7 chaves

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Aye colocou tudo em ordem na casa de seu amigo e desfez sua mala. Algumas coisas haviam ficado fora do lugar no dia em que voltaram para Bangkok.

A casa de Wat era de frente para o mar. Não era uma grande mansão, era uma casa praiana, simples e aconchegante, então no final da tarde Ayan sentou-se na cadeira da varanda e viu o incrível pôr do sol com seus raios alaranjados tocando a água.

"Tudo me lembra você... Esse é o verdadeiro inferno."

O baixinho levantou-se e entrou para o quarto novamente, e vendo suas pílulas em cima da estante, Aye hesitou ao tomá-las e olhou para o céu que mudava de cor à medida que escurecia. Talvez não fosse uma má ideia sair aquela noite e esquecer um pouco de tudo. Se divertir sozinho... Talvez ainda fosse possível, não é? Mesmo tristonho, Aye pôs uma roupa confortável e pegou sua carteira para ir ao mesmo bar que frequentou pouco antes.

Parecia estar havendo alguma festa, pois haviam mais pessoas que o normal. O dobro das que estavam lá quando ele e seus amigos visitaram o lugar. Era música ao vivo de uma banda qualquer, mas era bem envolvente e Aye sentou-se num lugar um pouco afastado do resto das pessoas.

— Boa tarde! Que bebida vai pedir?

— Algo forte...

— Temos uma nova linha de whisky, deseja experimenta-lo?

— Por favor. — sorriu gentilmente e a pessoa que o atendeu se retirou para buscar o pedido.

Pouco depois, enquanto curtia a música suave que agora tocava, a garçonete retornou para a mesa de Ayan e o entregou dois copos; um com seu whisky e o outro com uma bebida que ele não havia pedido.

— Desculpe, eu não pedi isso...

— Eu sei, — sorriu — mas aquele cara mandou pra você. — falou e apontou para uma mesa pouco afastada do rapaz — Ele diz que é por conta dele.

Ayan encarou o rapaz sentado na mesa e percebeu que ele o olhava de um jeito familiar. O moço o olhava como Yok costumava olhar para ele. Um olhar de desejo e admiração, então ele recebeu um sorriso um tanto tímido do rapaz da outra mesa.

Ele não pareceu ligar muito, mas quando o whisky desceu pela sua garganta ele a queimou por completo e quase de imediato tirou toda consciência do garoto. Seu peito queimou e ele apertou forte seus olhos. Era como se ele já estivesse perdendo o controle e em sua mente não houvesse mais espaço para Yok.

O whisky em seu organismo logo juntou-se a bebida que fora enviada para sua mesa e ele não ligou para a forma que seu corpo estava reagindo a tudo aquilo, só continuou e continuou bebendo.

Algumas horas depois Aye saiu para a frente do bar e estava decidido a ficar na areia vendo tudo. Ele estava bêbado demais para fazer qualquer coisa, foi quando ele sentiu uma mão fria tocar sua cintura por cima de sua camisa de praia, então ele virou-se imediatamente. Era o mesmo homem que estava lá dentro e lhe enviou aquela bebida estranha.

— Posso te levar pra casa? Você não parece bem... — falou demonstrando preocupação.

— Eu es...

Antes de responder, Ayan foi tomado por algo que não iria saber explicar oque foi, pois ele simplesmente beijou o rapaz a sua frente e na hora sentiu o gosto da mesma bebida que tomava minutos antes. Aquele sabor amargo desceu pela sua garganta e por algum outro motivo, um gosto fraco de menta surgiu no meio do beijo.
O rapaz que fora beijado não recuou e mesmo sabendo que Ayan estava completamente bêbado ele continuou o beijo, pois era oque ele queria.

Ambos voltaram juntos para a casa de Wat e no calor do momento Aye quase fazia uma besteira enorme e que se arrependeria amargamente depois. Quando o menor sentiu a mão do outro em sua cintura ele arrepiou por completo, e em sua mente veio a imagem de Yok e a sensação de como seu toque o deixava. Aos poucos o álcool ia deixando seu corpo e suas lembranças iam voltando.

O gosto de menta sentido antes era o gosto dos lábios de Yok... Menta fresca... O que ele estava prestes a fazer? Por instinto, Aye afastou o homem de si e o mesmo o olhou sem entender.

— Me desculpa, mas é melhor você ir. — falou e limpou seus lábios com as costas de sua mão.

— O que?!

— Vai embora. Só vai!

Depois de abrir a porta e basicamente expulsar o homem de lá, o menor escovou os dentes e trocou sua roupa. Ele meio que se sentiu sujo por deixar alguém toca-lo, alguém que não fosse o Yok...

Sentado na areia como ele pretendia fazer antes de beijar outra pessoa, Ayan chorou. Não um choro desesperado, mas um choro silencioso. Lágrimas rolavam em seu rosto o tempo todo e ele juntou seus joelhos para assim abraçar o próprio corpo.

"Eu também errei... Errei em querer preencher o seu vazio com outra pessoa... E sabe quando eu descobri que errei? Quando eu senti o seu gosto nele... Quando percebi que o toque não era o seu e quando o motivo do arrepio não foi suas mãos... Eu tento te procurar em outras pessoas e outros rostos, eu sempre tento me enganar, nunca é igual... Você não poderia ter deixado acesso livre para outras pessoas? Por que trancou isso aqui e levou consigo as chaves? Por que não as deixou comigo? Eu preciso viver..."

Todos esses pensamentos eram acompanhados por lágrimas e mais lágrimas. Ayan nunca se viu tão triste como estava nesses últimos dias. Nunca viu seu coração tão adoecido como ele estava. Nunca se viu tão perdido como ele estava...

"Você tem meu perdão, Yok... Então, por favor, me deixa viver... Sai da minha cabeça e da minha vida... Você não é obrigado a me amar de volta. Só me deixa viver. Eu preciso me acostumar sem você... Eu preciso reaprender a viver...

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