Hakim, mas disse poder dar a eles as coisas que já havia comprado para o cachorro. Terrance foi buscar as coisas do animal.
       Para a felicidade de todos, Hakim se recuperou rápido. E para a surpresa de Finney, Terrance aceitou a ideia. No segundo dia da estadia do cachorro, já o tratava como um amigo de anos.

    Ao meio-dia, policiais bateram à porta de Finney. Disseram que precisavam falar com o garoto. Consigo, traziam coisas de Mary e algo que Finney insistiu que eles retirassem de lá. O telefone preto.
    Haviam coisas lá que os pais dos outros garotos quiseram "se livrar". Estavam tristes demais e não aguentavam olhar para aquelas coisas, então concordaram a entregá-las à Finney.
    No meio de todas aquelas coisas, Finney encontrou as alianças de Mary e Vance, achando também a gargantilha do garoto.
    Finney já havia guardado algumas coisas que achou na cena do crime do dia do sequestro de Mary, como seu colar arrebentado. Fez questão de guardar tudo.
    O telefone foi colocado no meio da mesa da cozinha e encarado por horas. Os policiais haviam ido embora.
    Sentados no sofá da sala, os garotos chegavam a um acordo.
    — Nós não temos assuntos a resolver, ela tem. Mary deve fazer a última ligação. — Billy disse.
    — Como você sabe que existe uma última ligação? Todos nós falamos no telefone, e o Finney cortou a linha. — Contestou a ruiva.
    — Olha, Billy conseguiu fazer duas ligações porque não falou nada na primeira. Isso quer dizer que temos um tempo limitado. Vance foi o único a usar todo o tempo que tinha. — Rebateu Bruce. — Então, deve restar um tempo.
    — Bruce, nós estamos mortos. Isso não é matemática ou coisa parecida. Não creio que exista uma lei.
    — Então, porque você não descobre? — Vance apontou para o telefone.
    Mary se levantou do sofá e caminhou até o objeto, nervosa.
    Assim que ela tirou o telefone do gancho, do outro lado, ele começou a tocar.
    Sem hesitar, Gwen, atendeu o telefone. Gwen e Finney podiam ouvi-lo tocar, Terrance não.
    — Mary?! — Chamou.
    — Bingo! Vejo que- A garota riu.
    — É ela? — Finney questionou, vendo a feição triste de sua irmã.
    — Sentiu saudade?
    — Mais do que qualquer coisa. — Ela respondeu, eufórica.
    — Você ainda é boa em adivinhação. — Mary sorriu, orgulhosa.
    — Sempre foi uma das minhas melhores habilidades. Eu te vi... no cemitério.
    — Eu não podia perder os seus discursos.
    — Como você foi até lá? Finney disse que vocês estavam presos na casa.
    — Nós estávamos. Só poderíamos sair de lá se o dono da casa morresse, e eu o matei.
    — Então foi você? Finney disse que foi você, mas eu não acreditei. Era impossível, achei que ele estivesse te culpando para não assumir que matou alguém.
    — Não... Finney não mente, só quando é necessário.
    — Sim, hm... Eu sei.
    — Eu preciso falar com o papai. — Em anos, ela não havia o chamado pelo nome.
    — Eu posso passar o telefone para ele.
    — Ele não consegue me ouvir se eu falar no telefone, não tem mediunidade. Eu preciso que você fale por mim.
    — Claro.
    — Repita minhas palavras, ok?
    — Ok.
    Mary aproximou-se Gwen e segurou seus ombros com suas mãos. De repente, Gwen passou a sentir uma dor insuportável em sua garganta. Quando repetiu a primeira palavra de Mary, sua voz já não era a mesma.
    Terrance levou a mão à boca, tentando esconder seu espanto e incredulidade. Algo que ele não poderia esconder era seu coração acelerado.
    Durante todos aqueles anos, ele jurou para si mesmo que aqueles sonhos não passavam de sonhos. Que aquelas visões eram coisas da cabeça de sua esposa e filhos, mas naquele momento. Ele ouviu com os próprios ouvidos e viu com seus próprios olhos. Agora, ele jamais poderia negar a existência do outro lado.
    — Oi, pai. — A voz de Mary soava estranha quando saia das cordas vocais de Gwen.
    O corpo de seu pai se tornara completamente rígido. Ele soava frio.
    — Eu não acho que tenho muitas coisas a dizer, eu tenho pouco tempo, então serei breve. — A garota respirou fundo, como se não respirasse há meses. — Você disse que se pudesse falar comigo por uma última vez, diria: filha, eu estou orgulhoso de você. — Ela relembrou a fala, o levando de volta àquele momento. — Mas é minha vez de dizer, porque eu estou orgulhosa de você. Estou sim. Você mudou, mudou por nós. Durante toda a minha vida eu desejei que você mudasse e agora que finalmente aconteceu... Bom, eu acreditei em você, pois eu sabia que nunca seria tarde demais. E não é tarde demais para dizer que eu te amo e te perdoo.
    Lágrimas escorriam dos olhos enquanto ele pensava no que falar.
    — Obrigado, minha filha. Você não sabe o quão importante isso é para mim. — Ele disse com certa dificuldade.
    Mary sorriu, e por um momento, aquele vazio em seu peito parecia parcialmente preenchido.
    Finney pegou o telefone da mão de sua irmã e o aproximou de seu ouvido. Gwen balbuciou algumas palavras, sua voz havia voltado ao normal.
    — Está sendo difícil... Lidar com tudo sem você.
    — Você ainda acredita em Deus?
    — Acho que sim. — Finn respondeu, incerto.
    — Então Deus nunca lhe daria uma cruz que você não é capaz de carregar.
    — Por que você perguntou se eu ainda acreditava em Deus?
    — Porque se você não acreditasse, eu falaria outra coisa. — Ela revelou, o fazendo rir.
    O telefone da cozinha começou a ligar, Terrance se levantou e caminhou até ele, secando suas lágrimas.
    Mary parou de falar para prestar atenção na ligação. Seu chefe precisava dele para um trabalho rápido, então logo ele voltaria.
    Terrance se despediu de seu chefe e se virou para seus filhos.
    — Johnson me pediu para ajudá-lo com algo no trabalho. Eu volto logo. — Ele se aproximou e seu um beijo rápido no topo da cabeça de Gwen, depois andando até Finney. Sem jeito, ele faz carinho no ombro do garoto, se virando e indo embora.
    — Finney? — O garoto ouviu Mary chamar assim que a porta se fechou.
    — Sim?
    — Pode me fazer um favor?

    Griffin sentou-se na cama de Mary, junto à Billy. Bruce se sentou na cadeira do quarto de Mary, bisbilhotando seus livros.
    Mary e Vance entraram no quarto da garota e era como se nada tivesse mudado.
    Estava entardecendo e o céu possuía apenas duas cores: amarelo-escuro e laranja apagado.
    Finney e Gwen o seguiram, estavam atordoados, pois podiam vê-los. Tudo aquilo era novo demais e ainda causava lágrimas em seus olhos.
    Todos vestiam roupas de cores claras e não possuíam mais seus machucados.
    Mary usava um vestido longo e branco, com renda. Já Vance, uma calça cinza e uma camisa social branca com seus primeiros 3 botões abertos.
    O loiro caminhou até o rádio de sua irmã e colocou para tocar a fita que Vance gravou.
    Mary observava todos os movimentos de Finney e então levantou sua mão e se apoiou no vento, porque ela sabia que Vance estaria ali para segurá-la.
    O garoto a puxou pela cintura e beijou sua testa, a fazendo rir. Até o momento, Vance não havia beijado os lábios de Mary. Não tiveram tempo para isso.
    Como um rio corre, certamente para o mar. — Ela começou, sussurrando em seu ouvido.
    Querida, é assim. Algumas coisas estão destinadas a acontecer. — Vance continuou, sorrindo.
    Pegue minha mão. — Ela estendeu sua mão ao ar, ele a segurou.
    Pegue minha vida inteira também. — O cacheado olhou para ela, e seus olhos diziam: eu te amo.
    Porque eu não posso evitar... — A ruiva escondeu seu rosto no pescoço de Vance, depois se afastando.
    ... Me apaixonar por você. — Ele a afastou, segurando seu rosto com leveza e selando seus lábios.
    Então todos no cômodo cantavam o final da música, encantados.
    — Eu te amo. — Ela disse, juntando suas testas.
    — Eu te amo mais. — Ele rebateu, sorrindo.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora