Elisa

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Eu era uma romântica incorrigível e ver meus pais juntos, acendia uma esperança dentro de mim.

Minha mãe não quis voltar para casa com ele, e eu resolvi lhe oferecer uma carona.

- Você e meu pai conversaram? -perguntei quando nos dirigimos ao estacionamento

- Ele é um babaca! - soltou ela que me fez rir. - É verdade! Acredita que quando perguntei se ele foi fiel no nosso casamento, ele disse: " Se você soubesse... " usando aquele sorriso cínico dele.

- Você sabe que ele nunca te traiu ,mãe! Sempre se orgulhou disso, de ser a única entre suas amigas que não aceitava traição. Ele devia estar te provocando!

- Me magoa ouvir isso. Magoa mais ainda é que ele não admite que saiu com aquela piranha. - ela estava realmente brava com papai.

- Quer dirigir? - lhe estendi as chaves - Ele é só saiu! - afirmei confiante. - Ele me garantiu que não tem nada com a Connie, que ela só o convidou para Ópera e ele aceitou a companhia.

- Ele nunca me levou a Opera! - ela apanhou a chave do carro. - Nunca! Só para aquelas festas chatas... com aquelas mulheres chatas que acabei me tornando uma delas... - mamãe fez uma careta e rimos. - Eu amo o seu pai! mas... - ela estreitou os olhos pensando. - Estou gostando dessa nova fase... Fazer algo de que eu goste, cuidar de mim sem me preocupar se estou apresentável para uma visita surpresa para o jantar. - Não quer ele de volta? - perguntei triste, mas a compreendia.

- Quero... Mas ele vai ter que me aceitar quem estou me tornando. Cansei de ser a esposa fútil... e para ele voltar para a minha cama, vai ter que me provar que não dormiu com aquela mulher.

- Como se prova que não dormiu com alguém? -perguntei rindo

- Você é mulher! sabe quando uma "amante" está falando a verdade ou não. - pisquei para ela. - Entre no carro. Vamos ao Antônio para comer Lagostin fritos! muitos!

- Ah hoje não, mãe! Mathews e eu mal tivemos tempo de nos ver e eu prometi jantar com ele. Não posso chegar de estômago cheio, mas se você quiser a companhia da sua filha podemos ir naquela casa de chás que você gosta.

- Tudo bem. - ela aceitou e entramos no carro.

No caminho ela resolveu falar.

- Teve um namoro no tempo de faculdade com Noah?

- Como soube disso? - respondi com outra pergunta

- Seu pai me contou antes de entrarmos na loja. - mamãe me olhou. - Sabe que não gosto do Noah e nunca gostei. E parece que agora está indo atrás de você.

- Meu pai também sabe?! Meu Deus! Olha, esquece o Noah! Eu já cheguei a acreditar que ele fosse o homem da minha vida, mas agora não tem mais importância! Ele sempre tinha uma desculpa para não assumir o namoro, dizia que tínhamos que acabar a faculdade antes, que nossos pais eram sócios e podia gerar um problema, e enquanto isso ele ficava com outras garotas.

- Porque nunca me contou? Eu perguntei a você duas vezes e me garantiu que não tinha nada com ele.

- Nós não éramos próximas! - não queria reviver velhas mágoas. - Ah, sei lá... naquela época eu não tinha vontade de me abrir com você, mãe!

- Seu pai acha que não fui uma boa mãe. - ela disse triste. - Eu acho que não fui...

- Não é isso, mãe! É que... vocês queriam a filha exemplar, que assumisse a empresa, que fizesse um bom casamento... Eram expectativas demais! E além disso, nós nunca fomos tão achegadas quanto agora. Você está diferente, eu amadureci

- Eu seguia a risca o que seu pai queria para você. Achava que seria bom. até que vi seu talento. - ela me olhou quando estacionou em frente a casa de chá. - Eu fui no desfile de moda que a faculdade preparou... eu vi que era o seu talento e que você estava feliz. quando cheguei em casa e seu pai pensou que tinha conversado com você para desistir de cursar moda e voltar para Economia... Eu disse que você estava decidida a seguir. menti para ele. e não quis que me visse lá.

- Hum! - dei de ombros. - Não foi tão ruim. Eu me formei em economia e em moda. Posso encher a boca e dizer que eu tenho duas faculdades

- Tenho orgulho de você. - mamãe sorriu e acariciou o meu rosto. - Devia ter tido ao menos mais um filho. assim não teria crescido tão sozinha.

- Por que não tiveram?

- Egoísmo, talvez! - ela deu de ombros. - Não sei... concordamos em esperar... e quando vimos... Já tinha passado o tempo.

- Entendo! -  respondi e sorri para ela. - Já falou com a tal da Connie?

- Está fugindo de mim. - Ela riu.

- Eu acredito no meu pai! - afirmei confiante

- Você sempre acreditou no seu pai. - Descemos do carro.

- Ele nunca nos deu motivos para desconfiar. Sabe o que eu acho, que ele está doido para voltar para casa mas, é orgulhoso demais para admitir.

- E porque ele não volta? Não o mandei embora, só pedi o divórcio. - Ela era dura na queda.

- Só pedi o divórcio! - emendei gargalhando. - É uma ótima maneira de dizer que quer continuar ao lado da pessoa.

- O que faria no meu lugar, sabendo e vendo que Mathews levou outra mulher no teatro ao invés de você? - Mamãe abriu a porta da delicatesse para mim. - Sempre fui ao teatro sozinha... Isso quando você cresceu e não quis mais né acompanhar.

- Ele tinha saído de casa porque estava frustrado ou sei lá o que, e foi ao teatro com uma amiga!

- acho que essa nossa conversa não vai dar em nada. Já falamos muito de mim. Vamos falar de você e Mathews. Como estão?

- Estamos! - dei de ombros. - Descobri que ele é ciumento, e achei isso bem divertido!

- Olha! O galã durão mostrando seus sentimentos. - Rimos.

- Ele não é durão, mãe! Só é sério! O Mathews é um docinho, o único defeito é ser cauteloso demais. Eu o convidei para morar comigo e ele disse para irmos devagar. É tão frustrante!

- Eu não sei se falo que ele está certo ou errado. - Pensei em mim e Hilbert. - Seu pai e eu também nos casamos assim. Sem pensar no amanhã. Nós casamos e moramos na pensão da Universidade... Foi loucura.

- Sabe qual é o meu medo? Repetir a mesma novela do Noah! O discurso era o mesmo, apesar das atitudes serem diferentes, "Não vamos nos apressar". Eu sei que a situação é diferente, afinal eu fiquei quase quatro anos com o Noah, até resolver dar um basta, e com o Math tudo é novo, mas... - dei de ombros. - E se acabar sendo igual?

- Eu acho que não. Assim que ele ver a carinha da Alice vai correr para sua casa e não sair mais dela. Filhos mudam a nossa vida. E Noah não é um homem confiável. E já disse isso ao seu pai.

- É, não dá para comparar! O Math não está me cozinhando em banho-Maria há anos

- Só um mês! - Rimos. - Mamãe me olhou por alguns instantes enquanto dava um gole em seu chá. - Noah balançou suas estruturas? Já o viu depois que voltou? - Ela sorriu amável. - Ele se tornou um homem muito bonito.

- Eu sei! Ele foi na loja antes de vocês chegarem. Comprou um vestido para Rebecca!

- Não foi o que perguntei!

- Não! Ele não me abalou! Me irritou bastante, mas não me abalou. Mathews morreu de ciúmes, tentou disfarçar, mas, eu sou ciumenta, então sei reconhecer bem esse sentimento.

- Então vou ficar tranquila. - Mamãe relaxou na cadeira.

- Eu não deixaria o Noah interferir na minha vida, mãe!

- É bom saber. - Ela olhou no relógio. - Bem! Já é tarde. Você tem um compromisso e eu o meu livro. - Ela sorriu. - Eu pego um táxi.

- Ah não, me deixa em casa e leva o carro!

- tudo bem.

***

FINO TRATO 3 (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora