A lua e eu

383 42 51
                                    

— Eu cometi um erro enorme e irreparável... Meus amigos me disseram muitas coisas, e na hora eu também quis retrucar, mas me pareceu certo calar e deixá-los me tratar como eu sabia que merecia. Eles me perguntaram se eu não podia pensar mais sobre tudo, mas, a verdade é que eu já havia pensado e sempre soube das consequências. Eu não consigo sentir outra coisa além de raiva de mim e tristeza pelo Ayan...
Eu não tiro seu direito de me odiar, mas eu sinto muito por tudo que eu disse... Eu realmente sinto muito por não ter ficado e por partir seu coração dessa forma. Eu realmente não queria tê-lo deixado ir."

O moreno conversava com a lua pela janela de sua casa e não conseguia achar nada que tirasse seu pensamento do garoto ou de seus amigos. Ele sabia que havia decepcionado todos eles. Que havia decepcionado a si mesmo... Seus olhos queimavam, e mesmo querendo desmanchar em lágrimas, elas não molharam seus olhos.

— Quem perdeu? Você ou eu? — perguntou para a lua que brilhava intensamente no céu escuro — Eu não tenho nenhuma moral pra falar sobre paixão, pois como você viu, a minha primeira não deu muito certo... Mas eu realmente queria que fosse ele... Eu sei que a culpa é minha e eu assumo que o erro foi meu... Agora você divide comigo um erro que não foi seu... Naquela praia era eu, você e ele, agora é só você e eu... Eu sinto muito se você vai perder noites de sono por minha causa... Sinto muito se você se entregou tanto nisso e eu decepcionei você. Não deixa de dormir por minha causa. Não para de comer quando sentir minha falta... Eu me preocupo com você, e pode parecer egoísmo, mas eu não fiz isso por mim, Ayan... Será que você vai entender? Você era meu algumas horas atrás e eu tava tão feliz por ter você... Eu realmente sabia que era uma despedida... Eu senti quando o céu caiu, mas eu não quis dizer que sabia oque tinha sido...

Não só Ayan iria perder o sono, mas Yok também; Gram também... Todos perderam alguma coisa aquele dia, mas os dois garotos que nem chegaram a ser namorados perderam muito mais.

As vezes, quando um amor que não chegou a acontecer acaba, dói mais do que um amor que realmente aconteceu, porque foi quase, e se foi quase, não aconteceu...

— Eu queria muito ter outra saída... Queria que você pudesse me entender... Mas eu realmente entendo a raiva que você deve estar sentindo, e nunca vou me cansar de pedir desculpa por sempre machucar você, tudo foi culpa minha, desde o início... Tudo veio da minha parte. As confusões, as brigas... Você vai me ligar pra dizer que está bem? Eu sei que não, é idiotice esperar...

Aquela noite estava tão tristonha quanto os garotos. Tinha um ar melancólico e frio, vazio...

"Por que ele fez isso...? Eu realmente não consigo entender... Eu realmente não passei de um passatempo ou algo assim? Eu não fui suficiente pra ele...? — perguntou Aye para si mesmo.

Seus olhos estavam vermelhos, pois ele chorou à tarde inteira por ter tido seu coração partido por alguém que amou verdadeiramente pela primeira vez em sua vida. O quarto estava escuro e ele estava deitado encarando a lua, assim como o moreno a encava em seu quarto.

"Por que dói tanto...? Por que realmente parece que alguém o cortou em mil pedaços, mas ainda o deixou batendo aqui dentro do meu peito para que só assim eu possa realmente sentir a dor de um coração partido... Parece real... Ele parece despedaçado e parece sangrar... Chorar não adianta mesmo? Não ameniza isso? O que eu tenho que fazer pra parar...? Me apaixonar por outra pessoa?"

Quantas perguntas sem respostas tinha naquela cabecinha confusa... Quantas dúvidas sobre si mesmo... Quantos porquês...

"Sim... Eu escolheria ele..."

— Isso vai passar...

Aye levantou-se da cama e caminhou até o painel de sua tv onde abriu a pequena gaveta e tirou de lá algumas de suas pílulas passadas pelo médico para reduzir suas crises... Três frascos, um comprimido de cada. Havia um bom tempo que Ayan não tomava aquelas pílulas, pois graças a seus dois amigos e ao moreno, suas crises haviam passado, mas graças ao moreno elas voltaram... Yok se culparia por um bom tempo por tudo isso.

Como se não bastasse os seus próprios fantasmas, agora ele facilmente seria atormentado pelos do baixinho. Pelo medo, pela culpa que o consumiria dia após dia... Pelo erro...

Os remédios não demoraram a fazer efeito em Aye e ele caiu na cama novamente. Dopado, Ayan não teve tempo de pensar em nada e sequer chorar por sentir uma dor que não era física. Seu telefone tocou sabe-se lá por qual vez aquele dia, mas dessa vez ele resolveu atender.

— Aye! Onde você está?!

— Em casa... — respondeu arrastado, enquanto tentava manter seus olhos abertos.

— O que você tem?! Por que não atendeu às ligações?! E por que tá falando mole?

— Eu não tenho nada... Só tomei um remédio pra dormir e ele já fez efeito... Por isso a voz arrastada...

Antes de mais nada, Ayan desligou a ligação e em seguida o celular. Ele não lembrava como o remédio o deixava. O deixava aéreo e sonolento, tirava todas suas emoções por algum tempo. Ele realmente não sentia nada além do sono, então adormeceu.

Mas ele deveria saber que não é sempre que dá para fugir da dor. Não dá para escondê-la por trás de remédios o tempo todo, até que ela realmente tenha sumido. Não dá para fugir da realidade. Esse tipo de remédio poderia ajudá-lo com seus problemas, mas ele iria viver como um fantoche dos medicamentos. Passaria apenas a existir e respirar, pois os remédios iriam tirar toda fonte de felicidade que há. Irá apenas deixá-lo despreocupado até o efeito passar e esse ciclo se repetir de novo e de novo.

Bed Friend Onde histórias criam vida. Descubra agora