A mais bonita das despedidas...

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O restante daquele dia foi algo incrível e de outro mundo. E durante à noite foi diferente. No final da tarde os garotos voltaram para onde estavam hospedados e depois de um bom banho para tirar todo o sal do corpo, eles retornaram à praia. Suas roupas eram leves, pois mesmo que fosse noite e ventasse um pouco, ainda era quente. Como muitas pessoas não gostam de estar na praia tão tarde, os rapazes aproveitaram essa oportunidade e Todd comprou algumas toras de madeira para fazer uma fogueira ali na areia.

— Ei, caras! Tragam mais bebidas! — pediu Namo ao ver Black e Sean com algumas sacolas na mão.

Os murmúrios eram distantes dos ouvidos de Ayan e ele só conseguia ouvi-los de relance. Seus olhos amendoados encaravam o mar a sua frente e ele sentia o vento bater em seu rosto. Aquilo tinha mesmo que acabar? Foram dias complicados e ainda assim incríveis. Ele só queria ter mais tempo antes de voltar para o mundo de caos que o espera em Bangkok, mas tudo aconteceria por um motivo.

Tudo estava deslumbrante. À noite estava incrível como de costume. O céu estava estrelado e sem nuvens, e todos estavam sentados ao redor da fogueira conversando sobre coisas bobas.

— Nós temos mesmo que ir embora amanhã? — perguntou Namo que aproveitou bem pouco da viagem, mas pegou os melhores momentos.

— Infelizmente sim... — afirmou Todd.

— O que vocês pretendem fazer quando voltar? — perguntou White para Ayan e seus amigos.

— Verdade, nós não chegamos a conversar sobre isso. — continuou Todd e endireitou-se na cadeira.

— Eu vou terminar meu curta-metragem que comecei durante o último ano... Não da pra ficar de férias pra sempre, né. — brincou Wat.

— E você, Kan? — perguntou Sean.

— Ah, eu não sei direito. Ir pra faculdade talvez... Ainda tô bem perdido.

— Namo?

— Faculdade, talvez. Meus pais querem que eu volte pra casa depois do período de férias que pedi deles, mas a professora Sani pediu minha ajuda para organizar algumas coisas da escola, então tenho que considerar.

— É uma boa oportunidade! Pelo que eu soube, depois que um garoto rebelde mexeu com as normas estabelecidas pelo colégio, Suppalo mudou muito.

— Esse garoto foi o Ayan. — riu Kan.

— O assunto deveria ter sido abafado, mas saiu em todos os jornais o jeito que a escola tratava os alunos. Você fez bem Ayan. Pretende voltar com o Namo ou sua mãe quer você de volta também?

— Ainda não parei pra pensar nisso, Todd. O Kan tá me representando muito no quesito vida após a escola. Realmente a oportunidade do Namo com a professora Sani é tentadora, mas não pra mim. E sobre minha mãe, ela não se importa muito com oque eu quero ou não fazer. — falou despreocupado — Ela me da total liberdade de escolha. Talvez seja por isso que as vezes eu me vejo tão perdido.

— Não tem ela pegando no seu pé e te dizendo oque tem que fazer. — brincou Black e todos riram com isso.

— Mas e vocês?

— Nós? Ah, nós vamos apenas encarar a vida e os problemas que deixamos pra lá e depois vê como ela vai seguir. Tudo vai depender de como as coisas ficarão em Bangkok.

De todos, Todd parecia o mais sábio sobre esse tipo de assunto, mesmo que só tenha passado a entendê-los depois que se juntou com o grupo de seu namorado.

— Não da pra ser pintor em uma cidade ou país onde o governo menospreza arte e julga ser algo... digamos que seja algo feito por pessoas levadas e rebeldes. — disse Yok — Mas, sabe de uma coisa? Eles não estão totalmente errados, mas arte é a forma mais bonita que há de expressar seus sentimentos.

— Artistas são os piores tipos de pessoas. — brincou Wat — Vamos citar aqui os pintores, como você, Yok, e também os escritores.

Mesmo que os temas conversados ali fossem sérios, eles conseguiam deixá-los mais leves. Todos eram bem adultos para saber como conversar sobre tais assuntos e todos prestavam extrema atenção nas palavras de quem começava a falar.

— Você vai desenhar a pessoa que você gosta colocando no papel tudo que acha mais bonito nela, não só isso, claro. Você vai colocar seus sentimentos lá, e finalmente vai entregar o desenho pra pessoa. Se vocês acabarem oque tinham, ela ainda vai ficar com o desenho e vai lembrar sempre de você. Você nunca vai ser esquecido pela pessoa...

— Você tem razão... — sorriu e encarou brevemente o chão — Espero que ele nunca me esqueça mesmo... — seus olhos encontraram os de Ayan e o baixinho sorriu discretamente. Seus olhinhos brilhavam tanto quanto a lua daquele céu.

— Vocês estão prontos pra isso enfrentar esse governo?

— Ninguém tá preparado pro que não conhece, Ayan. Não sabemos oque vem depois, mas sabemos que é tudo consequência do que fizemos. Não que a gente ligue pra isso. Nós não temos muito em comum, mas temos o medo de perder um ao outro, isso que nos move e não nos deixa afundar de vez.

— Por isso nos disse pra aproveitar...

— É. — sorriu fraco — A vida tá passando e estamos esquecendo de viver. Então, se fosse o último dia de nossas vidas e alguém perguntasse para nós se nós vivemos, poderíamos dizer que aproveitamos da melhor maneira...

— Vamos aproveitar o momento... O agora!

Gram levantou-se da cadeira com uma cerveja nas mãos e a levou para o alto, fazendo todos os outros o seguirem e também levar suas bebidas ao ar.

— Essa é nossa última noite... Vamos aproveitá-la.

— Caras, vamos brincar. — começou Kan colocando sua bebida presa na areia — Corrida até à ponte. Quem chegar por último toma todas as bebidas. Certo? — perguntou e Todos concordaram pondo suas bebidas na areia.

— Preparar... apontar... vai!

Depois de alguns minutos correndo, eles esqueceram completamente do lugar que teriam que chegar, pois suas brincadeiras e risadas tiraram o foco do desafio. Agora eles eram só crianças correndo sem rumo algum. Eles brincavam e olhavam para os que vinham mais atrás com brincadeiras loucas e risadas contagiantes. Os momentos eram tão bobos e tão felizes... Eram tão únicos...

"Nós corremos como se fôssemos chegar a algum lugar, mas estávamos apenas sentindo o vento bater no rosto. Estávamos correndo para nos sentirmos vivos. Se não conseguirmos salvar o mundo inteiro, vamos apenas nos salvar do mundo..."

"A liberdade é o oxigênio da alma." — Gram - Not Me.

Vivam! Nós nunca vamos saber quando vai ser a última vez de algo. Aproveitem e não tenham medo de serem vocês mesmos. Vão ao cinema, ao parque, brinquem na chuva, cantem no chuveiro, vão à praia e mergulhem cada dia mais fundo. Curtam a madrugada no alto de um prédio. Vejam o céu e a cidade. Vejam o mundo colorido. Vão a festas, museus... Curtam! Sintam o vento. Lutem pelas coisas certas. Corram riscos. Amem alguém pela primeira vez. Chorem. Façam tudo que tenham vontade e não se arrependam por nada, se você se arrepender, você não viveu.

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