O desenho na parede era o Ayan, mas estava incompleto. Talvez durante a última noite na praia o comentário de Wat sobre pintores tenha influenciado os pensamentos de Yok e ele acabou por desenhar inconscientemente o baixinho.
— Tinha esquecido que você nunca o viu...
— Por que não desenhou os traços de seu rosto?
— Porque eu não sei como ele está agora... Mas ele é lindo... E ele tem uns olhos, mas uns olhos... Eu me perdi naqueles olhos...
— Como são...? — perguntou interessada.
— São amendoados e castanho-escuro, são um pouco puxados e são tão lindos se vistos ao vivo... Eu não tinha ideia que estava tão focado nele... Eu sequer pensei antes de desenhar...
— Ele tem cara de bravo? — sorriu.
— Tem... Mas ele não é, só é bem irritante... Ele tem as sobrancelhas ralas e bem claras... Seus lábios são labirintos e eu me perco sempre... — sorriu sem jeito — São rosados e...
— E...?
— E bem macios... Ele tem um sorriso... Tem tatuagens assim como eu...
— Não consegue ver o quão incrível isso tá? Yok, olha isso! Você simplesmente sentiu... — falou a garota se aproximando da pintura e fingindo toca-la — Você não olhou nenhuma foto...
— É... Eu fui longe.
Yok estava preparado para traçar uma linha negra no meio do desenho, simulando corta-lo, mas a pessoa ao seu lado o impediu. Aquilo estava simplesmente esplêndido para ser destruído daquela forma. Aquilo seria motivo de algo bom num futuro não tão distante. Ele só precisaria de paciência...
— Não faça isso... Guarde-o bem. Ele vai ver um dia. Me empresta aqui...
A garoto tomou o spray das mãos do moreno e ao contrário do que ele iria fazer, ela cercou o desenho com um círculo negro. Isso impediria que alguém chegasse e rabiscasse por cima de seu desenho.
— Depois você desenha seu rosto, quando você vê sua expressão... O que pretende fazer agora...?
— Eu não tenho muito oque fazer... Só vou voltar pra casa e ficar com a minha mãe. Guarda a tinta pra mim? Não vou voltar lá pra cima. Tem risco de eu encontrar o Sean e ele me bater de novo.
— Então, isso no seu rosto, foi ele?
— É, foi. Todd deveria ter deixado que me batesse mais. Eu realmente sei que eu mereço.
— Você precisa descansar e pensar no que vai fazer daqui a pra frente.
Yok encarou mais uma vez o desenho na parede e um sentimento horrível o invadiu. Ele nunca se viu tão perdido quanto estava naquele momento. Seus dedos finos tocaram suavemente o desenho e seu corpo arrepiou, então ele deu as costas e saiu do lugar.
"Como será que ele tá...?" — perguntou a si mesmo enquanto uma lágrima despercebida escorria pelo seu rosto.
— Tem certeza disso?
— Huh! Eu tô bem. Só preciso passar um tempo sozinho, por isso quero as chaves da casa de praia do Wat.
— Huh! Tudo bem! Você tem as chaves, mas por favor, promete que não vai fazer besteira por lá. Você acabou de voltar e já que voltar de novo.
— Eu só preciso organizar meus pensamentos. Só tivemos diversão lá, eu não tive tempo de pensar em nada, mas eu preciso colocar em ordem os meus planos...
— Quando você volta?
— Eu não sei, Kan. Mas prometo manter contato com vocês. Não precisam se preocupar.
— Você havia parado com as pílulas, por quê voltou?
— Só foi ontem... Me senti ansioso.
— Tem algo a ver com o professor...?
— Não... Eu sinto falta dele, mas ontem eu só precisei relaxar. Agora, se não se importam, eu preciso ir. Não quero pegar trânsito.
— Chegue em segurança...
— E por favor, nos avise.
O baixinho concordou e entrou em seu carro. Ele estava exausto de tantas perguntas, mesmo sendo apenas seus amigos preocupados consigo. Seus olhos estavam inchados pelo dia anterior e ainda com o pouco efeito dos remédios em seu organismo, Ayan não deixou de pensar em Yok. De alguma forma louca eles ainda estavam conectados e pensavam tanto no outro...
"Posso te dar um beijo...?"
"Vem aqui...""Você tem mesmo que lembrar disso, Ayan? Não faz sentido... Será que ele pensa em mim tanto quanto eu penso nele...? Isso também não faz sentido... Droga, droga, droga!" — gritou enquanto esmurrava a direção de seu carro e logo se recostou no assento.
O trânsito estava parado e toda aquela conversa de que não queria demorar para não pegar trânsito era fachada. Ele havia visto o trajeto antes de sair de casa e sabia que o trânsito estava enorme. Uma música soava baixa no som e seus pensamentos se perdiam ainda mais. Os dois rapazes dirigiam para lugares opostos. Ayan pensando em Yok, e Yok pensando em Ayan.
"Eu te vejo em tudo... Eu só vim pra cá pra tentar te esquecer, mas eu lembro de tudo... Lembro de cada segundo..."
Com seus pensamentos longe, Ayan não viu que os carros a sua frente haviam andado, até ouvir o som de buzinas atrás de seu carro.
Alguns dias sozinho num lugar como aquele seria realmente bom. Ele levaria um tempo para ajeitar as suas confusões, entender seus planos e quereres, seus pensamentos e problemas. Talvez passar um tempo completamente sozinho fizesse bem. Um tempo sem responder à mensagens e ligações parece tentador.
Como não era longe de Bangkok para a praia, Aye não demorou a chegar na casa de seu amigo e jogar sua pequena mala em cima da cama do quarto de Wat.
Ele mal havia saído e já tivera que voltar, pois só assim ele poderia pensar com calma em tudo que aconteceu. A cama de seu quarto na cidade nem esquentou e ele já a esfriou novamente.
— Eu cheguei em segurança. Desculpem caso fique ausente, tenho que organizar algumas coisas.
Essa mensagem foi enviada para o grupo que ele participava com os dois, e eles logo responderam, mas fora a vez de Ayan de ignora-los.
O baixinho se jogou na cama e enquanto encarava o teto, uma brisa marítima invadiu o cômodo, levando consigo um cheiro leve de mar...
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Bed Friend
Fanfiction"E agora, te odiando ou não, mesmo que eu tente, eu não consigo ficar longe de você..."