Tudo bem não ser normal

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É normal sentir ciúmes de amizades, não é? Bom, Ayan e Yok não eram amigos, de qualquer forma. Eles eram conhecidos que se relacionaram uma vez, mas Yok estava com ciúmes do que não tinha.

— O Namo tá aqui?! — Kan perguntou desconfiado ao amigo que estava ao seu lado e o mesmo o deu um tapa na cabeça.

— É claro que ele tá aqui! Eu o chamei.

— Que milagre! Normalmente você o desprezava.

— Isso era no ensino médio, e era tudo brincadeira.

Os garotos caminharam na direção dos outros dois que conversavam de forma descontraída a alguns passos deles como dois amigos que não se viam há algum tempo.

— Namo!

— Wat! Kan! Que saudade de vocês! — disse e correu até os mesmos, os abraçando fortemente enquanto Ayan os olhava e mais um de seus sorrisos bobos surgia discretamente.

— Saudade de implicar com você. — brincou Kan e se desfez do abraço.

— Você vai pro bar com a gente? — perguntou
Wat, mas pensou um pouco.

— Vocês vão beber ainda hoje? Eu quero descansar. A viagem foi cansativa, mas eu não vou recusar um convite desses! Vocês vão demorar pra voltar pra casa? Eu não quero dormir pouco.

— A gente volta a hora que você quiser voltar.

— O que? Por que? — questionou Kan.

— Porque o Namo é a visita aqui, mas caso vocês não queiram vir quando ele quiser, eu volto com ele.

Ao ouvir essas palavras, Yok desviou o olhar e encarou o mar, despejando ali toneladas de pensamentos.

— Huh! Tudo bem, nós entendemos agora. Ei, caras!

Wat chamou a atenção da gangue de Yok e todos o olharam, então ele os convidou para se juntar a eles no bar. O moreno estava desconfortável em ver Ayan e Namo tão próximos, mas como ele mesmo havia dito, eles não tinham nada, então não tinha do que reclamar. Todos começaram a caminhar de volta pelo caminho que Yok e seus amigos vieram e Aye caminhava atrás com Namo, os acompanhando com passos lentos enquanto ficava para trás junto do garoto. Ayan, por um momento esqueceu de Yok e focou em seu amigo, já que era ele quem o estava distraindo.
A ideia de que o mais baixo estava acompanhado de um amigo novo e totalmente desconhecido fazia o moreno que caminhava na frente ficar cada vez mais aborrecido e estressado com seu próprio erro.

— Você vai perdê-lo pro cara que diz ser só um amigo. Sabe disso, né?

— Eu nunca o tive, Gram, e não dá pra perder o que nunca foi seu.

A ideia aquela noite era beber e esquecer de tudo por algumas horas. Esquecer dos problemas que atormentavam cada uma das mentes dos rapazes presentes ali. Esquecer do estresse do dia a dia. Esquecer que tem dias que a vida não vai ser justa e vai te deixar sobrecarregado de tantas coisas que irão surgir. Esquecer que em algumas horas o dia vai amanhecer e tudo vai se repetir de novo e de novo, dia após dia, como um looping...

A rotina cansa; os dias cansam; as mesmas pessoas; as mesmas conversas; as mesmas coisas... Tudo cansa uma hora.

Todos os garotos bebiam tão despreocupados que não parecia que em suas mentes haviam tantas confusões, tantos problemas que para eles eram sem soluções, tanto caos... Todos bebiam descontroladamente, exceto Ayan e Yok? que desde que chegaram ainda estavam em seu primeiro copo. Seus olhares não se cruzaram muitas vezes durante à noite, mas a cada segundo ficava mais difícil permanecer no mesmo ambiente sem trocar uma palavra ou um olhar sequer, então Ayan levantou e colocou sua parte do dinheiro sobre a mesa, saindo do bar em seguida. Ele não iria embora ainda, só não conseguia ficar no mesmo lugar que Yok sem falar com o mesmo.

Covardia mesmo é você dizer a uma pessoa que vocês não têm nada depois de terem se envolvido tanto.

O rapaz andava na praia e sentia a água fria molhar seus pés e afundar a areia abaixo dos mesmos. Tem hora ou lugar melhor para pensar na vida que não seja à praia à noite? Você está sozinho ali. Tão pequeno perto de uma mar imenso. O vento bagunçava seus cabelos e secava a lágrima de seus olhos antes de caírem.
Ayan virou-se para à praia e tirou sua camisa novamente. A medida que ele caminhava devagar para dentro da água, a mesma começava a cobrir lentamente suas pernas, então quando já estava fundo o suficiente, Aye mergulhou e foi engolido pela escuridão da água.

Agonizante, não é? Bom, não era para ele. Ayan queria sentir-se em paz pelo menos por algum tempo. Queria entender o vazio que sentia no peito. A sensação de estar incompleto. Ele queria entender o motivo de tudo aquilo. Ele queria sentir qual era a sensação de estar completamente sozinho com seus pensamentos gritando o tempo todo. Queria se permitir ouvir o que seu peito tanto gritava em silêncio, um silêncio tão doloroso... Parece um vazio enorme e que dói muito, mesmo que não tenha motivos para isso. É algo torturante, pesado e sufocante. É como se houvesse algo incompleto. É uma escuridão sem fim dentro do seu peito que anseia por solidão. É um peso enorme carregado dentro de um vazio que nunca é preenchido. Irônico, não?

Isso que Ayan sentia parecia nunca ter fim. Como eu disse, esse sentimento parece que anseia mais e mais por solidão, sugando assim as energias do garoto e o tornando prisioneiro de si mesmo. É a respiração extremamente pesada na tentativa falha de amenizar o caos que acontece por dentro como se tudo fosse sair pelo ar que é expulso de seus pulmões. É também a necessidade e a vontade de estar sozinho o tempo todo. Mas não importa o quão fundo ele estivesse nisso, havia uma pessoa que tinha o poder de buscá-lo onde ele estivesse. Isso poderia ser no mar mais impiedoso e profundo como também poderia ser na mais distante e desconhecida galáxia, essa pessoa era o rapaz com a tatuagem de pássaros no braço. Essa pessoa era o Yok.

Depois de voltar para a superfície da água, Ayan viu o mar enorme a sua frente e notou que nadou demais e estava distante da areia. Algo dentro de si o pediu para voltar, então quando se virou para nadar de volta ele o viu parado na areia com sua camisa em mãos.

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