Água e óleo

918 115 106
                                    

Aquela madrugada para Ayan e Yok passará depressa e tranquila depois que os garotos dormiram e a febre do moreno passou. Ele tinha suado bastante durante à noite por estar vestindo o moletom e por estar debaixo de todos aqueles lençóis. Seu corpo estava inteiramente molhado pelo suor, mas a febre já havia passado, isso era o que importava.
Ayan também havia dormido, mesmo que para que isso acontecesse ele tivera que ficar acordado por longos minutos.

Já na oficina, a madrugada pareceu durar uma eternidade para passar. As horas no relógio pareciam levar anos para saltar de uma para a outra e nenhum dos rapazes conseguiu dormir por estar pensando no amigo. Mas não foi uma madrugada inteira marcada só por solidão, os garotos ainda brincaram e se divertiram com a mangueira de água que Gram usava para ajuda-lo com a limpeza do chão. Depois de terem limpado tudo e tomado banho, as 06hrs da manhã eles caíram na cama, mas um deles não dormiu mais que duas horas, Gumpa, enquanto os outros dormiram muito mais que o habitual.

Na casa de Ayan o mesmo acordou primeiro que o visitante que dormia ao seu lado. Seus olhos eram curiosos e observavam Yok dormir agarrado a sua mão como uma criança se agarra a um urso de pelúcia. O toque da mão de Yok era tão suave e quente na pele de Ayan que esse mínimo calor seria capaz de esquentar seu corpo inteiro depois de uma brisa gelada que o causaria arrepios. Fazia algumas semanas que o moreno não sabia o que era dormir bem, graças a tudo que vinha acontecendo na cidade ele estava sobrecarregado por sentir exatamente o que todos os outros sentiam. Ele dormia tão tranquilamente, quem poderia imaginar o quão turbulento está sendo os dias desse rapaz? Quanta dor ele esconde por trás desse sorriso cheio de luz? Quantas lágrimas discretas inundam o tempo todo aqueles olhinhos puxados? Quantas lágrimas fazem aqueles olhos brilharem o dobro?...
Os traços de Yok eram tão delicados aos olhos do mais baixo que ele poderia passar horas o admirando sem falar nada.

Seus cabelos escuros.
Sua pele morena clara.
Seus olhos fechados e tão relaxados.
Suas linhas de expressão.
Ele mirava os lábios entreabertos e levemente rosados do garoto que logo começou a acordar e o mesmo fingiu dormir.

Yok levou alguns segundos para entender que não estava em seu quarto e logo notou o garoto ao seu lado e que sua mão segurava a dele. Talvez ele não lembrasse de como se sentiu bem ainda que estivesse machucado na noite anterior. A febre pode fazê-lo achar que fora tudo alucinação e que nada existiu, mas algo sempre iria ser contra essa ideia, talvez a parte dele que saiba que foi tudo real.

— Você não vai acordar primeiro que eu. Não quero que me veja segurando...

— Não quer que eu veja você segurando minha mão desse jeito à noite toda?

A voz de Ayan chamou a atenção de Yok que sorriu depois de perceber que havia cometido um erro comum e isso fez o mais baixo sorrir também. Era inexplicável o quão forte os santos haviam batido. A química que eles tinham ultrapassava barreiras e nem a tabela periódica explicava. Eles tinham elementos químicos desconhecidos pela ciência, química, física e qualquer matéria que possa levar a descoberta de novos reagentes.

— Por que não a soltou?

— Porque talvez eu não quisesse soltar...

O moreno ainda sorria negando com a cabeça e soltou a mão de Aye quando se deu conta que vestia o casaco do garoto e que ele estava encharcado de suor, mas o lado bom de tudo isso era que a única coisa que ainda doía em seu corpo eram os arranhões espalhados por ele, mas eram suportáveis e não sangravam mais. O casaco estava um pouco manchado, junto ao forro da cama.

— Eu poderia gostar de você, baixinho, se não fosse tão intrometido. — disse e Ayan sorriu.

O mais alto levantou meio enfraquecido da cama e cambaleou um pouco até parar diante de um espelho na porta do guarda-roupa onde viu que usava o moletom e uma calça que lhe cairá perfeitamente. Ele precisava voltar para a oficina, mas não podia voltar de moto e também não estava com o celular para ligar para seus amigos. Não era uma boa ideia voltar, o efeito do analgésico vai duraria muito mais tempo.

— Como você se sente? Algo ainda dói?

— Só alguns arranhões, mas não muito. Sinto muito pelo casaco e pelos lençóis, faço questão de lava-los.

— Por que eu deixaria você lavar? Eu posso fazer isso. Está bem da febre?

— Sim, muito bem.

Yok realmente não tinha mais febre e estava sentindo muito calor, então ele colocou suas mãos em torno da barra do casaco e o tirou, deixando seu corpo magro, suado e muito bonito a mostra, fazendo assim Ayan ficar sem jeito enquanto o olhava através do espelho.

— Não vai ajudar? Vai ficar só olhando? — perguntou Yok, provocante, e Aye saiu do transe e foi até o garoto, parando atrás do mesmo.

— O que quer que eu faça?

— Tem alguma pomada que eu possa usar nesses arranhões?

O mais baixo foi até seu guarda-roupa e pegou um pequeno pote de pomada e o abriu para Yok passar em seus ferimentos. Tinha um cheiro forte e estava quase no final do gel, mas daria para passar nas aberturas daquele corpo.

— Pode me ajudar passando em minhas costas?

Aye pegou um pouco do conteúdo gelado do potinho e devagar passou nos cortes do garoto, que arqueou as costas sentindo a dor e o gelo que o fez arrepiar. Seus arranhões doíam um pouco e ele gemia algumas vezes.

— Seja gentil...

O garoto deslizava delicadamente o dedo nos machucados do moreno e o efeito da pomada era quase que imediato, como o efeito de alguma droga que age imediatamente. Um arranhão profundo parecia cortar ao meio a tatuagem que Yok tinha na costela e de todos os ferimentos, esse era o que mais doía. Quando o gel entrou em contato com a pele cortada do mais alto o causou arrepios. O sangue pulsava sobre o hematoma e aquilo doía muito, foi quando segurou a mão do garoto, que estava em sua tatuagem, fazendo-o parar. Ele passou alguns segundos sentindo aquela dor chata enquanto segurava a mão de Ayan sobre seu abdômen e o mesmo o olhava.

— Você realmente não é invencível, grandão...

— Você jura, baixinho? Se você não diz... Eu preciso voltar para a oficina...

— Nesse estado?! Não mesmo.

— Como pretende me impedir?

— Não deixando você ir.

Ayan tirou sua mão devagar do lugar onde estava e o alívio pôde ser notado em suas expressões. O menor sentou na beira da cama enquanto via o garoto se virar para ele. Aqueles olhares estavam cruzados no outro, pareciam tentar ver além daquelas orbes de cores opostas, pareciam querer ir além. Ler os pensamentos do outro, saber o que pensava e sentia naquele momento em que seus olhos se encontraram.

— Não me fez nada enquanto eu dormia, né?

— Que graça teria? Quero que esteja acordado pra ver e sentir tudo que vou e posso fazer com você...

Aye sorriu de um jeito hipnotizante para Yok, que se aproximou e colocou seus braços em cada lado de seu corpo, o prendendo entre a cama e ele, deixando tanto seus olhares como suas respirações se encontrando, se perdendo... Se sentindo...

Bed Friend Onde histórias criam vida. Descubra agora