Bed Friend

Coisas que passaram

— De que exatamente?

— De tudo isso cara... Eu só queria que nós pudéssemos viver normalmente, sem precisar nos meter em problemas como esse. Queria que as outras pessoas pudessem viver sem se preocupar com esses malditos ditares e governantes... Sem se preocupar com essas malditas regras que se aplicam somente aos mais fracos...

— Nós tentamos fazer o certo, Yok, você sabe disso. Se nós não formos para as ruas como pessoas que lutam pelos direitos certos, nós nunca conseguiremos nada. E além do mais, no fundo nós sabemos que estamos emboscados. Nós nos metemos em uma coisa grande, mesmo sabendo das consequências.

— No fundo eu sei o que eu preciso fazer...

— Não temos a quem recorrer, Yok. Nós só temos um ao outro... —... — Espera... Não tá pensando em recorrer ao Dan, certo?!

— Se tudo der errado pra gente, sim... Porra! — Yok se irritou com seu próprio pensamento e bateu forte nas grades da varanda — Se a gente não conseguir sair disso...

— Não faça barulho! Se ele acordar vai ser pior... Vamos descer e conversar na praia.

Gram vestiu uma camisa de manga comprida e Yok cobriu Ayan com a coberta, descendo em seguida para a praia. Já era bem tarde quando eles sentaram na areia e miraram o mar escuro e levemente barulhento. As ondas estavam agitadas e quebravam ao chegar na areia. O cheiro de mar era era levado pelo vento até os garotos e o mesmo assanhava seus cabelos de cores opostas.

— Bem melhor... Nós vamos conseguir sair disso. O que você acha que o Dan vai fazer, ãh?! Ajudar a gente? Ele ferrou com você! Ele ferrou com a gente! Ele e os cães fies da delegacia são todos iguais! O governo pouco se importa com pessoas como nós. Eles não vão nos ajudar nem se você recorrer a ele! Você tá ficando louco.

— Eu preciso voltar... Eu preciso fazer alguma coisa pra livrar a gente...

— O Dan não vai resolver isso... Ele só vai afundar mais rápido oque está naufragando. E quanto a ele? — perguntou olhando de volta para o prédio. Ele estava falando de Aye.

— Eu tô cansado de achar que ele é igual o...

— Dan...

Seus olhos mais uma vez se perderam no mar escuro a frente e ele ficou quieto. É complicado quando chegamos ao ponto em que confiar em alguém é extremamente difícil, pois para sair dessa posição requer tempo, mas as vezes nem o tempo pode ajudar as pessoas com isso.

— Você se apaixonou por ele, não foi? Por isso tem medo que seja igual.

Yok permaneceu calado por um tempo, enquanto seus olhos inquietos acompanhavam cada onda que chegava na praia e molhava a areia, fazendo com que chegasse cada vez mais perto dos dois.

— Ele não precisa saber disso. No final eu sinto que ele vai fazer exatamente oque Dan fez...

— Até quando pretende esconder seus sentimentos sobre ele? Você sempre o acusa de alguma coisa e no final tá errado. Você sempre se privou de sentir as coisas, você não pode deixar ele tentar?

— Eu me entreguei fácil demais, Gram... Não era pra ter sido desse jeito, não tinha que ser desse jeito!

— Você nunca vai experimentar coisas novas se continuar focando no que passou! Não era pra ter sido, mas foi, e você não vai conseguir esconder isso por muito tempo... Yok, ele está aqui agora! O mundo pra pessoas como a gente tá um caos e é extremamente difícil encontrar um lugar que nos deixe ficar em paz, e você tem sorte do seu lugar ser ao lado dele...

Gram olhou para o céu e notou a ausência da lua. Ele usaria isso para tentar fazer seu melhor amigo entender alguma coisa. Será mesmo que ele já experimentou o que é o amor? Será que oque ele sentiu pelo Dan realmente era amor? As vezes só nos acostumamos com alguma coisa... As vezes quando experimentamos uma coisa nova, achamos ter necessidade daquilo e que aquilo é o melhor que a vida pode nos oferecer.

— Me responde uma coisa... Onde está a lua agora?

— Não tá no céu, talvez já tenha ido embora ou nem tenha saído... Não lembro.

— Você tá certo, eu também não lembro se ela saiu ou não... Porém, cedo ou tarde ela vai aparecer, não vai? Seus sentimentos pelo Ayan são iguais a lua; uma hora eles vão aparecer. É claro que você já ouviu a frase sobre as três coisas que não podem ser escondidas pra sempre, né?

— O sol, a lua e...

— A verdade... Uma hora esses sentimentos serão descobertos, Yok, você querendo ou não... Mas cuidado pra não esconder demais oque sente e quando quiser contar pra alguém, não ter mais esse alguém pra contar... Não ter mais a pessoa que faz seu coração bater acelerado. Não ter ele pra ouvir tudo isso que tá preso aí dentro...

— Você me faz pensar tanto... Eu só tenho medo, Gram... E se tudo não passar de diversão pra ele?! Você já se sentiu assim, eu sei que já... Eugene já confundiu seus sentimentos também...

— Não vamos falar dela, você está mudando o rumo da conversa. Ayan está confundindo você?

— Não, mas...

— Então! Talvez ele também tenha medo disso, mas ele está disposto a tentar fazer dar certo. Você tem muitos problemas, ele também. Você tem medo, com toda certeza ele também tem. Você tem que permitir que ele entre primeiro, depois isso será resolvido. O que Ayan acha sobre isso?

— Cara, você tá me deixando pensativo... Ele diz que vai fazer diferente, mas Gram, eu não tenho psicológico pra superar ninguém agora...

— Mas e se ele realmente for fazer diferente...? Você não consegue ver isso?

— Você acha mesmo que isso pode dar certo?! A gente é tão contrário do outro...

— Essa não é a questão, a questão é se você quer que dê certo, Yok... Olha pra ele... Eu sei que se você quiser, ele não vai hesitar.

— Ele já me disse isso...

— Aí vai de você se quer acreditar ou não...