XI.

3.7K 366 59
                                    


Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, Mary riscava os dias em uma parede.

- Vinte e seis dias? Tem certeza? - Indagou Vance.
- É. Tenho certeza.
- Que merda.
- Pois é.
- Ei. - Ele se distanciou.
- Hm? - Ela o seguiu.
- Quer falar sobre o 17 de novembro?
- Ah... Na verdade, não.
- Tudo bem, então. - Vance soltou suas mãos ao lado do corpo.
- Por que quer falar sobre isso? - Questionou Mary, confusa.
- Nada. Você mudou depois daquilo.
- Minha mãe morreu, Vance.
- Eu sei. Não deveria ter falado sobre isso.
- Eu sei por que você quer falar sobre isso.
- O quê? - Indagou Vance, sem entender ao que a garota se referia.
- Nós nos afastamos depois daquilo. É disso que você quer falar. Você não quer falar sobre minha mãe, quer falar sobre nós.
De repente, as palavras sumiram da mente de Vance. Seus lábios secaram quando a garota se aproximou.
- É. É isso.
- Nós estávamos quase juntos mas... Aquilo aconteceu. Foi demais para nós dois. Não deveríamos ver algo daquele tipo. Ninguém deveria.
- Você está certa. Foi demais, mesmo para mim.
- Eu sinto muito que você tenha visto aquilo.
- Não é sua culpa, Mary.
- É, eu sei. Demorou um tempo para eu conseguir entender isso.
- Eu senti sua falta.
A frase provocou calafrios em Mary.
- Eu... Senti sua falta. Você mudou também.
- Foi por sua causa.
- O quê?
- Eu mudei por sua causa. Ficar com você me deixava... Leve. Uma semana depois... Daquilo... Eu comecei a pensar em você todos os dias. - Confessa ele.
- Todos os dias?
- Sim. Você dizia estar bem, mas claramente estava mentindo. Eu queria falar com você, mas achei que fosse me ridicularizar. Até hoje eu não sei porque eu pensava naquilo. - Ele abaixa sua cabeça, lamentando. - Você não faria isso. Eu não estava lá para você. Mas eu estou aqui agora, e não pretendo fugir de você.- Ele olha para ela novamente. - Mesmo se quisesse, não conseguiria. Literalmente.
Mary não sabia como reagir, então ela riu.
Vance arqueou as sobrancelhas, confuso, mas Mary o abraçou.
Os braços de Mary se envolveram ao redor do pescoço de Vance e seus braços envolveram a cintura da garota, a apertando forte.
- Você está cheirando a merda. - Revelou Vance em seu ouvido. A garota gargalhou e tentou bater nele, mas ele não a soltava.
- Você também está.
- Senti sua falta, May.
- Você se lembra? - Perguntou ela, surpresa.
- Óbvio que lembro. Doze de maio, às 21h38. O dia e a hora que nos conhecemos.
- Ei. - Disse ela, se afastando, mas sem soltá-lo.
- Hm?
- Eu senti sua falta, Valentino.
O garoto sorriu.
- A primeira vez que fomos ao Arcade. Dia dos Namorados.
- Isso mesmo. - Confirmou ela.
- Éramos sozinhos demais para termos alguém para comemorar aquele dia.
- Considerando que estamos aqui, poderemos comemorar vários dias como aquele.
- É, você está certa.
- Sempre estou certa.
- Nos conhecemos em maio. - Ressalta Vance novamente.
- Eu amo esse mês. - Sussura a garota, o rosto escondido no pescoço de Vance.
- Por que ao invés de colocarmos d.c., de depois de Cristo, não colocamos d.s.?
- D.s.?
- Depois do sequestro.
- É... Uma ótima ideia.
- Óbvio que é. Eu sempre estou certo.
- Engraçadinho.
Mary se afastou e escreveu "d.s." em cima dos números.
Então, a porta foi destrancada.
Vance abriu seus braços para receber Mary.
- Bom di- Hm. Estou atrapalhando? - Perguntou aquele homem.
- Há 26 dias. Está atrapalhando há exatamente 26 dias. - Completou Mary.
- Que pena não é? Trouxe a comida de vocês.
- O que é isso?
- Carne. - Ele responde dando de ombros.
- Humana?
- Você nunca vai saber. - Ele diz e fecha a porta.
- Eu vou comer. - Anuncia Vance.
- Se sairmos daqui, seremos considerados canibais.
- Seremos considerados canibais vivos.
Mary o observou enquanto ele pegou o pedaço de carne com suas mãos e o mordeu, como um animal.
Eles estavam virando animais.
Mary se ajoelhou ao lado de Vance e devorou a carne e os ovos mexidos.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora