Mas um verdadeiro artista nunca é feliz

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— O que você pretende fazer?

— O meu cargo na polícia agora é superior ao anterior, eu tenho mais influência e posso falar diretamente com alguém de fácil acesso ao governo.

— Que legal. Subiu na vida as custas dos outros. — sorriu falso — Parabéns, Dan. Você é um exemplo. — falou revirando os olhos.

— Da pra parar de ser irônico? Fizemos uma troca aqui. As pessoas estarão seguras e...

— O mínimo! Seguras elas podem estar, mas não poderão expressar suas opiniões do mesmo jeito. Se às opniões e liberdade de expressão for contra o governo, eles ainda continuarão tentando calar a voz das pessoas.

— Se sabia disso, por que veio até mim?! — perguntou o policial aumentando o tom de voz, mas Yok levantou-se depressa de onde estava sentado e o puxou pela camisa.

— Você pode ser policial ou oque for, mas eu ainda posso descer a porrada em você... Procurei você por necessidade e falta de escolha e se as pessoas terão o mínimo de segurança possível, já é um pouco pra mim. Já é o mínimo pra mim. — o soltou empurrando-o para longe — Tudo isso que você tá fazendo agora é o mínimo e deveria ser feito por conta própria e não por ter algo em troca. Vocês são todos iguais e o mundo não vai pra frente enquanto pessoas como você existir.

— Isso é algo que sempre vai existir, querido Yok! E você não pode fazer nada.

— Tem razão, sempre vai existir... Mas enquanto eu existir, eu posso matar cada um de vocês... — disse dando as costas.

— Pra onde você vai? Você não tem mais seu grupo de manifestantes e muito menos o Ayan...

O moreno travou ao ouvir aquele nome. Agora, por qual motivo? Tristeza, saudade, raiva... Como ele sabia do garoto? O olhar de Yok de repente ficou profundo e sombrio e ele voltou a encarar o policial.

— O que disse?

— Você acha que eu não sei?! Oh... Eu sei de vocês. Por que você acha que a troca por respeito foi você...? Eu quero ver você perder também, Yok. Se eu cair, você cai. Você agora está junto comigo.

— Seu desgraçado!

Yok foi para cima de Dan e o socou no estômago, fazendo-o curvar-se para dentro e cair no chão em seguida.

— Você acha mesmo que eu tenho medo de você?! — gritou enquanto o acertava com alguns chutes — Das suas ameaças?! Você pode fazer oque quiser, mas se você tocar num fio de cabelo dele, eu mato você! Eu não ligo se você é da polícia, eu não ligo pra porra do mundo! Se você tocar nele, eu mato você...

— Quão longe você iria por ele...? — perguntou sentindo todo seu corpo doer e um sorriso forçado apareceu em seus lábios.

— Até o inferno se for realmente preciso.

— A gente com certeza vai se encontrar lá. Ah, Yok... Esqueci de dizer... Sorria pra câmera...

Dan se levantou ainda fraco do chão e recuou alguns passos para trás. Suas palavras deixaram o moreno confuso. Ele havia posto câmeras no prédio?

— Se você não fizer oque eu mando, eu posso simplesmente prender você por agressão a autoridade...

Yok não gostava nada da ideia de ser ameaçado, então ele negou com a cabeça e se aproximou novamente do policial. Seu olhar não era mais tão furioso, mas ele ainda estava com raiva e tentava esconder isso.

— Desculpa, Dan... Eu realmente deveria ter batido mais forte!

O moreno o atingiu novamente, mas dessa vez segurou em seus ombros e o acertou com uma joelhada na barriga.

— Não me ameace... Eu realmente não tenho medo de ir para a prisão...

Ele não tinha para onde ir, a não ser sua casa ou o estúdio de arte. As meninas que pintavam ali ainda falavam com Yok e não o julgavam pelo que fez, elas até o entendiam, mas o lugar também era frequentado por Sean, o garoto que lhe disse incontáveis coisas.

— O que veio pintar?

— Eu não vim pintar... Quer dizer... não sei porque eu vim aqui...

— Toma. — falou a garota estendendo para Yok uma tinta spray — Quando Sean achou que White não o queria mais, ele 'descontou' sua frustração e raiva nas paredes do velho estacionamento. Escreva, desenhe rabiscos, linhas sem sentido... Xingamentos... — sorriu tentando arrancar um outro sorriso daquele rapaz tão tristonho — Grite sua dor através da arte. Algumas pessoas podem não entendê-la, porque não entendem um verdadeiro artista, mas outras pessoas olharão com outros olhos.

— Como sabe que isso vai ajudar...?

— Eu já estive apaixonada pelo Sean... Eu o vi expressar seus sentimentos através da arte. Eu estava lá, e enquanto ele rabiscava as paredes eu o seguia sobrepondo os meus desenhos... Então realmente ajuda... Toma. Vai se sentir melhor...

— Obrigado...

O moreno caminhou até o estacionamento do prédio em que se encontrava o estúdio de seus amigos e consequentemente seu, e o viu vazio; parecia um pouco consigo. Fazia algum tempo desde que ele havia descido para o lugar e para ser sincera, estava incrível. Não por desenhos bem elaborados, mas por rabiscos cheios de significados e sentimentos.

— Esse lugar parece um pouco comigo... — falou baixinho, mas mesmo assim seu sussurro ecoou no lugar — Quanto tempo você não desenha...?

Linhas eram traçadas o tempo todo em direções sem sentido. Como a garota havia dito, ela sobrepôs seus desenhos nos de Sean, e foi oque Yok fez. Suas linhas ficaram por cima das de outros pessoas. Ele estava longe enquanto rabiscava. Sua mente não estava presente no lugar. Ele apenas saiu desenhando sem pensar no que fizera.

Aqueles traços se encontravam o tempo todo, parecia um desenho elaborado em um papel, mas fora tudo tirado de sua mente ali na hora. As varias cores que ficaram por trás do desenho o tornaram uma verdadeira obra de arte. Tintas misturadas estavam presentes na parede; cores vivas, cores escuras, cores suaves... Mas por cima de todas aquelas cores havia uma arte com traços sutis em tinta preta, que Yok nunca esqueceria que havia desenhado.

— Uou! Isso é ele?!

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