Sentimentos

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— Você dormiu? — perguntou baixinho, pois já era tarde da madrugada e tinha medo de acordar o outro, caso estivesse dormindo.

— Não consegui mais...

— Posso dar um beijo em você...? — sussurrou Aye para Yok que ainda estava deitado para o outro lado da cama — Eu não quero ficar longe assim...

Ele encarava o teto e sentia-se exposto por não ter o corpo do maior junto ao seu. Por não ter aquelas mãos frias tocando seu corpo e o causando arrepios. Ele queria estar perto e os poucos centímetros que os separava pareciam quilômetros de distância.

— Vem aqui... — chamou o mais alto e o menor voltou para cima, onde deitou sua cabeça no braço do moreno.

— É bem melhor...

— Não podemos esquecer de acordar cedo amanhã. — falou acariciando os cabelos do baixinho.

— Não vamos... Você tá quentinho.

— É por sua causa...

Aye olhou para o rapaz e o deu um beijo delicado nos lábios. Um beijo que transmitiu conforto e segurança. Transmitiu calor... Aquela madrugada eles precisavam um do outro para conseguir dormir depois de tantas tentativas frustadas. Precisavam do calor corporal do outro para esquentar algo que não tinha nada a ver com o frio; esquentar o coração que estava tão gelado por estar longe do outro.

— Eu queria te falar uma coisa... mas podemos deixar pra amanhã...? — falou ao afastar seus lábios — Isso aqui tá tão bom que eu não quero perder...

— Amanhã ainda vamos estar aqui e você pode me falar oque quiser...

Quantos amanhã iriam passar depois daquele... O baixinho fingiria que nunca havia falado nada, mas antes tivesse...

No começo da manhã, o som da chave girando na porta pôde ser ouvido e a mesma foi aberta lentamente pelo dono do quarto.

— Hah?!

A surpresa estava nítida em sua expressão e em sua voz, que por sinal não soou baixa. O quarto estava arrumado, com exceção da cama onde os dois rapazes estavam deitados em opostas posições. O sol brilhava forte do lado de fora, mas entrava de forma suave no quarto, pois as cortinas eram escuras e estavam fechadas.

— Eles não se resolveram?!

Ambos os rapazes não estavam dormindo, estavam esperando ansiosamente pelo momento em que a porta seria aberta e eles poderiam sair do quarto para comer alguma coisa e aproveitar o dia quente. Tudo estava em perfeita ordem, mesmo que na noite anterior tudo estivesse uma completa bagunça.

— O que te fez pensar que trancar a gente ia fazer com que nos resolvêssemos? — perguntou Yok levantando da cama e calçando suas sandálias.

— Perdeu seu tempo, Todd...

Em tom de decepção, Aye passou no meio dos dois colegas que atrapalhavam a passagem e caminhou até a cozinha do apartamento, se juntando aos outros.

— M-mas... Não é possível! — falou indignado para Gram e bateu seu pé como uma criança birrenta — Uma noite inteira juntos e não trocaram nenhuma palavra?! E pior! Nenhum soco! O que vocês fizeram?!

— Trocaram olhares...? — perguntou Gram dando de ombros — Enfim, é a vida...

Atrás de Ayan, o mais alto o seguia ignorando a pessoa a sua frente e fingindo que ela não existia.

— Eu ouvi, Todd, e sim, nós fizemos algo... dormimos à noite toda. — respondeu desinteressado enquanto colocava um pouco de café em uma xícara.

— Como foi?

— O que?!

— O que?! Você é tão tapado assim?! À noite de vocês, oras! — respondeu bravo.

— Não teve nada, Kan... Nós só não nos resolvemos. — respondeu sério e seu amigo choramingou.

— Ninguém aguenta mais vocês... Se resolvam, pelo amor de Deus...

Yok sentou-se desatento na cadeira e mordeu uma fatia do bolo de cenoura com chocolate que White preparou. Sim, doce aquela hora da manhã porque ninguém é de ferro.

— Você vai comer isso?! — perguntou Wat e Yok o olhou sem entender, mas apenas o respondeu.

— O que tem de errado com o bolo?

— Você não prefere um sanduíche com suco de laranja? Eu posso preparar, mas doce...

— Ele é acostumado. Tá tudo bem. — respondeu Black passando a mão no ombro de Wat e Ayan o olhou.

— Pena que doce não adoça a vida de uma pessoa amarga...

— De quem é o café da manhã? — respondeu friamente — Ah, sim...

— Faz oque quiser fazer! Eu não me importo. Mas queria perguntar, quer tomar algo? Tem suco... Refri... Ah, e o mais indicado pra você, veneno, gelo e limão!

Yok arregalou seus olhos indignado e lutando muito para não rir daquilo, mas Aye deixou um sorriso escapar sem querer e fingiu que era uma risada irônica.

— Êita! Calma, cara... Vocês já começam o dia assim?

— Nós não ouvimos nenhuma palavra de ofensa durante a madrugada, por que logo agora vocês começam a brigar?

— Não ouviram porque quando chegaram nós já havíamos dormido.

Horas antes

— Você ainda tem dúvida sobre os meus sentimentos por você? Eu sou tão ruim assim aos seus olhos...? Eu me sinto vulnerável perto de você e tenho medo do que isso possa significar...

Aye sussurrava baixinho para não acordar o moreno que finalmente havia conseguido dormir depois que teve o mais baixo ao seu lado. Seus olhos fitavam os traços desenhados do moreno e ele só queria que aquilo nunca chegasse ao fim.

Rotinas diferentes, mundos diferentes, vidas diferentes. Ele só queria que tudo fosse diferente, assim como todas as outras coisas eram.

"Por que comigo...? Por que essas tempestades acontecem justo no meu céu? Por que agitam tanto as ondas do meu mar? Isso dói... Nunca imaginei minha vida com alguém tão contrário de mim, e agora que eu achei, eu não quero imaginar minha vida sem sua bagunça... Eu sou oque você quer, mas eu sinto muito se não sou oque precisa... Eu apenas sinto muito..."

Isso nunca daria certo na visão do garoto. Mesmo ele querendo ficar, seu coração não estava em paz por saber dos pensamentos do moreno sobre ele.

"Será que ele realmente acha que eu só quero usá-lo? Logo eu, — sorriu fraco — que me apaixonei primeiro e não via a hora de vê-lo de novo... Tenho medo de estragar tudo...

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