XXXIX

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Nᴀ ᴄᴀsᴀ ᴅᴏs Bʟᴀᴋᴇ, Terrance pensava em sua filha.

    Se culpava.
    Chorava.
    E bebia.

    Ela estava desaparecida desde 31 de janeiro. Já era o quarto dia de julho.
    Terrance imploraria por seu perdão assim que a ver.
    Tudo o que ele queria era ter sua filha de volta.
    Havia falado com os Hoppers há alguns dias.
    As únicas pessoas que o entendem.
    Nunca sentiram tanta falta de alguém quanto sentiram de seu filho.
    Vance podia fazer as pessoas sentirem medo, mas ele era amado.
    Vance era amado assim como Mary.
    O senhor Hopper havia começado a beber muito mais.
    Sentia falta de seu filho.

    Gwen sentia falta de sua metade.
    Sentia falta dela a obrigando a ir dormir cedo.
    A ajudando a fazer sua tarefa de matemática e geografia.
    Se soubesse que ela havia ficado de recuperação em história, brigaria com ela, mas a ajudaria a estudar. História era matéria preferida de Mary.
    Sentia falta de Vance e Mary discutindo, sendo que essas brigas sempre acabavam do mesmo jeito. Ele pedia desculpas enquanto dava beijinhos em seu rosto. Ela sorria e o abraçava.
    Seu relacionamento era como o de um conto de fadas.
    O mais bonito que ela já havia visto.
    Certamente mais bonito que o de seus pais.
    Seu relacionamento nunca foi um exemplo.
    Ela nunca o admirou.
    Nunca quis ter um relacionamento como o deles.
    Não queria apanhar de seu marido enquanto seus filhos assistiam.
    Não queria aquilo para eles, não queria aquilo para si.
    Jamais desejaria aquilo.

    Finney sentia falta de sua conselheira. De sua ouvinte.
    Podia falar sobre Robin, pois sabia que a resposta que iria receber era: "está tudo bem" ou "você vai ficar bem".
    Podia falar sobre os valentões da escola, pois sabia que ela sempre o defenderia.
    Ele amava a ouvir falar.
    Amava ouvir sobre o livro que estava lendo.
    Amava ouvir sobre seus problemas e tentar resolvê-los.
    Amava ouvir sobre seu relacionamento com Vance.
    Finney queria um relacionamento como aquele.
    Finney queria ser feliz.
    Por pelo menos uma vez em sua vida.
    Não se importava com quem.
    A pessoa precisava amá-lo, e ele precisava amá-la. Era tudo o que ele queria.
    Queria se sentir amado.
    Não por suas irmãs, mas por sim, por outro alguém.

    Outro alguém.

    Robin sentia falta dos sermões de Mary.
    De seu humor ácido e irônico.
    De sua comida.
    De seu abraço.
    Sentia falta de Mary.

    Mary era o tipo de pessoa que fazia amizade com todos. Era capaz de se mudar a cada pessoa com quem falava.
    Às vezes ela confundia qual personalidade deveria usar.
   
    O sequestro de Vance e Mary foi uma tragédia.
    Precisavam serem resgatados daquele desastre.
    Mas não podiam.
    Não sabiam onde eles estavam.
   
    Mary e Vance haviam perdido a conta dos dias.
    Estavam lá a tempo demais.
    Tempo demais.
    Mary havia perdido o aniversário de sua irmãzinha, o mesmo que a menina passou chorando.
    Era impossível não chorar.
    Os Blake estavam se recuperando do luto. O deixando para trás.
    Precisavam deixar para trás.
    Precisavam seguir em frente, pois suas vidas não podiam desmoronar mais.
    Não podiam permitir que isso acontecesse.
    Nunca.
   
    Os sonhos de Gwen têm diminuído.
    O último sonho que ela teve foi o de Robin, e ela tinha certeza de que Mary a fez ter aquele sonho. De algum jeito.
    Mary sempre dá um jeito. Sempre.
    Sempre dá um jeito de avisar sobre o perigo.
    Sempre dá um jeito de escapar.
    Sempre.

    Eles não podiam mais sofrer por morte e desaparecimento.
    Se sofressem mais, se enterrariam nos sentimentos ruins.
    Terrance não era bom em ajudar seus filhos a ficarem melhores.
    Robin era.
    Robin os fazia feliz.
    Os faziam rir.
    Os faziam esquecer de seus problemas.
   Os problemas.
    A televisão, cookies e Robin eram a combinação perfeita.
    Finney tinha certeza disso.
  
    O garoto havia se tornado muito menos social do que antes do desaparecimento.
    Se recusava a falar com pessoas.
    Finney e Gwen sem se falar por três dias.
    O garoto só falou com Robin uma semana e alguns dias depois.
    O choque e a tristeza eram grandes.
    Não tão grandes quando a agonia.
   
    Finney prometia vingança.
    Ele não sabia quem o homem era e onde ele estava, mas jurou que assim o encontrar, o mataria.
    A única coisa que ele precisava era de Mary e Vance vivos, bem.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora