Capítulo 11

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Micael acordou no susto, vendo Vera conversando ao telefone. O ambiente claro com um cheiro forte de éter lhe fez ter náuseas, ainda recente. Estava em um hospital, internado, e não sabia o por quê.

— Graças a Deus tá vivo! — Vera desligou o telefone, fez uma careta.

— O que aconteceu? — Forçou os olhos. — Minha cabeça está latejando tanto. — Reclamou.

— Você bebeu, se me escutasse não estaria aqui. — Foi irônica. — Caiu que nem uma jaca no chão. Fez feio, Borges! A mulher não quer ver mais você nem pintado de ouro.

— E eu tenho culpa? Ela me drogou!

— E como você sabe que ela te drogou? — Vera se aproximou da maca onde Micael estava, fazendo sua ronda.

— Ela me deu uísque, eu recusei mas depois acabei tomando.

— Bem feito! Ninguém mandou você ficar bebendo coisa oferecida. — Pausou. — Parece que é burro! Coloca na tua cabeça que você é garoto de programa, Micael.

— Tá bom mas nada me dá o direito de não me divertir. — Se defendeu.

Vera passou a mão no rosto, se preparando para fazer uma pergunta escandalosa.

— Eu sei que eu não tenho nada a ver com a porra da tua vida. — Gesticulou. — Mas o que você está fazendo na Lu$h ainda, hein?

— Preciso sobreviver.

— E o que você faz com o teu dinheiro, Borges? — Vera o fitou. — Eu só vejo você guardar e guardar, guardar e guardar. — Balançou a cabeça. — Tu tem nome sujo na banca, não é? 

— E interessa pra você? — Micael franziu o cenho.

— Pra mim não interessa mas já que você perguntou. — Vera soltou um suspiro. — Se vierem te buscar na Lu$h por alguma coisa, já fique de aviso que você vai picar a mula de lá. Está entendendo?

Micael fitou Vera com medo, vendo suas expressões. Escutaram batidas leves na porta, viu Luiz entrar junto com dois amigos. Marcelo não estava entre eles.

— E aí, cara! — Luiz sorria fraco. — Como você está?

— Tô bem. — Micael queria que Vera saísse dali. — Quando eu vou ter alta dessa porra?

— O médico já vem te ver. — Vera soltou, saindo de perto.

Luiz se aproximou da maca, junto com o amigo.

— Tu tá ligado o que aconteceu comigo, né? — Micael se apressou, esperando que Vera não escutasse nada.

— Mais ligado que tomada, filho! Ninguém sabe pra onde tu foi quando caiu que nem um girino no chão. — Luiz completou.

— A festa foi combinada, Micael. — Seu amigo disse, ficando em silêncio logo após.

— Como é?

— Os cara sabe que tu trabalha na Lu$h, Micael. Na moral? Pega esse teu dinheiro e vaza de lá, o mais rápido que puder.

— COMO ELES SABEM, LUIZ? — Micael sentou na cama rápido, nem ligando se estava com dores.

— Eu não contei porra nenhuma, tu sabe. — Rendeu as mãos. — Os cara é tiriça, Micael! Você acha que eles iam deixar barato, logo você.

— Ah, puta que pariu. — Micael ficou tenso, bagunçando os cabelos. — Eu não tenho o dinheiro todo, Luiz. É uma parte!

— Mas que parte, mano? Você está juntando essa merda já faz dois anos.

— É difícil juntar um milhão de reais, pra sua informação.

— Porra, um milhão. Tu cheirou o que? — O amigo riu de Micael, incrédulo.

— Viciado não tem vez. Ou você torra tudo ou você morre! — Micael encarou a parede, ficando em transe. — A Vera já está desconfiada que tem alguma coisa acontecendo.

— O que ela te disse?

— Disse que se descobrir, eu vou ser expulso. — Engoliu seco. — Na real, eu não sei o que eu vou fazer mesmo. Pode ser que eu saia da Lu$h.

— Ficou maluco, Micael? Tu não pode sair não! — Luiz se entristeceu. — Como que você vai trabalhar?

— Trabalhando, oras. — Mostrou os ombros. — Eu consigo arrumar outra casa, não na Augusta mas em outro beco.

— É melhor você não sair de lá, vai ser ruim pra você. — O outro amigo aconselhou. — Espera a poeira abaixar, faz os teus programas na casa e não fica saindo.

— Eu não saio.

— Mas vai sair que eu sei! — Luiz fez uma dancinha, fazendo Micael revirar os olhos.

— Nossa, as notícias correm, hein! Eu não me lembro de ter contado pra você. — Micael achou ruim. Luiz riu mais ainda.

— Ninguém precisa me contar, é só analisar os fatos da raiz quadrada. — Fez o moreno soltar um riso sincero. — A garotinha tá louca pra que você vire o namorado dela.

— Sei lá. — Micael não queria tocar nesse assunto.

— AÍ! — Luiz teve uma ideia em instantes, dando um susto em Micael. — Por que tu não pede dinheiro emprestado pra ela?

— Ficou maluco, Luiz? Dinheiro emprestado? — Micael achou o cúmulo. — Eu acabei de conhecer a garota, como eu vou pedir dinheiro emprestado pra ela?

— Pedindo. Com a boca! — Foi debochado. — Chega nela, faz um amorzinho gostoso de fazer ela gemer seu nome, que nem uma gatinha. — Luiz gesticulou, contracenando as cenas. — Depois tu parte pra pergunta de um milhão de reais, literalmente.

— Luiz, eu não quero me encostar na Sophia por isso. Eu gosto dela!

— E?

— E que ela vai ver que eu não quero nada. Eu quero conhecer ela, sair com ela, contar todos os meus segredos. — Micael ficou sério. — Eu não quero me encostar nela pra pagar a minha dívida.

— Mas a garota é cheia da grana, né Micael? O mínimo que você podia fazer é pedir dinheiro. A não ser que você queira conhecer Jesus mais cedo.

— Não vou pedir dinheiro pra ninguém! — Deu a palavra final. — Eu vou pro vintão mas não peço dinheiro pra ela.

Sophia estava em casa quando viu a mãe descer as escadas, elegante. Alex já havia saído e Kelly se atrasado, o que deixou a mãe um pouco revoltada.

— Eu não sei porquê a gente paga a Kelly. — Deu a volta na mesa do café, despejando um pouco de suco. — Ela mais falta do que trabalha!

— Ela tem filhos, mãe. Deve ser por isso! — Respondeu, óbvia.

— Eu sei que todo mundo tem responsabilidades mas o mínimo que ela podia fazer é trabalhar, no lugar onde é o trabalho dela. — Carolina estava irritada. — Vem cá, não era pra você estar no colégio? — Franziu o cenho, vendo a filha.

— Hoje não teve aula, o professor de música faltou. — Sophia foi sincera. Havia ficado sabendo por mensagens passadas por Mariana, mais cedo. — Eu fiquei sem sono e decidi levantar.

— E ninguém me avisa nessa casa que você vai faltar? — Se alterou.

— E desde quando importa pra você, mãe?

— Ô Sophia, você tá muito língua solta, hein! — Carolina não gostou. — Essas suas amizades estão estragando você.

Sophia fuzilou a mãe com o olhar, vendo a mesma se apressar para ir ao trabalho. Não iria discutir mais, ignora-la seria o melhor remédio.

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