Micael acordou no susto, vendo Vera conversando ao telefone. O ambiente claro com um cheiro forte de éter lhe fez ter náuseas, ainda recente. Estava em um hospital, internado, e não sabia o por quê.— Graças a Deus tá vivo! — Vera desligou o telefone, fez uma careta.
— O que aconteceu? — Forçou os olhos. — Minha cabeça está latejando tanto. — Reclamou.
— Você bebeu, se me escutasse não estaria aqui. — Foi irônica. — Caiu que nem uma jaca no chão. Fez feio, Borges! A mulher não quer ver mais você nem pintado de ouro.
— E eu tenho culpa? Ela me drogou!
— E como você sabe que ela te drogou? — Vera se aproximou da maca onde Micael estava, fazendo sua ronda.
— Ela me deu uísque, eu recusei mas depois acabei tomando.
— Bem feito! Ninguém mandou você ficar bebendo coisa oferecida. — Pausou. — Parece que é burro! Coloca na tua cabeça que você é garoto de programa, Micael.
— Tá bom mas nada me dá o direito de não me divertir. — Se defendeu.
Vera passou a mão no rosto, se preparando para fazer uma pergunta escandalosa.
— Eu sei que eu não tenho nada a ver com a porra da tua vida. — Gesticulou. — Mas o que você está fazendo na Lu$h ainda, hein?
— Preciso sobreviver.
— E o que você faz com o teu dinheiro, Borges? — Vera o fitou. — Eu só vejo você guardar e guardar, guardar e guardar. — Balançou a cabeça. — Tu tem nome sujo na banca, não é?
— E interessa pra você? — Micael franziu o cenho.
— Pra mim não interessa mas já que você perguntou. — Vera soltou um suspiro. — Se vierem te buscar na Lu$h por alguma coisa, já fique de aviso que você vai picar a mula de lá. Está entendendo?
Micael fitou Vera com medo, vendo suas expressões. Escutaram batidas leves na porta, viu Luiz entrar junto com dois amigos. Marcelo não estava entre eles.
— E aí, cara! — Luiz sorria fraco. — Como você está?
— Tô bem. — Micael queria que Vera saísse dali. — Quando eu vou ter alta dessa porra?
— O médico já vem te ver. — Vera soltou, saindo de perto.
Luiz se aproximou da maca, junto com o amigo.
— Tu tá ligado o que aconteceu comigo, né? — Micael se apressou, esperando que Vera não escutasse nada.
— Mais ligado que tomada, filho! Ninguém sabe pra onde tu foi quando caiu que nem um girino no chão. — Luiz completou.
— A festa foi combinada, Micael. — Seu amigo disse, ficando em silêncio logo após.
— Como é?
— Os cara sabe que tu trabalha na Lu$h, Micael. Na moral? Pega esse teu dinheiro e vaza de lá, o mais rápido que puder.
— COMO ELES SABEM, LUIZ? — Micael sentou na cama rápido, nem ligando se estava com dores.
— Eu não contei porra nenhuma, tu sabe. — Rendeu as mãos. — Os cara é tiriça, Micael! Você acha que eles iam deixar barato, logo você.
— Ah, puta que pariu. — Micael ficou tenso, bagunçando os cabelos. — Eu não tenho o dinheiro todo, Luiz. É uma parte!
— Mas que parte, mano? Você está juntando essa merda já faz dois anos.
— É difícil juntar um milhão de reais, pra sua informação.
— Porra, um milhão. Tu cheirou o que? — O amigo riu de Micael, incrédulo.
— Viciado não tem vez. Ou você torra tudo ou você morre! — Micael encarou a parede, ficando em transe. — A Vera já está desconfiada que tem alguma coisa acontecendo.
— O que ela te disse?
— Disse que se descobrir, eu vou ser expulso. — Engoliu seco. — Na real, eu não sei o que eu vou fazer mesmo. Pode ser que eu saia da Lu$h.
— Ficou maluco, Micael? Tu não pode sair não! — Luiz se entristeceu. — Como que você vai trabalhar?
— Trabalhando, oras. — Mostrou os ombros. — Eu consigo arrumar outra casa, não na Augusta mas em outro beco.
— É melhor você não sair de lá, vai ser ruim pra você. — O outro amigo aconselhou. — Espera a poeira abaixar, faz os teus programas na casa e não fica saindo.
— Eu não saio.
— Mas vai sair que eu sei! — Luiz fez uma dancinha, fazendo Micael revirar os olhos.
— Nossa, as notícias correm, hein! Eu não me lembro de ter contado pra você. — Micael achou ruim. Luiz riu mais ainda.
— Ninguém precisa me contar, é só analisar os fatos da raiz quadrada. — Fez o moreno soltar um riso sincero. — A garotinha tá louca pra que você vire o namorado dela.
— Sei lá. — Micael não queria tocar nesse assunto.
— AÍ! — Luiz teve uma ideia em instantes, dando um susto em Micael. — Por que tu não pede dinheiro emprestado pra ela?
— Ficou maluco, Luiz? Dinheiro emprestado? — Micael achou o cúmulo. — Eu acabei de conhecer a garota, como eu vou pedir dinheiro emprestado pra ela?
— Pedindo. Com a boca! — Foi debochado. — Chega nela, faz um amorzinho gostoso de fazer ela gemer seu nome, que nem uma gatinha. — Luiz gesticulou, contracenando as cenas. — Depois tu parte pra pergunta de um milhão de reais, literalmente.
— Luiz, eu não quero me encostar na Sophia por isso. Eu gosto dela!
— E?
— E que ela vai ver que eu não quero nada. Eu quero conhecer ela, sair com ela, contar todos os meus segredos. — Micael ficou sério. — Eu não quero me encostar nela pra pagar a minha dívida.
— Mas a garota é cheia da grana, né Micael? O mínimo que você podia fazer é pedir dinheiro. A não ser que você queira conhecer Jesus mais cedo.
— Não vou pedir dinheiro pra ninguém! — Deu a palavra final. — Eu vou pro vintão mas não peço dinheiro pra ela.
Sophia estava em casa quando viu a mãe descer as escadas, elegante. Alex já havia saído e Kelly se atrasado, o que deixou a mãe um pouco revoltada.
— Eu não sei porquê a gente paga a Kelly. — Deu a volta na mesa do café, despejando um pouco de suco. — Ela mais falta do que trabalha!
— Ela tem filhos, mãe. Deve ser por isso! — Respondeu, óbvia.
— Eu sei que todo mundo tem responsabilidades mas o mínimo que ela podia fazer é trabalhar, no lugar onde é o trabalho dela. — Carolina estava irritada. — Vem cá, não era pra você estar no colégio? — Franziu o cenho, vendo a filha.
— Hoje não teve aula, o professor de música faltou. — Sophia foi sincera. Havia ficado sabendo por mensagens passadas por Mariana, mais cedo. — Eu fiquei sem sono e decidi levantar.
— E ninguém me avisa nessa casa que você vai faltar? — Se alterou.
— E desde quando importa pra você, mãe?
— Ô Sophia, você tá muito língua solta, hein! — Carolina não gostou. — Essas suas amizades estão estragando você.
Sophia fuzilou a mãe com o olhar, vendo a mesma se apressar para ir ao trabalho. Não iria discutir mais, ignora-la seria o melhor remédio.
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LU$H
RomanceCom uma dívida de um milhão de reais, Micael foge de casa para as ruas de São Paulo, se prostituindo. Quem o ajudaria? Jovem, loira e de olhos azuis. Ela não sabia no problema que iria se meter, sendo totalmente oposta que ele.