Elisa

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Eu não podia estar mais brava e aquela apatia de Mathews não querer discutir, me deixava ainda mais furiosa ainda. Eu não estava com cabeça para continuar trabalhando então dispensei minha nova gerente e apanhei as chaves do carro, passei em frente à loja de Mathews e ele estava lá debruçado no balcão, suspirei e adentrei o recinto.

- Estou indo para casa da minha mãe! - avisei, distraindo-o do que fazia.

- Me de dois minutos que te levo. - ele disse calmo colocando a calculadora sobre o balcão e anotando algo na sua prancheta.

- Tá bom! - dei de ombros e Alice começou a chutar. - Devagar aí, minha artilheira! - brinquei.

Mathews apenas ergueu a cabeça olhando rapidamente para mim e voltou a escrever. Não demorou muito para ele se abaixar atrás do balcão, pegar a carteira e o celular. Foi até os fundos e desligou a chave geral ficando apenas as luzes de emergência ligada.

- Vamos? - ele disse surgindo a minha frente.

Concordei com um abano de cabeça e segui a sua frente.

Mathews acionou o botão do controle que tinha em mãos para fechar o portão de sua loja. Aquilo baixou lentamente e seguimos para a escada rolante completamente em silencio.

- Você é muito burro se não percebe o que ela está fazendo! - soltei depois de um longo suspiro

- Eu sou homem e não burro. - disse calmo. - Sei muito bem o que ela queria. Cabia apenas a mim em aceitar ou recusar. - ele destravou a porta do seu carro no controle da chave.

- Sabia que ela queria você de volta e ainda assim foi atrás dela ?

- Eu a deixei a ver navios... - ele se voltou para mim. - Eu estou com você. Machuquei o coração de Amanda. Deixei claro que escolhi você, mas você pelo jeito acha que é minha dona por estarmos juntos. Não vou virar as costas para alguém que foi importante num período da minha vida.

- Pois sendo assim, ela vai continuar a espreita, sempre boazinha, sempre com o ombro amigo a oferecer quando tivermos problemas, até te pegar em um momento de fragilidade e te levar para cama.

- Insegurança não, Elisa! - ele apoiou o braço na porta do carro, pois eu não entrei e ficamos discutindo no estacionamento. - Achei que tínhamos passado um lindo final de semana. Que estávamos nos entendendo, vivendo uma nova oportunidade. E você... Nem teve a capacidade de pensar que não sou esses caras com quem saiu um dia na sua juventude. Sei o que eu quero e sei separar as coisas. Você tem muito que aprender sobre mim.

- Insegurança não! - o imitei. - Eu nem sei de fato se você gosta mesmo de mim, ou só não quer ver a sua filha crescendo longe de você e está disposto a ficar comigo, só por ela.

- Acha mesmo que ficaria com você por causa de Alice? - seu tom de voz foi de espanto. - Acha mesmo que usaria um sentimento para usar você... Porque é isso que estaria fazendo, usando seu sentimento por mim, seu corpo, sua mente por conta de um bebê. Pelo amor de Deus, Elisa! - ele bateu as mãos nas pernas. - Estou com você por que gosto de você. Estou apaixonado por você desde quando deixei a França. Sofri por ter ido embora. Pensei várias vezes em ir até lá e te trazer para cá. A ultima coisa que eu queria é que pensasse assim... por isso pensei muito antes de tomar a decisão de que não podia deixar escapar novamente. Deu para entender?

- Você nunca me diz como se sente. - suspirei.

- Meus sentimentos são meus. Não sou de falar sobre isso. - ele disse calmo. - Estou puto nesse exato momento. Melhor?

- Eu também estou puta nesse exato momento! - afirmei cruzando os braços. - Aquela vaca me irrita profundamente, porque era ela quem tinha você quando eu estava longe.

- E daí? - ele cruzou os braços. - Ela está puta porque é você que me tem, não só fisicamente mas... De sentimento. Coisa que ela não teve.

- Podemos ir? - aquela discussão não nos levaria a lugar nenhum, apesar de que tinha feito eu me sentir melhor. - Eu sou ciumenta! - afirmei dando de ombros e ele parecia querer rir, como se eu dissesse algo tão óbvio quanto o fato do céu ser azul

- Entra no carro! - Ele apontou para dentro e esperou.

Lhe mostrei a língua e adentrei o carro.

- Vai ver a Amanda de novo?

- Ela é minha gerente de conta. - E ele fechou a porta do carro dando a volta, sentou-se ao meu lado, ligou o carro e me olhou.

 -Isso é um sim! - afirmei desgostosa e me recostei, Alice continuava mexendo.

- Isso é um sim porque ela é a minha gerente de conta... E não para eu comer ela como antes. - Ele saiu da garagem ganhando às ruas.

- Eu entendi! - semicerrei os dentes. - Não precisava me lembrar que você comia ela. Que coisa grotesca!

Mathews gargalhou alto me lembrando de Joshua e seu sarcasmo.

- Eu deveria amarrar você na cama e lhe bater com um chicote só para aliviar a raiva

- uau! Não sabia que tinha pensamentos dominatrix. - Ele parou no farol e me olhou com aquele sorriso maroto.

- É só quando você me irrita!

- Melhor se acalmar. - Ele passou a mão na minha barriga. - Alice não está feliz com você.

Alice saltou em direção a mão dele e foi inevitável rirmos.

- Ela me parece bem feliz!

- A bonequinha do papai está mais que acordada. - Ele teve que tirar a mão da minha barriga e seguiu com o carro.

- Você devia morar com a gente! - disse baixo demais para ser ouvida

- O quê? - Ele não entendeu.

- Nada! - disse após um suspiro, era muito cedo

- Está com fome? - Tudo se resumia a comida, fome.

- Estou! - concordei. - Vamos almoçar em algum restaurante. Estou com vontade de peixe e legumes

Mathews concordou e deu a volta no quarteirão indo para o restaurante de Antônio.

- Sabe o que eu estava pensando? Eu ainda não conheço o seu apartamento.

- Assim que terminar de arrumar a minha bagunça e a Beth vier fazer uma boa faxina eu te levo até lá.

Mathews as vezes me irritava com sua mania de arrumação e controle da situação.

- Achei que podíamos pegar o almoço no Antônio e ir comer na sua casa, mas deixa para lá. Aposto que a vaca tinha a chave do outro apartamento, mas eu não posso nem conhecer.

- Não começa. - Ele estacionou na frente do restaurante do Antônio, apoiou o pulso no volante e me encarou. - O apartamento está sujo e com algumas caixas para desembalar... Tenho ficado mais em seu apartamento do que o meu. Será que dá para ser menos afoita... E eu não tenho a chave do seu apartamento, então estamos quites.

- Você não tem porque não quer. Te ofereci e você disse que estávamos indo devagar, estou sempre pisando em ovos com você

- Então vá devagar, Elisa! Vamos curtir esse momento.

- Claro! - concordei, encerrando o assunto. Eu estava com a barriga na boca, já tinha passado dos trinta mas, devia aproveitar o momento de namorar como uma adolescente

Ele riu descendo do carro dando a volta e abriu a porta para mim e me deu a mão para sair.


***

FINO TRATO 3 (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora