Com a partida de Ayan, os dias voltaram a passar depressa para Yok. As lembranças do garoto estavam sempre presentes em sua mente, e nas horas vagas, Yok costumava desenhar nas paredes do velho estacionamento, tudo para evitar lembrar de como sua vida estava ferrada nos últimos meses.
Sem seus amigos e sem o garoto, o moreno se via perdido. Não tinha outros lugares para ir, além do studio de arte e de sua casa. Os garotos sumiram, pois estavam trabalhando no plano de invasão ao prédio e Yok sequer imaginava isso.
Gram o visitava com frequência, e mesmo sendo seu melhor amigo, os outros ainda faziam uma falta tremenda.
Desde a noite no bar onde todos se encontraram e Yok viu o lado mais fraco do menor, o moreno não ousou colocar nenhum cigarro em sua boca, pois sabia que Aye não gostava do cheiro. Ele estava encarando a vida de frente, sem usar e nem beber nada para tentar passar por tudo que ele mesmo causou. Tudo era consequência de suas próprias ações, e como dizem: "toda ação, tem uma reação." Nada que estava acontecendo-lhe era em vão.
Black e toda sua gangue estavam empenhados para conseguirem tornar-se bons o suficiente para invadir um lugar como aquele. Seu plano era bom, não havia como dar errado, eles estavam preparados. Todd tinha homens bons o suficiente para invadir o lugar e pegar tudo que era necessário para pedir a renúncia do governo, mas eles mesmos queriam fazer todo o trabalho.
— Como está indo o treinamento? — perguntou Gram ao chegar no apartamento de Todd e retirar uma arma de sua cintura.
— Está indo bem, talvez já possamos começar tudo a partir da próxima semana.
O barulho de tiro era frequentemente ouvido por todo o cômodo onde todos treinavam sua mira. Fones de ouvido para abafar o barulho eram usados por todos, e a todo momento cápsulas de balas caíam e tilintavam no chão.
— Como está o atirador de sniper?! — gritou Black para o Todd que estava na parte de cima do lugar.
— Cara! Isso é bom pra caralho! — gritou em resposta.
— Eu não acredito nisso. — riu Gram e os outros também sorriram ao ver aquilo.
— Ele não estava satisfeito só de ver o que iríamos fazer, ele também queria participar.
— Então, Black. Eu e você vamos entrar com o Sean e o White, os homens de Todd nos ajudam nessa primeira parte e depois ajudam se precisarmos de algo, certo?
— Certo.
— Todd vai ficar responsável por nos proteger pelo lado de fora e Gumpa será nossos olhos e ouvidos sobre os movimentos dos andares mais baixos, confere?
— Com certeza.
— Não parece difícil. Entrar, procurar por provas sobre a manipulação das eleições, pega-las e sair de lá.
— Exatamente isso. Qual o seu medo?
— Eu não tô com medo. Só estou confirmando que nada vai dar errado.
— Ou você ainda teme que o Yok esteja por lá?
— Pra falar a verdade, temo... Não temos como saber que o Dan não o obriga a ir com ele a todos os lugares, e se nesse dia em específico ele o levar? Eu não vou poder fazer nada, Black. E se vocês quiserem ficar chateados comigo, podem ficar. Mas entre as outras pessoas e ele, eu sempre vou escolhê-lo.
— Eu sei, então talvez tenhamos que pará-lo também...
— Façam isso...
— Tem tido notícias do Ayan?
— Não... Ele sumiu...
— Kan e Wat ainda falam comigo, eu os pedi que me informassem sobre ele.
— E aí?
— Pelo que me contaram, Aye ainda pensa muito no Yok... Ele está cursando uma faculdade e está vivendo bem, mas, por hora ele ainda esquece, e chama o nome dele... Um descuido ou outro é o suficiente pra fazê-lo voltar para cá.
— A gente deve acabar com isso o quanto antes. Talvez ainda tenha uma chance de ambos se acertarem.
— Tudo depende deles, agora.
— E voce?
— Eu que pergunto, e você?! Eu já sei tudo que preciso saber.
— Eu não, eu em... — sorriu e deu as costas para Black.
Empenhados em serem melhores que os seguranças que protegiam o prédio, a gangue, novamente de Black, não parou um dia sequer para descansar, pois cada segundo contava, cada mísero segundo. Eles eram bons, desenvolviam bem seus papéis e os faziam com graça e cautela, nada poderia dar errado.
Enquanto Black, Gram, Sean e White entrariam no prédio com a ajuda dos seguranças de Todd, ele e Gumpa seriam responsáveis pela segurança de ambos, apenas os acompanhando pelo lado de fora.
O prédio era cercado por uma vegetação um tanto densa e que dificultava o acesso pela mata, pois até mesmo pessoas experientes já se perderam em trilhas como aquelas.
Os dias passavam depressa, as coisas mudavam e ficavam cada vez mais permanentes e estranhas; vazias e silenciosas.
Os amigos de Yok estavam ocupados demais e haviam "desaparecido" de sua vida. Estavam focados em algo que poderia não só ajudar as outras pessoas, mas também poderia ajudar seu próprio amigo a se livrar de algo em que ele mesmo colocou.
Kan e Wat permaneceram na cidade e raramente tinham notícias de Ayan. Os dois, após duas semanas da partida de seu amigo, começaram a estudar mais sobre seus interesses e quais caminhos gostariam de seguir. Eles permaneceriam juntos. Bom, pelo menos até metade de seus caminhos.
Yok também havia sumido da vida de seus amigos, assim como disse que faria. Passava seu tempo em casa ou no estúdio de artes, rabiscando alguma coisa sem sentido nas paredes cobertas por histórias. O sentimento de solidão era constantemente, e com o Dan ao seu lado, sua tendência era decair ainda mais.
Cada um deles estava vivendo seus próprios momentos, mas não percebiam que a cada segundo que passavam longe um dos outros, era mais um obstáculo para juntar-se de novo. Enquanto isso, num outro lugar, o garoto tentava fazer sua vida longe da pessoa que mais queria por perto, era inútil mudar, já que sua âncora estava noutro lugar.

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Bed Friend
Fanfiction"E agora, te odiando ou não, mesmo que eu tente, eu não consigo ficar longe de você..."