capítulo sessenta e quatro

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C A R O L I N A

infelizmente o tempo voou, e tudo que me restou, foi o horizonte.

estava ouvindo o áudio da minha cliente e o arthur começou a gravar a gente. ele gosta de me pegar desprevinida. incrível.

— carolina, sai do celular, carolina — ele me repreendeu e eu bufei, guardando o celular. sabia que ele estava certo, mas era urgente.

— pronto, pronto! — falei, levantando as mãos em rendição.

— vamos dar uma volta comigo? — arthur perguntou e eu estranhei, mas assenti.

só falta ele me pedir em casamento. juro por tudo que se fosse o caso, eu jogaria ele daquela rocha.

arthur entrelaçou nossas mãos e caminhamos lentamente pela beira do mar. ainda não me acostumei com a paz que é estar ao lado dele. ficamos assim até ele me levar para o topo de umas das rochas que tinha. ele pediu pra eu sentar e assim eu fiz.

— bom. eu queria te mostrar uma coisa, tá pronta desde ontem. escolhi te mostrar agora que, o céu tá lindo! — ele falou, colocando uma mexa atrás da minha orelha. encarei o céu, e realmente! ele estava se pondo em uma cor alaranjada que, por coincidência, era nossa cor favorita.

enruguei o cenho. ai meu deus, tudo que vem desse homem é misterioso.

— não me pede em casamento, sério — me adiantei e ele gargalhou.

— relaxa, surfistinha. agora você preste a atenção em mim — ele se aproximou mais e eu não entendi nada — tempinho atrás, eu disse pra tu, que ia escrever uma música especialmente pra você! — ele disse no meu ouvido e eu senti meu coração acelerar. não era possível!

(soltem a música)

arthur começou a fazer a melodia com a voz. até começar a cantar.

é que quando ela vem, eu perco o chão. ela é a perdição.
percussão, rimo na batida do teu coração.
entra no carro, vidro fechado, hoje é com emoção.

sorri boba.

quando nós tá junto o tempo para, é, que horas são?
ela tem o mundo na mão. mas me chama de vida

senti o choro entalar na minha garganta, mas aquilo foi demais pra mim. eu senti meu rosto molhar com as lágrimas que saiam uma atrás da outra, e encarei o meu namorado, que cantava pra mim, a minha música, com um brilho lindo no olhar.

tem amor de sobra, linda, divida.
minha vida é um eterno freestyle
tu nunca vai me ver na onda. meu desejo
é viajar pra bali, qual o teu? me conta.

o dia que ele me pediu em namoro. as lembranças vinham como avalanche, em cada verso da música.

eu te vi passando na esquina
acho que nós combina
imagina nos numa alto estrada
elevando tua auto estima.
pique trem fora do trilho, sem trocar tiro
ja disse que é so trocadilho, eu
miro e atiro.

como se eu fosse o culpado,
como se eu fosse o cupido,
como se ela fosse o prato, claro que eu
nunca teria esculpido.

ela é uma obra de arte
que se não existisse, eu memo' teria esculpido
falo que amo, ela fala dúvido, eu falo no ouvido.

merda. merda. era realmente sobre nós.

temos todas opções, pra viver dias melhores
cê sabe que me tem na mão,
pena que tu não se envolve

sorri em meio ao choro

ela roubou meu coração, olha que nem
tinha revólver agora eu tô na solidão,
faz favor, devolve, e ela me jogou na parede,
falou que é um assalto.

tirou minha blusa, tirou o salto. disse que gostava
de me ver na praia, gostava mais ainda de me ver
no palco. mas quando ela passa, eu que aplaudo.
me faz de banco, esquece o saldo.
pegou um drink pra nós dois, esqueceu que
eu não fumo, e nem bebo álcool.

perguntei se ela vinha, ela entrou no carro.
perguntei se ela é minha, ela me disse claro.
minha mão viajando pelo teu corpo
sinto seu cheiro, e me sinto no topo
se eu sinto, sua pele num tecido caro

quando ela passa, eu penso, isso é filme (só pode ser)
vidro fechado, insulfime (pau quebra)
som no talo, ouvindo lauryn hill
pego celular, bota erykah (badu)
ainda quer que eu filme

ela acha engraçado essa minha vida louca
ela tira onda, ela tira roupa
sempre vem dizendo pra eu tirar o
cavalo da chuva essa mina é louca

falando em loucura ela beija na boca
temos todas opções pra viver dias melhores. cê sabe
que me tem na mão, pena que tu não se envolve.
ela roubou meu coração, e olha que nem tinha revólver, agora eu tô na solidão, faz favor, devolve.

a cada frase, eu tinha recordações dos nossos dias. desde quando ele disse que me viu dobrando a esquina com o skate, até ontem. nunca ninguém me fez uma coisa tão linda. tão original e que demonstrasse um sentimento tão lindo. eu não tinha mais forças pra descrever o que estava sentindo. eu juro por tudo que estava emocionada e ainda mais radiante.

por saber que ele realmente havia feito aquilo pra mim.

pra nós.

ali, eu vi que amava o arthur. mas não por ter me feito uma música, mas sim por ter me feito sentir a melhor pessoa todos os dias. não tinha ninguém além dele. nunca teria.

é ele. sempre foi.


esse cap é o meu favorito de todos que já escrevi. é muito especial, então, por favor, comentem MUITO!

não desistam de mim rs 🗣️

perdição | volsherOnde histórias criam vida. Descubra agora