Elisa

109 23 1
                                    

Almoçamos no Antonio e resolvi desviar o caminho e não ir ver minha mãe, mas meu pai. Eu estava adiando aquela visita, pois não sabia o que esperar ou como abordá-lo. Mas, era hora de falar com o velho Hilbert e entender o que aconteceu para ele resolver trocar a minha mãe por uma garota qualquer.

Pedi a Mathews que me desse uma carona até a empresa do meu pai e tivemos que espera-lo sair de uma reunião.

- Você não precisa ficar aqui comigo, Mathews! Sei que ainda tem trabalho a fazer.

- Pode pegar um UBER para o shopping? - Mathews não parava de olhar para o relógio. - Não queria te deixar mas... Evellyn vai para o shopping às 15 horas.

- Tudo bem! - concordei e busquei sua mão, meu pai surgiu na recepção no instante seguinte

- Ah filha, se eu soubesse que você vinha teria desmarcado a reunião. Como vai, Mathews?

- Estou bem, senhor! - apertaram as mãos. - Vou deixa-la agora. A coloque num táxi ou UBER está bem?

- Vai embora rápido assim? Ia convidá-lo para uma bebida.

- Tenho muito trabalho no shopping. Volto em uma outra hora para bebermos juntos. - sorriu Mathews e se virou para mim. - Tente não ficar nervosa, está bem? - e ele me deu um beijo. - Me ligue se precisar. Até mais.

- Posso te esperar em casa essa noite?

- Me ligue assim que chegar em casa.

- Tá bom! - beijei-o suavemente e observei-o se afastar

- Já marcaram o casamento? - meu pai me assustou.

- Não pai! Ainda não marcamos casamento. - afirmei. - E eu vim aqui para falar sobre o seu casamento.

- Não há mais casamento, então não há sobre o que conversar

- Me explica o que houve, pai!

- Houve sua mãe! - ele respondeu. - Vamos para a minha sala.

Acompanhei meu pai, ensaiando meu discurso na memória. Adentramos o escritório e me sentei, eu me sentia uma idosa pois, bastava chegar em um lugar e eu já buscava onde repousar.

- Sua mãe não disse porque estamos nos separando?

- Então é verdade que você tem uma amante com metade da sua idade?

- Primeiro, ela não é minha amante e segundo, não tem metade da minha idade, ela deve ter trinta e cinco e eu ainda nem completei os sessenta.

- Pai, por favor... - revirei os olhos. - Isso não pode ser sério! Você se apaixonou por uma garota que poderia ser minha irmã mais velha.

- Não! Connie é só uma amiga!

- Não foi o que minha mãe me disse.

- Sua mãe me viu com a Connie na ópera uma vez e já foi tirando suas conclusões, eu não desmenti.

- Não pode ser só isso, pai!

- Mas é! Eu disse a sua mãe que as coisas não estavam bem ...

- Você realmente achou uma boa idéia, deixá-la acreditar que você a trocou por outra mulher?

- Achei que isso a obrigaria a reagir... brigar... Me xingar... qualquer coisa que uma mulher traída disposta a salvar seu casamento faria. Mas, não a sua mãe. Sua mãe é fria e inabalável e está bem claro para mim que ela não me ama mais.

- Depois de mais de trinta anos de união, você realmente acredita nisso?

- Não se engane, minha filha! As pessoas podem ficar anos juntas por puro comodismo.

- É, mas eu não acredito nisso em relação a minha mãe.

- Pois eu acredito. Ela é aristocrática, séria! E o pai um pateta em crise de meia-idade.

- Você devia voltar para casa, pai!

- Sua mãe e eu já decidimos, Elisa! E por favor, não tente intervir nisso! - ele levantou, veio até mim e beijou minha testa - Lamento não ter mais tempo para você hoje, minha filha, mas tenho que ir visitar a nova filial da empresa. Você entende, não é ?.

- Claro, pai! - não era nenhuma novidade que ele não tivesse tempo. - Onde você está morando, gostaria de falar com você depois, com tempo.

- Estou com o Noah, em seu apartamento ,Mas devo me mudar em breve.

- Que Noah, papai?

-   Noah Benneth! O pai dele se aposentou e ele está assumindo o seu lugar na empresa, como eu esperava que você fizesse um dia.

- Nem vem, pai! Eu estou muito feliz na minha profissão.

- Eu sei, meu anjo! - levantei, ajeitando minha bolsa

- Vou mandar o Gordon l...

Gordon me levou para casa e eu liguei para Mathews assim que cheguei

- Já chegou em casa? - ele perguntou e parecia que estava na rua, dava para escutar o transito ao fundo.

- Sim! A conversa com meu pai foi rápida! - Honey-Pie pulou a minha frente e eu fiz carinho em sua cabeça grande. - Gordon veio me trazer.

 - Quem é Gordon? - aquela pergunta me fez rir.

- O motorista do meu pai! - respondi rindo. - Papai não me deixaria sair de lá num táxi ou carro de aplicativo

- Que bom. Acabei de sair do médico... Chego em trinta minutos em sua casa. quer que eu passe no mercado? precisa de alguma coisa? - era muita informação para uma pessoa só.

-Não! Acho que não! -sei de ombros e me deitei no sofá, chutando minhas sapatilhas para longe- Está tudo bem com a saúde?

- Estou com um pouco de anemia e falta de vitamina D. Já passei na farmácia para comparar as vitaminas. No demais estou muito bem.

-Está precisando comer melhor e tomar mais sol. Me deixa cuidar de você que logo vai estar 100%.

- Estou deixando. - imaginei ele sorrindo do outro lado. - É só não ficar brigando comigo que melhoro rapidinho

- Que chantagem mais barata! - Eu sorri. - Eu não brigaria se não tivesse uma morena gostosa atrás de você, se fazendo de boazinha e querendo o meu lugar

- Atrás de mim neste momento é uma senhorinha com dois cachorros pequenos em sua coleiras e olhos esbugalhados. Morena gostosa só na sua imaginação. - brincou ele.

- Tá bom! - concordei rindo

Honey-Pie se deitou de barriga para cima a minha frente e vi algo enroladinho na coleira nova que desisti de tirar de seu pescoço.

- Nos vemos daqui a pouco. Até mais. - disse Mathews desligando andes de falar alguma coisa.

Olhei para aquilo, parecia um papelzinho, segurei firme e tirei. abri curiosa e estava escrito.

"Não tire a coleira do Panqueca".

- Que audácia! Panqueca? - encarei meu gato. Não tem jeito, você tem cara de comida sempre! - ri e fui até minha estante, apanhei uma caneta e um bloquinho de notas e passei a escrever "Aqui ele se chama Honey-Pie, e já que alguém mais o ama além de mim. Não vejo problema em compartilhar a Guarda!", sorri, enrolei o bilhete e coloquei no mesmo lugar.

Voltei a me deitar no sofá e enquanto observava curiosa o que Honey-Pie faria a seguir, o sono me dominou e eu dormi.

FINO TRATO 3 (HISTÓRIA COMPLETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora