Mais um dia se iniciava em Bangkok e os jornais daquela manhã alarmavam com as últimas informações sobre as manifestações que aconteceram bem mais cedo no centro da cidade.
"Um grupo de manifestantes invadiu as ruas de Bangkok na manhã desta terça-feira..."
Os cinco rapazes viam a matéria passar na televisão enquanto bebiam cerveja gelada sentados no sofá da oficina em plena 08:00 da manhã. Estava quente lá fora, então nada melhor que refrescar com algo gelado.
— Você acha mesmo que só levar as pessoas para a rua vai mudar alguma coisa nesse governo de merda?! — perguntou Black para Yok ao entrar na sala e pegar uma bebida na geladeira. Black havia renunciado à liderança, mas por vezes ainda agia como se fosse o líder do grupo. Ele era um bom, mas violento líder e nem todas as coisas podem ser resolvidas com agressividade. Depois da renúncia, nenhum dos rapazes quiseram assumir o lugar do gêmeo. Era muita responsabilidade. Tinha que haver planos bem elaborados e cautelosos. Todos ali sabiam de todas essas coisas, mas o moreno assumiu todos os riscos, tudo pela paz, certo?
O jeito bom de Yok de querer proteger até quem não estava ao seu alcance incomodou profundamente o policial com quem estava se envolvendo, Dan. Mas que mal à em defender e lutar pelas coisas certas e justas, quando na verdade o policial que deveria estar fazendo metade, senão todo esse trabalho? Onde está o erro nisso? Dan era o erro, e esse erro era irreparável.
Ele estava ficando igual a todos os outros policiais de Bangkok; corruptos e que ocultam e calam as pessoas que tentam trazer a verdade à tona para que todos a vejam. Por Yok ter virado exatamente esse tipo de pessoa, Dan o deixou. Nem sempre o amor será suficiente, mas no caso deles, sequer chegou a ser isso.
Todos haviam concordado com as novas regras que Yok estabeleceu com a ajuda de White. Tentar de tudo antes de tomar decisões mais rigorosas. Uma pessoa impulsiva e que toma decisões precipitadas precisa de alguém calmo e que pense antes de fazer coisas que poderá botar tudo a perder.
— Vamos fazer o que puder ser feito de maneira civilizada, Black. Já conversamos sobre isso.
— Mas se nossa civilização não for suficiente, nós faremos de outro jeito, faremos do jeito antigo, faremos do nosso jeito!
A diferença é gritante e não é preciso dizer qual dos dois falaram essas duas frases, isso é nítido! Por um bom tempo a cidade permaneceu quieta e durante esse tempo a gangue de Yok também permaneceu inativa, mas eles ainda estavam ali, apenas esperando o momento certo para voltar aos antigos hábitos, como aconteceu naquela manhã.
Yok estava diferente desde a partida de Dan. O policial havia conseguido mexer com a cabeça do garoto e Sean se gabava o tempo todo sobre tê-lo avisado. O moreno estava frio e mais distante do que jamais estivera, e qualquer pessoa que estivesse realmente disposta a ser na vida dele o que Dan não foi, era facilmente rejeitado. O medo de acontecer de novo. O medo de se entregar e ser decepcionado havia tirado todo o brilho que Yok tinha. Ele havia construído barreiras ao redor de si e elas permaneceriam erguidas até alguém ter o poder de derrubá-las de novo.
Ayan ou Aye, como era chamado pelos mais próximos, havia acabado de se mudar para Bangkok com seus dois melhores amigos, Kan e Wat. Os três juntos eram como um imã de confusões, mesmo que essas confusões fossem para levar justiça as coisas erradas, eles tinham o poder de mudar o rumo da história e muitas vezes serem vistos como os próprios vilões. Talvez isso faça as coisas serem mais divertidas.
Diferente de Yok, Ayan era mais aberto para outras pessoas, talvez por nunca ter tido seu coração partido, já que nunca havia realmente se apaixonado por alguém. Ayan era divertido e na maioria das vezes era visto sorrindo com seus amigos, mas também era um bom e responsável líder, por isso Kan e Wat o nomearam já que os dois não eram tão responsáveis quanto o mais baixo.
Horas antes
Enquanto as pessoas estavam nas ruas do centro da cidade naquela manhã, toda a atenção da polícia estava voltada para elas enquanto no lado oposto da cidade os seis garotos estavam se dividindo em duplas para mudar o rumo da polícia do lugar que realmente importava.
Sean e White foram para o lado oposto de Black e Gumpa, e Gram e Yok foram para os arredores afastados da cidade. Ambos passaram os últimos dias consertando suas motos para o caso de alguma emergência, tipo a que estava acontecendo aquele dia. Todos estavam em suas motos e aceleravam nas ruas sem se preocupar se haviam outros carros ou policiais por perto, para eles, naquele momento só existiam eles.
Em uma avenida, Gram e Yok se separaram e cada um foi para um lado. Em um dos parques mais movimentados de Bangkok o moreno simplesmente parou e tirou de sua mochila incontáveis frascos de tinta spray e as colocou em ordem no chão. Isso não fazia parte do plano.O protesto que havia acontecido aquela manhã havia tido como motivo a prisão de um homem negro que voltava do trabalho na noite anterior e havia sido parado pela polícia. Até quando eles teriam que enfrentar esse tipo de coisa? Serem julgados pela cor da pele ou jeito de se vestir? Orientação sexual, estilo de vida, religião ou outras coisas? Até quando essas opções seriam vistas como erradas?
Era pela igualdade de todos que as gangues lutavam.Enquanto encarava a parede mais chamativa do local, Yok pensava em um desenho para fazer ali como se ele tivesse tempo, mas ele o fez. Fez um desenho que representava o acontecimento da noite passada; Um homem negro que foi preso por polícias brancos quando voltava do trabalho.
Com o grafite inacabado, policiais chamaram a atenção do garoto que se viu obrigado a correr e deixar para trás sua moto e suas tintas. Aquilo era apenas distração e eles caíram direitinho. Três polícias correndo atrás de um único garoto que estava tentando fazer as coisas certas, já que eles não faziam. Yok e seus amigos tinham uma vantagem caso fossem "pegos" — Gumpa havia os ensinado parkour, e por sorte, aquele parque era cheio de áreas para esse treinamento.
O moreno corria com agilidade e depois de virar uma esquina ele se viu atrás da parede enorme de uma pista de skate. A dúvida se continuava correndo ou tentava escalar surgiu ali, mas não deu tempo de pensar e ele correu na direção da parede.
Com movimentos ágeis e certeiros enquanto corria, o impulso de Yok contra a parede fora perfeito e o permitiu subir, assim segurando nas partes inacabadas da pista. Ao chegar no topo, Yok os viu correr para dar a volta e pega-lo na frente do lugar, mas quando ele voltou a olhar para a frente, todas as pessoas ali o olhavam e um garoto desconhecido estendeu para ele seu skate. Yok conhecia aqueles olhares que lhes eram direcionados.
— Pega!
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Bed Friend
Fanfiction"E agora, te odiando ou não, mesmo que eu tente, eu não consigo ficar longe de você..."