Bom em despedidas

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— Tem certeza disso?

— Tenho, Kan... Já conversamos sobre isso pelo celular, não volte ao assunto de novo. E não é como se eu fosse pra outro planeta, é só um lugar diferente. — respondeu Ayan, enquanto colocava uma camiseta branca em cima de sua mala.

— Mas você nem queria fazer faculdade... E de quem é essa camisa?

— As vezes os planos mudam, não é? E nem é muito tempo. A camisa é minha...

— Achei que o tempo na praia te faria pensar direito...

— E fez, talvez seja por isso que eu estou indo embora agora.

— Não vai se despedir dos outros?

— Não tem outros, Wat. As pessoas que importam estão aqui agora. Vocês vão ver como isso vai passar depressa...

— O ano tem passado depressa... Você mudou, Aye, nós mudamos...

— É bom ou ruim?

— Não sei, mas nós não fizemos metade das coisas que planejamos fazer pra melhorar...

— Outras pessoas já fazem isso por nós. E é bem melhor não nos metermos em confusão por algum tempo.

Distraído com seus amigos e com as conversas que tomavam o rumo da despedida, a voz eletrônica grave soou no aeroporto, chamando a atenção dos três para as caixas de som embutidas nas paredes.

— Acho que tá na hora de ir...

— Não fica sem dar notícias... Wat ainda tem que terminar o curta-metragem que começou depois do fim do ensino médio, por isso não vamos com você...

— Eu sei... Mas tá tudo bem, mesmo. Mas agora eu tenho que ir. Se cuidem, cuidem uns dos outros e fiquem bem... Eu amo vocês. — sorriu.

— Nós amamos você...

Aye os deu o último abraço antes de embarcar. Suas malas pesadas deslizavam de forma sútil no chão de cerâmica do aeroporto. Seus olhos eram firmes e não mostravam tristeza alguma, mas no fundo ele sabia oque estava deixando pra trás.

Pessoas chegavam e saíam do aeroporto o tempo todo, assim como Aye, que agora já estava para sair. Kan e Wat o viam já distante e sentiam a dor da despedida.

Ayan não olhou para trás em momento algum, apenas seguiu em frente com a cabeça erguida; ele realimente estava decidido.

— Deveríamos ter contado pra ele? — perguntou Wat enquanto segurava em suas mãos o colarinho de Aye.

— Não... Ele vai voltar pra buscar...

— Nós mesmos vamos entregá-lo?

— Também não... No fundo ele sabe que não tá com ele, e ele também sabe que não tá com a gente...

— Por que o Yok não o entregou?

— Porque ele o ama... Se ele mesmo entregasse, saberia que deixaria Ayan preso ainda mais... Mas vamos devolver pra ele. Aye vai voltar, e ele não espera que isso esteja com a gente.

Kan e Wat olharam uma última vez para aquele avião e deram as costas, foi nesse momento que Aye resolveu olhar e viu seus dois amigos indo embora, ele finalmente pôde relaxar e sentir a dor de ir embora.

Enquanto esperava pelo momento da decolagem, ao seu lado sentou-se um garoto alto e moreno, assim como Yok; seu coração apertou ao olhá-lo e o rapaz o deu um sorriso bobo, comum de alguém que acabara de sentar ao seu lado no ônibus. Obviamente ele o devolveu o gesto, então olhou pela janela e lembrou-se do que estava deixando para trás.

"Vai ser melhor assim..." — pensou consigo e deixou um suspiro pesado escapar de sua boca.

[...]

— Argh!

Tudo fora lançado ao chão de forma brutal. Todas as garrafas de vidro foram quebradas, copos e tudo que poderia fazer um estrago grande e que pudesse aliviar a raiva e a tristeza que sentia arder dentro de si.

— Eu odeio você, Dan! Eu odeio você! — gritou, mais uma vez revirando tudo que estava ao seu alcance — Eu vou acabar com a sua vida na primeira oportunidade que eu tiver e que se foda todo o resto! Eu não tô nem aí pra porra do mundo!

Yok agarrou suas roupas que estavam em cima de sua cama e foram dobradas por sua mãe, e as lançou no chão, puxando junto a elas, os lençóis. Mas ele encontrou algo que não lembrava estar consigo; o moletom do rapaz...

— Eu não tô nem aí pro mundo... — desabafou exausto, enquanto caía de joelhos em cima de todas as roupas que agora se misturavam com os estilhaços de vidro.

Sua mão fria tocou o casaco que estava quente por estar embaixo de todas aquelas roupas e sentiu um pequeno choque, igual ao que sentiu quando sua mão tocou a de Ayan no bar há algumas semanas atrás.

O cheiro dele ainda estava ali. A lembrança de quando ele o entregou o moletom. A lembrança do beijo... Do toque... Daquela madrugada na praia... De quando eles fizeram as pazes e deitaram-se na areia... Dos ventos daquela noite, dos todos... Como ele sentia falta...

— Eu queria te ligar e te pedir pra não ir, Aye... Eu queria ter tido coragem de dizer o quanto eu precisava de você... Precisava falar que te amo e que não tinha outra pessoa. Nunca foi outra pessoa, você era a única... Eu nunca escolheria outra pessoa, além de você...

— Yok?

A voz de Gram soou do lado de fora da porta, mas ela logo foi aberta e ele viu o caos que estava do lado de dentro. Viu o estado que seu amigo estava, enquanto chorava agarrado ao moletom.

O rapaz de cabelos platinados pareceu perder o mundo quando o viu daquele jeito. Ele se aproximou cautelosamente, por si, para evitar os cacos espalhados, e pelo moreno, para não assusta-lo, então ele o abraçou.

— Tá tudo bem... Levanta...

— Não, Gram... Não tá... Eu estraguei tudo.

— Não se culpe...

— Um vilão nunca faria isso que eu fiz, sabia...? — perguntou tristonho.

— Claro que não, porque ele não é uma pessoa boa...

— Não Gram... Porque ele preferiria perder o mundo à perder quem ele ama. Ele sacrificaria o mundo por essa pessoa, e eu sacrifiquei essa pessoa pelo mundo... Isso não me faz herói... Nem tão pouco o vilão...

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