Sophia estava andando pelas ruas de São Paulo, não sabendo aonde estava tecnicamente. Tinha um bolo de dinheiro na mochila, olhou os lados para ver se não estava sendo observada ou seguida, porém, não tinha como não reparar.Sentiu o corpo pedir algo, fora de si. Atravessou a rua indo até à praça suja, com moradores de rua e usuários de droga. Sophia jamais pensou que estaria ali algum dia, não era um ambiente à ela.
Parou em frente à uma mulher morena, que tinha um cachimbo em mãos. Estava suja, cabelos bagunçados e a roupa rasgada. O que Sophia estava fazendo ali?
— De quem você compra? — Saiu perguntando, a mulher franziu o cenho.
— Que foi, patricinha? — Achou ruim a abordagem de Sophia.
— Onde você compra a cocaína? — Foi direta.
A mulher soltou uma gargalhada, apontou para a esquerda, mostrando à Sophia um lugar mais sujo ainda.
— Quanto que você quer? Eu compro, mas eu cobro a entrega. — A mulher soltou.
— Deixa que eu compro.
Sophia ficou irritada, indo até o lugar indicado pela mulher. Passou por alguns homens sujos, moradores de rua, que lhe elogiaram com palavras obscenas. Viu uma barraca de camping aberta, um homem na frente, que seria o vendedor. Ela parou na frente do mesmo, o encarou.
— É você que vende a parada? — Perguntou, porém, recebeu uma risada forte do homem.
— É pra tu? — Levantou a sobrancelha.
— É.
— Qual foi, patricinha? Isso aqui não é lugar pra tu não. — Retirou um pacotinho zip-lock do bolso. — Dois por dez, três por quinze e quatro por vinte. — Encarou Sophia, que estava abrindo a mochila, retirando uma nota de cem.
— Me vê tudo. — Se referiu a nota de cem, entregando ao homem, que sorriu.
— Vai se matar, hein! — Colocou na sacola para Sophia, guardando a nota de cem. — Gostosa. — Jogou um beijo à ela, que negou com a cabeça.
Saiu dali rapidamente, apertando a mochila com força e correndo. Tinha droga, o dinheiro de Micael e algumas roupas. Precisava se alojar!
Micael andou de um lado para o outro enquanto tinha o telefone residencial em mãos, estava com o cartãozinho de Raquel, ansioso para falar com a mesma. Queria saber onde Sophia estava e por quê havia fugido.
— Alô?
— Quem fala?
— É... Raquel? Meu nome é Micael Borges, eu peguei o seu cartão.
— Sim?
— Você é amiga da Sophia. A loirinha, magrinha... Enfim. — Fez uma pausa. — Ela mora comigo, fugiu do meu apartamento e eu estou procurando. Estamos todos preocupados!
— Gato, não vou mentir! Ela esteve comigo, dormiu mas também fugiu. Não sei onde está. — Micael arregalou os olhos. — Você não sabe mesmo para onde ela possa ter ido?
— Não faço a mínima ideia, por isso eu te liguei. — Ele estava realmente preocupado. — Mas obrigado por avisar! — Desligou a ligação e jogou o telefone longe.
Mariana correu atrás, querendo saber.
— E aí?
— E aí que ela também fugiu de lá. — Passou a mão na cabeça, nervoso. — Sério, eu não sei mais onde eu posso encontrar ela.
— Ela não deve ter ido muito longe. — Mariana pensou. — A gente precisa ver as redondezas que essa tal de Raquel mora.
— Redondeza porra nenhuma! — Micael soltou, irritado. Correu perto da escada, buscando o seu tênis. — Eu vou caçar ela em todos os puteiros que tiver em São Paulo.
— Micael, sério? — Mariana soltou um risinho. — A Sophia...
— A Sophia é puta, Mariana! Quem é puta uma vez, é puta sempre. — Deixou a menina em choque.
Saiu pela porta, não dando satisfações para onde iria.
Sophia avistou a placa branca com escrita estranha. "Casa de Massagens" era o que dizia. Subiu uma escada estreita até chegar em uma portinha de vidro quebrado com remendos. Bateu duas vezes com cuidado, até ser atendida.
— Oi.
A loira por atrás da porta lhe atendeu. Um silicone tremendo, cabelos longos e a pele sedosa. Olhou Sophia de cima à baixo.
— Oi. — Sophia soltou um suspiro. — Tem vaga?
— Você já trabalhou com isso?
— Eu acabei de sair de uma casa.
— Hum. — A loira não fez muita questão. — A gente até tem mas aqui todo mundo tem que se ajudar, entendeu? — Rolou os olhos.
— Não tem cafetina?
— Não. — Sophia se aliviou com aquela resposta. — Você faz o seu programa e ajuda em alguma conta. Se não ajudar é rua!
— Eu posso ficar? Eu juro que trabalho bem.
A loira observou Sophia mais uma vez, pediu para que entrasse. O estado do ambiente não era lá aquelas coisas. Super pequeno, uma cozinha, três quartos que pareciam cativeiros, um banheiro seguido da lavanderia. Pensou realmente se ficaria ali, mas, não tinha para onde ir. Precisava se virar com as armas que tinha.
— Malu? — A loira chamou mais outra mulher, agora, ruiva. Observou Sophia do mesmo jeito, querendo saber quem era. — Essa é a Sophia, ela quer trabalhar com a gente!
— Sophia. — As duas se encararam. — Você já trabalhou?
— Eu falei pra ela que acabei de sair de uma casa.
— Perfeito. — Observou o estado de Sophia. — A gente não tem cafetina no privê. Aqui é... Trabalhar, pagar alguma conta e o resto você que se vire.
— Enquanto a comida e as roupas?
— Você come na rua e lava as suas roupas na rua, se quiser, tem um tanque na lavanderia mas ele está quebrado. — Avisou. — Vai querer ficar?
— E os clientes?
— Qualquer um que tiver o preço vem comer a gente, fofa. — Sophia engoliu seco. — Mendigo, traficante, velho, até mulher, às vezes.
Sophia queria chorar e fugir dali, mas tinha que ser forte. Engoliu seco, assentindo e aceitando. Não perguntou mais nada, alojou-se de um modo totalmente inaceitável, com nojo de estar ali e também, com medo.
Precisava fazer mais dinheiro, mesmo tendo dinheiro. A realidade era que ela estava fora de si, não tinha mais o que fazer.

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LU$H
RomanceCom uma dívida de um milhão de reais, Micael foge de casa para as ruas de São Paulo, se prostituindo. Quem o ajudaria? Jovem, loira e de olhos azuis. Ela não sabia no problema que iria se meter, sendo totalmente oposta que ele.