Capítulo 3

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Micael acordou mais cedo naquela manhã, lavou algumas cuecas no tanque, pendurou suas roupas no varal antigo da casa, contou mais uma vez o seu dinheiro e por fim, foi tomar café. Pão adormecido com mortadela, um copo de leite e algumas bolachinhas de coco. Vera apareceu no mesmo instante.

— Bom dia, xuxu. — Tinha a voz sonolenta.

— Bom dia. — Micael teve dificuldade para morder o pão. — Aí, você podia comprar pão fresco pra gente, né? Qualquer dia alguém vai quebrar um dente com essa porra. — Reclamou.

— Quer pão fresco? A padaria é logo ali! — Vera abriu a garrafa de café, despejando um pouco em um copo de plástico. — Vocês são todos folgados! Uma hora é Luiz que quer empregada, outra hora é o Marcelo que quer banho pelando. — Gesticulou. — Cada um pode muito bem comprar a porra do pão pra comer.

— Beleza, a gente já entendeu. — Micael deixou o assunto morrer.

— Entendeu cacete nenhum, daqui a pouco vão estar reclamando de novo. — O celular de Vera tocou. Ela tateou o bolso da calça jeans, verificando o visor. — Deve ser a sua cliente xerecuda. — Soltou um risinho.

— Sai fora. — Micael fez cara feia, observando a feição de Vera ao atender o telefone.

— Bom dia, Lush massagens, pois não? — Mudou o tom de voz, Micael achava aquilo um cúmulo. — Oi meu amor, quantos anos você tem? — Saiu de perto, indo para outro cômodo. — São quatro? Quatro meninas de dezoito anos?

Micael ainda mastigava o pão com dificuldade, porém, estava de orelha em pé na conversa de Vera ao telefone. Ela voltou alguns minutos depois, com um sorriso farto no rosto.

— Que foi? Viu passarinho verde? — Micael se apoiou na mesa da cozinha.

— Lava bem esse pinto que na semana que vem você vai usar ele, e muito! — Bateu nas costas de Micael, vibrando pela ligação.

— Eu uso meu pinto todo dia e lavo o meu pinto todo o dia. — Micael não teve animação na voz. — É cliente de grana?

— Meu amor, você só atrai cliente de grana! — Rondou Micael, alisando sua face lisinha. — As mulheres sobem na parede por você. — Dedilhou seu peitoral, também liso e definido.

— Você vai falar ou vai ficar fazendo propaganda?

— Vou deixar você na vontade. — Vera mordiscou os lábios. — Agora avisa ao Luiz que é pra ele tirar a roupa de cama suja, aqui não tem emprega nessa porra! — Vera voltou ao normal, dando ordens e brigando pelo prostíbulo.

Micael respirou fundo, reclamou pela quarta vez do pão e enfim, se preparou para mais um dia difícil com suas clientes.

Uma semana depois.

Sophia assoprou as velas do pequeno bolinho que seu pai havia trago. Estava de pijama, mas na mente, sua roupa para hoje à noite já estava separada. Mariana, Bella e Alice faziam companhia, entrando na onda da festa do pijama, que Sophia organizou para mentir ao seu pai, não dando pinta de que sairia mais tarde.

Havia feito dezoito anos mas seus pais ainda lhe prendiam. São Paulo era perigoso e Alex tinha muito dinheiro!

— O seu primeiro pedaço vai pra quem, filha? — Carolina, mãe de Sophia, bateu palmas enquanto via a filha com um prato de plástico na mão, com um pouco de vergonha.

— Para vocês! — Sorriu falsa ao entregar o bolo para Alex, que deu um abraço apertado.

— Obrigada, meu amor! Te amo! — Deu um beijo na testa da filha. — Vou buscar mais suco, alguém quer?

— Gente, eu já tô ficando com sono. Acredita? — Bella bocejou falsamente, fazendo as outras bocejarem também.

— Ai, eu também. — Alice entrou no clima. — Soph, a gente pode ir subindo? — Apontou para a escada.

— Vocês não vão querer bolo, meninas? Está delicioso! — Carolina estranhou o comportamento das meninas.

— Hoje não, tia. A gente está com sono, cansada, enfim! — Mariana disse por cima, vendo que a emboscada estava dando errado. As meninas mentiam muito mal! — Boa noite pra vocês! — Se despediu em um aceno, caminhando em direção à escada. Teve Bella e Alice atrás, fazendo o mesmo percurso.

Sophia deu de ombros, comendo um pedaço de bolo. Carolina sentou em sua frente, sorrindo para a filha.

— Amor, que você tenha um ótimo aniversário! — Disse para a filha. — Seu pai escolheu bem o seu presente.

— Não precisava disso tudo. — Sophia não ligava.

— Lógico que precisa, Sophia. Você vai usar esse presente, ter independência com ele! — Carolina se irritou. — Você acha que a Mariana não queria estar no seu lugar? Ganhando um carro?

— Mãe, a Mariana é a Mariana. Eu sou eu! Você não consegue entender isso?

— Tudo bem, Sophia. Eu não vou me irritar com você! — Já estava irritada com a filha. — A gente faz de tudo para você ficar bem, se adaptar à nossa vida mas parece que você não consegue aceitar.

— Mãe, a senhora sabe que eu não ligo pra isso. Que chato! — Deixou o prato vazio em cima da mesa. — Vou subir e fazer companhia pra elas, boa noite!

— Não quis festa de aniversário, não quis o carro, não quis a viagem pra Amsterdã. — Carolina disse sozinha após receber um beijo na testa, de Sophia. — É difícil saber os seus gostos, filha.

— Boa noite, mãe. — Sophia subiu às escadas.

Foi até seu quarto encontrando as meninas, ambas se aprontando. Trancou a porta e foi se arrumar, sem um pingo de vontade de sair.

— Está preparada, Sophia? — Bella soltou um risinho, terminando de passar o batom.

— Para o abate? Acho que sim. — Buscou o shorts que estava em cima da cama, junto com um cropped de strass.

— Ai, nada a ver Sophia. — Mariana chiou. — Você vai ver que dar é a melhor maravilha do mundo!

— Uma tora vai entrar pela minha vagina e eu vou sangrar. Onde tem prazer nisso? — Sophia rebateu, fazendo Mariana revirar os olhos.

— Às vezes nem é grande. — Se defendeu. — O cara fala demais mas na hora parece uma linguiça de bar, daquelas pequenininhas.

— Vocês são ridículas. — Sophia revirou os olhos, vendo as amigas rirem da sua cara.

Foi se arrumar na suíte do seu quarto, ficando sozinha por alguns minutos. Estava nervosa por dentro mas não podia transcender isso para Mariana, que era a pior de todas. Sua virgindade seria entregue à um homem que nunca havia visto na vida, por conta de uma aposta totalmente sem graça.

Mas no fundo, Sophia queria mostrar que era forte para as amigas. Forte e rebelde.

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