Coincidência

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Olhares podem esconder segredos que podem arruinar impérios e esconder a mais dolorosa verdade. O garoto que havia emprestado seu skate para Yok, junto da metade daquelas pessoas presentes na pista já haviam sido descriminadas por seus estilos de vida. Todos entendiam o que Yok estava passando e porque estava fugindo. O olhar de Yok recaiu sobre todas aquelas pessoas e ele segurou o skate.

— Obrigado...

Com um sorriso largo no rosto Yok agradeceu ao garoto, que deu um sorriso ladino e assentiu com a cabeça. Ele colocou o skate no chão e pegou impulso com o outro pé, assim descendo a enorme pista de skate como alguém que já fazia isso há muito tempo. Antes que os policiais pudessem chegar na frente da rampa, Yok saiu em alta velocidade, passando no meio de uma multidão e arrancando gritos de apoio de todos ali. Grande da parte das pessoas de fora da pista achavam que era apenas um esporte divertido, mas de divertido não havia nada, mesmo assim Yok sorria. Ele se divertia enquanto via as pessoas ficarem para trás, mas quando voltou seus olhos para a frente era tarde demais.

— Meu corpo todo dói...

Com a colisão causada por Yok ao rapaz, o moreno caiu por cima do garoto, que agora o olhava sem entender enquanto seus dois amigos viravam-se para entender o motivo do atrito e ao olharem para trás viram Yok caído por cima de seu amigo. Eles permaneceram quietos vendo aquela cena a sua frente enquanto Yok ainda estava deitado por cima do estranho.

Os olhos do mais baixo eram profundos e estreitos, e seu cenho estava franzido. Ele se perguntava quem era aquele garoto que havia acabado de derruba-lo e de quem ele estava fugindo. O moreno que foi o causador de todo aquele alvoroço estava apoiando seu corpo nas mãos que estavam ao lado da cabeça dele.

— Vai me deixar ir? — perguntou, um sorriso presunçoso se formando no canto de seus lábios.

— Eu preciso? — respondeu, sorrindo de volta.

Seus olhares se cruzaram apenas como dois estranhos ao se esbarrarem na rua, mas que ficaram presos em uma espécie de transe. Enquanto os dois estavam caídos no chão e encarando os olhos um do outro, os dos outros brincaram com a situação.

— O que aconteceu aí?! Então é dessa fanta que você gosta, não é, Aye? — brincou Kan e Wat continuou. Eles eram como patati e patatá, Debi e Loide e outras duplas impossíveis de segurar.

— E você? Você parece coca... Mas você é bem... — hesitou, mas sua expressão o entregou — Vai poder beber da fanta dele?

Uma risada alta e gostosa soou vindo de Kan e fez com que Wat sorrisse também. Suas risadas fizeram com que os dois garotos saíssem do transe. Yok levantou depressa do chão e depois de tanto olhar para o sorriso travesso de Ayan, ele o ignorou e o ajudou a levantar, apanhando suas coisas do chão e as entregando de volta em suas mãos.

— Me desculpa por isso. — pediu, sincero.

— Você tá fugindo de quem? — perguntou Kan, mas Yok o ignorou e apenas sorriu.

O moreno se desculpou com o mais baixo enquanto limpava sua roupa e as mãos que haviam sido cortadas pelo impacto que tivera com o chão. Ayan ainda não havia entendido o que estava acontecendo e continuou olhando para Yok parado em sua frente.

— Eu mereço saber o nome do garoto que me derrubou, não mereço? — perguntou Ayan, tão provocador.

— Y...

— Sujou! Vamos embora! — antes que o garoto pudesse falar, Gram correu depressa até ele e quase o derruba de novo, mas puxou o garoto e o fez olhar para trás e lembrar o motivo pelo qual estava correndo — A gente tem que ir. Agora!

— Fico te devendo essa, baixinho!

Yok sorriu de canto e piscou para Ayan, que o respondeu com um sorriso presunçoso e carregado pelo desejo incontrolável que o invadiu quando Yok acidentalmente o derrubou. Ele não sabia que desejo era esse, mas ele com certeza pensaria nisso por horas. A pergunta é: quem não pensaria?
Os olhos de Aye seguiram o moreno até ele virar em uma das esquinas do parque enquanto corria junto à Gram.

— Baixinho? Dentro de alguns dias todo mundo vai passar a te chamar assim. Ninguém mais te chama de Ayan. Ninguém mais te respeita! — falou Wat fingindo indignação e Ayan o acertou com um tapa na cabeça, fazendo-o sorrir.

— Todo mundo menos vocês. Vamos embora primeiro, antes que as coisas apertem para o nosso lado também.

Naquela manhã ensolarada de Bangkok, por pura coincidência, Ayan, Kan e Wat também estavam nas ruas. Para ser mais específica, no protesto causado por Yok e sua gangue, mas o garoto não sabia. Em meio a risadas descontraídas, os três foram embora do parque enquanto do outro lado dele Gram e Yok corriam depressa, ainda fugindo daqueles policiais.

— O que foi que você fez?! — perguntou Gram para Yok. Estava indignado enquanto corria rapidamente.

— Eu estava pintando! — respondeu — Ou você acha que eles correriam atrás de mim sem eu ter feito nada? — os dois se entreolharam e Gram respondeu.

— Acho! — sorriu.

— Tanto faz! Vamos dar a volta e pegar a moto e as tintas.

— Você deixou a moto?!

— O que você queria que eu fizesse?! Eles estavam na minha cola!

— Não importa! É a moto! — gritou Gram, mas eles sorriram e pegaram um atalho de volta para a moto. Juntando as tintas de forma rápida, Yok as colocou de volta na mochila.

— E cadê a sua moto?!

— Na frente do parque. Você vai me deixar lá. Agora vai!

Enquanto Yok pilotava para fora do parque em sua moto, ele passou novamente pelo garoto que derrubou minutos antes e olhou para trás sorrindo, mas voltou a olhar para frente e não teve tempo do moreno que estava em cima da moto ver o sorriso aberto que Aye devolveu para ele.

— Quem é o garoto?

— Não consegui descobrir, graças a você.

— Quer voltar?

— Com a polícia na cola? Nem pensar. Depois a gente se encontra de novo.

E foi assim que Ayan e Yok se "conheceram". Em meio a correria matinal da gangue mais procurada de Bangkok, a gangue de Yok. Ayan via o garoto ir embora enquanto pensava no acontecimento daquela manhã. O corpo de Yok tão próximo ao dele... Yok destravou alguma coisa em Ayan.

— Eu sabia que você era fanta.

Os meninos riram e Ayan negou com a cabeça, mas sorriu. Aquilo ia além de atração física, mas nenhum dos dois sabia disso. Eles tinham uma faísca, a faísca necessária para começar um incêndio devastador.

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