XLVI.

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Eᴍ ᴀʟɢᴜᴍ ʟᴜɢᴀʀ, Finney acordava.

    Sua visão estava turva, embaçada.
    Um gosto ruim em sua boca o causava ânsia.
    Estava sendo carregado por alguém.
    Albert. Albert o carregava.
    Sangue pingava de um corte em seu braço.
    Havia sangue na ponta afiada de seu foguete.
    — Meu braço... Eu deveria quebrar o seu pescoço pelo que você fez com o meu braço.
    O garoto foi jogado no colchão frio. Ele possuía uma fronha diferente da fronha de meses antes.
    Levantou-se assustado, porém lento. Seu corpo estava pesado.
    A visão do garoto melhorava quanto mais tempo seus olhos ficavam abertos. Ele piscava devagar, tentando se acostumar com a iluminação do cômodo.
    Havia uma porta de metal atrás dele. A mesma estava aberta.
    O mascarado se sentou ao lado de Finney, o fazendo se afastar.
    — Nossa. Eu estou coberto de sangue. Parece até que eu matei alguém. — Ele diz, a voz rouca.
    Se Finney soubesse...
    — Está vendo?
    O homem estica sua mão até Finney.
    Seus dedos tiram os cabelos de seu rosto.
    O homem estica sua mão até Finney. Seus dedos tiram os cabelos de seu rosto.
    — Não dever estar vendo nada. Eu não vou te machucar. Aquilo que eu falei se quebrar seu pescoço... ? Eu só estava com raiva.
    Ele ri, fazendo Finney arrepiar.
    — Você fez um estrago no meu braço, mas eu não guardo rancor.
    Albert se aproxima.
    — Eu acho que... — Sua mão segura o rosto caloroso de Finney. O homem respira fundo. — Estamos quites. Não precisa ter medo, porque nada de ruim vai acontecer aqui. Te dou minha palavra. — Ele levanta seus dois dedos, apontando para cima. — Palavra de escoteiro.
    A visão de Finney já estava melhor. Conseguia enxergar tudo com clareza.
    Agora, estava muito mais assustado.
    O homem usava uma máscara arrepiante.
    Não havia boca. Haviam chifres.
    Haviam buracos para os olhos, mas não buracos para ele poder respirar sem ficar ofegante.
    Com certeza estava respirando o mesmo ar quente que mandou para fora de seu corpo.
    — Gosta de refrigerante, hm? Olha só... Eu vou pegar um refrigerante para você, depois...
    Um telefone toca.
    Um telefone toca do outro lado. Acima das escadas.
    — É o telefone? — Ele se virou para trás. — Está ouvindo? Eu vou ver quem é, depois, vou pegar um refri para você.
    O homem sacudiu levemente o rosto do garoto.
    Finney não respondeu.
    — E aí, vou voltar, e te explicar tudo. Hm?
    Albert se levanta e se afasta.
    Assim que atravessa a porta, a fecha, depois a trancando.
    Finney pensa duas vezes antes de se levantar.
    Suas pernas estão bambas, seus pés, formigando.
    Ele se levanta, suas pernas vacilam antes de se firmarem no chão.
    O garoto segura seu foguete com toda a força que lhe resta.
    Finney caminha até a porta e tenta abri-la, sem resultados positivos.
    Se vira para trás, sem saber o que fazer.
    Sua respiração começa a acelerar.
    O garoto caminha até o "banheiro", sem saber para onde está indo.
    Ele puxa uma linha acima de sua cabeça, fazendo a lâmpada se acender.
    Não há nada que ele possa fazer.
    Não havia nada que ele pudesse fazer para se comunicar com Robin.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Robin, Gwen. Robin, Gwen.
    Não, não, não, não, não...
   
    Finney anda até o colchão novamente. Então, nota um telefone ao lado dele.
    Com esperança de que o telefone funcione, ele o tira da base.
    Tenta usá-lo, mas percebe que o fio do telefone foi rompido.
    Ele o coloca na base novamente e bufa.
    Não há nada que pudesse fazer...
    Finney se afasta do telefone e se deita na cama.
    Tenta estabilizar sua respiração.
    Lembra-se das palavras que Mary dizia.
    O garoto fechou seus olhos e de repente, a garota recitava as palavras em sua mente.
    Lembra-se de uma conversa que teve com sua irmã anos antes.
    Quando você sentir que está começando a entrar em pânico, respire fundo. Expire, inspire.
    "Mas, e se não for o suficiente?"
    Então, pense em coisas boas. Pense em você e Robin assistindo filmes de terror à noite enquanto comem pipoca. Pense em você e Gwen jogando seus jogos de tabuleiro favoritos. Pense em mim. Pense em mim cuidando de você. Cantando para você para que você pegue no sono. Pense em nós. Isso vai ser o suficiente.
    "Você pode cantar para mim? A dos gatinhos?"
    Claro.
    — Era uma vez uma gatinha muito bonitinha... — O garoto respirou fundo. — Era uma vez um gatinho muito marrentinho. Em um dia ensolarado e bonito, estavam destinados a se conhecer. — A angústia e incerteza estavam entaladas em sua garganta. — A gatinha se aproximou, curiosa. As garras de seu companheiro a arranharam. Havia um lado que ela não conhecia. A gatinha se aproximou, curiosa. As garras de seu companheiro a convidaram para perto. A convidaram para dançar, pois não podiam evitar se apaixonar.
    Percebeu então que a história dos gatinhos era parecida com a sua história. Era parecia com sua história e de Robin.
    Não podiam evitar se apaixonar um pelo outro.
    Não.
    Isso está fora de cogitação.
   
    Por que agora?
    Finney nunca gostou de...
    Nunca.
    Nunca gostaria.
   
    Gosta de Donna. Isso é um fato.
    Sempre gostou.
    Seu coração acelera quando a vê.
    N̶ã̶o̶ m̶a̶i̶s̶ d̶o̶ q̶u̶e̶ q̶u̶a̶n̶d̶o̶ v̶ê̶ R̶o̶b̶i̶n̶.
    Há algo de diferente com Robin.
    Finney não precisa fingir estar bem.
    Finney não precisa mentir sobre o que aconteceu em seu dia.
    Finney não se sente julgado, não sente a necessidade de se conter.
    Robin era seu melhor amigo.
    Sempre seria.
    Apenas seu melhor amigo.

    Apenas isso.

    M̶a̶s̶ v̶o̶c̶ê̶ e̶s̶t̶á̶ a̶í p̶o̶r̶ e̶l̶e̶.
    — Não...
    F̶o̶i̶ l̶e̶v̶a̶d̶o̶ e̶m̶ s̶e̶u̶ l̶u̶g̶a̶r̶, a̶g̶o̶r̶a̶ n̶ã̶o̶ v̶o̶l̶t̶a̶r̶i̶a̶ p̶a̶r̶a̶ c̶a̶s̶a̶.
    Mary não havia voltado.
    Estava cansado de olhar para o céu no fim de uma tarde e ver apenas o fantasma de sua irmã.
    Os cabelos como fogo. Como o céu.
    Não queria que Gwen olhasse para a luz do sol e se lembrasse de seu cabelo.
    Queria que ela visse algo bonito, não doloroso.
    Não queria que ela olhasse para árvores e visse os olhos de seu irmão nelas, escuros como Carvalho.
    Pois era isso que ele enxergava quando olhava para o mar. Sua irmã.
    Seus olhos.
    Azuis como o oceano.
   
    Não queria que Robin assistisse a filmes de terror sozinho, pois ele sabe o quanto o garoto odeia isso.
    Se pudesse voltar no passado, abraçaria as pessoas que ama o mais forte que pudesse.
    Incluindo Robin.
    Eu o amo como um amigo.
    C̶o̶m̶o̶ u̶m̶ a̶m̶i̶g̶o̶.
    Robin, Robin.
    Donna, Donna...
    Finney gosta de Donna.
    Apenas de Donna.
    Não é?
    Gosta de seu sorriso.
    N̶ã̶o̶ t̶a̶n̶t̶o̶ q̶u̶a̶n̶t̶o̶ o̶ d̶e̶ R̶o̶b̶i̶n̶.
    Gosta de seu cabelo curto e escuro.
    C̶o̶m̶o̶ o̶ d̶e̶ R̶o̶b̶i̶n̶.
    Gosta de seus olhos escuros
    C̶o̶m̶o̶ o̶s̶ d̶e̶ R̶o̶b̶i̶n.
    Robin, mas como uma garota.
    
    Robin é só um amigo.
    Robin estava lá quando Finney precisou.
    Robin o ajudou.
    Robin o fez feliz.
    R̶o̶b̶i̶n̶ f̶e̶z̶ s̶e̶u̶ c̶o̶r̶a̶ç̶ã̶o̶ a̶c̶e̶l̶e̶r̶a̶r.
    — Merda! — Vociferou. — Eu odeio você! Eu odeio... — Sua voz falhou. — Eu...
    Finney não pode evitar desmoronar.
    De novo.
    E de novo.
    E de novo.
    — Eu odeio você, Robin Arellano.

𝐁𝐄𝐋𝐈𝐄𝐕𝐄 𝐔𝐒, Vance HopperOnde histórias criam vida. Descubra agora