Coração machucado

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Às vezes, aguentamos tantas coisas calado, que não percebemos o quão mal isso nos faz. Quanto choro nós engolimos para tentar ficar bem e ignorar o que vem depois? Muitas vezes nós só queremos chorar, sozinhos no quarto e no escuro, mas, muitas vezes nós só queremos um abraço que nos diga: "tá tudo bem".

— Você já me viu chorar, por quê eu não posso ver você? — perguntou Ayan se endireitando na cama e Yok soltando a mão do mesmo — Você quer se desculpar comigo desse jeito?! Sem me olhar e soltando a minha mão? Estou começando a acreditar que você não deveria ter ido até mim...

Aye levantou da cama devagar e caminhou até a porta do quarto. Se o moreno não fizesse nada, perderia mais uma oportunidade de se explicar, talvez a última. Mas, quando o mais baixo colocou a mão na maçaneta, Yok chegou por trás do mesmo e colocou sua mão sobre a dele, segurando-a e o impedindo de abrir a porta.

— Não vai embora ainda... Eu te conto tudo que você quiser saber, só não vai. Eu preciso que você fique...

Era impossível dizer qual dos dois garotos estava mais cansado. O mar lá fora parecia estar inteiramente nos olhos negros de Yok, então, com uma chuva forte ele encheu um pouco mais e assim transbordou. Quando Ayan viu o moreno chorar pela primeira vez em sua frente, ele o puxou para um abraço molhado e o mesmo correspondeu imediatamente a isso.

— Eu tô aqui...

— Eu sinto muito... — disse com seu rosto escondido no ombro de Aye.

— Shi, shi... tudo bem, tudo bem... — depois de algum tempo, Ayan se desfez lentamente do abraço e olhou nos olhos de tristes de Yok — Vamos tomar um banho? Você pode vir comigo? Eu acabei de te molhar.

O choro do mais alto estava cessando. Ele aceitou o convite do garoto e na cômoda onde estavam suas coisas pegou duas toalhas limpas, já que as toalhas do apartamento de Todd estavam com cheiro de coisa guardada e de mofo. Isso poderia irritar o nariz dos rapazes.
No banheiro do quarto Aye abriu o box e ligou o chuveiro, voltando em seguida seu olhar para Yok que também o olhava, mas meio perdido, sem saber o que fazer.

— O que você tá pensando? Vem aqui... me deixa cuidar de você...

Ayan tirou sua roupa molhada e quando o moreno chegou perto de si, o mesmo levantou devagar sua camiseta enquanto olhava nos olhos do mais alto, então, depois tirou também o resto das roupas, puxando-o para debaixo do chuveiro consigo. Enquanto sentiam a água quente esquentar sua pele, o mais baixo passava suas mãos ensaboadas gentilmente nas costas do moreno, mas ele virou-se e encarou o garoto mais baixo.

— Eu sinto muito por antes... Eu estava com raiva e descontei em você que não tinha nada a ver. Me desculpa...

— Eu não sei o que aconteceu com você no passado e eu também fiquei com raiva por você ter desconfiado de mim. Eu não te usei em momento algum e justo pra entregar vocês? Por que eu faria isso?!

— Eu sei... eu só... sinto muito.

De novo Aye juntou seu corpo ao do moreno e o abraçou fortemente. Depois do banho Yok vestiu-se e deu uma de suas roupas para o mais baixo vestir. Ayan puxou Yok de volta para a cama onde sentou-se no canto e pediu que o mesmo deitasse em seu colo, então ele só obedeceu. O mais baixo acariciava carinhosamente os cabelos molhados de Yok e os mesmos molhavam de novo seu short. Fazia realmente muito tempo que ele não se permitia sentir tantas coisa. Ele sempre evitava tudo que podia.

— Você pode me contar o que aconteceu com você?...

O moreno suspirou e logo começou a falar.

— Aye, no passado eu costumava ter alguém a quem eu me entreguei por completo desde o início, esse alguém era o Dan — ele começou —, mesmo com os meus amigos me dizendo o tempo todo que ele não era bom pra mim, eu sempre estive lá por ele, sempre o defendi e o protegi como pude. Eu já briguei com o Sean por causa dele, e eu ainda o defendi. Sabe, o pai do Sean, ele foi morto por um policial há algum tempo... esse policial era o Dan... — Yok parou por um minuto depois de sentir sua voz travar completamente e engoliu o choro para que assim pudesse continuar falando — Eu não fiquei do lado do Sean, eu defendi o Dan... eu tentei entender o lado dele e ignorei como Sean se sentiu... Você entende o que foi isso?! — Ayan ouvia atentamente cada palavra dita por Yok e também podia sentir como tudo isso mexia com ele — Eu não fiquei do lado do meu amigo. Não fiquei do lado do amigo que estava sempre comigo e sempre tentou me avisar que o Dan não era bom pra mim. Trocar uma amizade de anos por alguém que você acabou de conhecer nunca vai ser uma boa ideia. Eu não os ouvi, então tudo foi por água abaixo! Ele sempre me disse que teve motivos pra fazer tudo o que fez... mas tudo pode ser evitado e se fez foi por querer... antes a nossa pele do que a dele...

— Mas depois você o permitiu voltar, não foi?

— Você já gostou muito de alguém? Se sim, vai saber o porquê eu o permiti voltar...

— É, eu já... — respondeu Aye com os dedos adentrados nos cabelos molhados de Yok. Era dele de quem o mais baixo falava.

— Me desculpa pelo que eu disse e fiz... eu não queria ter culpado você. É que...

— Tá tudo bem... eu tô aqui... Você ainda tá machucado... — Yok suspirou profundamente e ficou em silêncio. Ele realmente ainda estava machucado, mas não tanto quanto imaginava, já que permitiu que Ayan fosse tão longe consigo — Me deixa te ajudar, Yok... Me deixa chegar mais perto e não me manda embora. Adianta alguma coisa se eu falar que não quero ir? Você vai me deixar ficar e não vai me afastar? Me deixa entrar e te ajudar com isso...

Aye tocou o peito do mais alto por cima da camisa e sentiu seu coração bater desacelerado enquanto seus olhos estavam cruzados um no outro.

— Eu só não quero que seja como da última vez... — disse, mas soava mais como um pedido doloroso.

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