Capítulo 34

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Carolina adentrou o consultório caro e reservado em uma região nobre em São Paulo. O local com outro nome disfarçava totalmente o que era procedido. Ela esperou até ser atendida por uma médica, que recebeu Carolina com total carinho.

Conversou sobre sua real situação, contando os mínimos detalhes para que a mulher à sua frente entendesse.

— Você ainda está de dias, Carolina. — A médica fez um ultrassom rápido, mostrando à ela o feto, totalmente pequeno. — Está bem recente!

— Eu sei, eu também acabei de descobrir. — Colocou as mãos no rosto.

— Você vai optar pelo aborto?

— Óbvio! Eu não posso ter essa criança. O pai dela tem idade pra ser o meu filho. — Estava desesperada.

— Certo. — A médica lhe encarou. — Você prefere fazer pela clínica ou em casa?

— Acho que pela clínica, em casa pode ter o perigo de acontecer outras coisas. — Explicou. — Quero o método mais rápido, e que eu não fique de observação.

— Mas você precisa ficar de observação! E preciso de alguém que saiba que você está fazendo isso.

— Doutora, ninguém pode saber. — Se desesperou. — Entendeu? Ninguém!

— Mas como você vai ficar de observação sendo que ninguém da sua família sabe? E se acontecer alguma coisa?

— Não vai acontecer nada! — Carolina mexeu nos cabelos. — Podemos fazer o procedimento ainda hoje? Eu quero me livrar dessa coisa.

— Claro que pode! Eu só preciso que você me confirme alguém de sua suma responsabilidade para fazermos o procedimento. — A médica voltou ao assunto.

Carolina bufou pois não havia ninguém confiável no momento. Lembrou-se de uma amiga, que estava viajando, optando por colocar o nome dela apenas por precaução. A médica seguiu tranquila, lhe dando os papéis para Carolina se internar.

Sophia e Micael haviam tomado banho após se amarem, optando por assistir um filme na sala. A loira caiu no sono enquanto tinha os braços aninhados em Micael, mas, não sabia que teria um pesadelo daqueles.

Sua respiração ficou ofegante quando ela se assustou, acordando. Micael segurou o seu braço de leve, franzindo o cenho.

— Ei, amor! Tá tudo bem! — Beijou o topo da cabeça de Sophia.

— Eu... Tive um pesadelo. — Ainda estava ofegante, tentando se lembrar o que havia acontecido.

— Vem, senta aqui. — Pediu para que ela se sentasse. — Quer uma água? — Ficou preocupado.

— Foi só um pesadelo. — Ficou em transe. — Mas foi horrível! Ai! — Colocou as mãos na cabeça.

— Sua mãe? — Micael lançou um olhar.

Sophia assentiu e então, começou a chorar. Micael abriu os braços, abraçando a loira que soltou as mágoas, a pose de durona não seguraria muito tempo.

— Tá com saudade, né? — Micael beijou o topo da sua cabeça.

— É. — Secou suas lágrimas.

— Amor, olha pra mim!

Micael colocou Sophia de frente à ele, desligando a televisão. Sua atenção foi cem por cento quando ela secou suas lágrimas, esperando que Micael dissesse algo.

— Por que você não volta pra casa? Ainda dá tempo.

— Eu não quero, Micael! Eu sinto falta da sua mãe, assim como você também sente falta da sua.

— Eu sei, óbvio que eu sinto saudade da minha mãe mas... São situações diferentes! — Micael fez uma careta. — Eu sai por opção, porque eu tinha que sair. Agora você. — Abriu as mãos. — Até hoje eu não entendi o por quê de você ter saído de casa.

— Liberdade.

— Não. Você saiu por pura birra! Porque você é mimada! — Não teve dó nas palavras.

Sophia ficou em silêncio, desviou o olhar.

— Vai ficar putinha porquê eu te chamei de mimada?

— Não, Micael. — Se emburrou. — Eu só não quero mais ficar sozinha, só isso.

— Na sua casa você ficava sozinha?

— Meu pai só vive no trabalho, minha mãe vive enchendo a agenda dela de coisas pra não me aturar. Você acha que a minha vida era legal? Dinheiro não compra felicidade, harmonia e companhia Micael! — Se estressou, teve um nó na garganta tremendo, querendo chorar de novo.

— Tá certo. Não vou mais falar disso com você! — Negou com a cabeça, abraçando ela de novo. — Pelo menos aqui comigo, você está segura. Mas, eu não queria estar fazendo isso.

— Já falei que a gente pode trabalhar certo. — Deu ênfase.

— Você quer ser atendente de loja e se estressar com o primeiro cliente?

— Pelo menos eu não vou precisar ficar pelada pra um estranho que eu nunca vi na vida!

— Por mil reais, Sophia. Mil reais! Fora os que te amam, né? — Micael blefou. — Programa é foda, ou você se arrisca ou vai pro vintão.

— E você já foi pro vintão?

— Tô com cara de quem dá o cu?

— Grosso. — Sophia cruzou os braços, se emburrando. — Eu só queria ter uma vida normal com você.

Micael a observou, levantou uma sobrancelha.

— E a gente não tem?

— Fazendo programa pra comer? Onde que isso é uma vida normal? — Sophia levantou do sofá, caminhando até à cozinha. — Sorte á nossa que a sua cliente boazuda paga isso aqui, se não, a gente estava fodido.

— Você fala como se deitasse com dez mil homens no dia, né Sophia? — Ele também se levantou, cruzando os braços. — Se liga! Tu só transa comigo e acha que está fazendo o máximo.

— Aaaaaah, então é assim? — Ficou irritada de novo. — Eu não estou fazendo o máximo pra você?

— Você nem sabe como é ser uma puta de verdade. Está brincando ainda!

— Micael Borges, veja suas palavras antes de falar qualquer merda comigo. — O fuzilou com o olhar. — Você quer virar o meu cafetão? Acho que é isso. — Levantou os ombros. — Quer meter um cartaz na porta com vintão? Ou melhor... Cinquenta da casa, cinquenta da garota?

— Sério, eu não vou discutir com você. — Micael riu sarcástico, mas ainda sim, ficando bravo. — Na verdade eu nem sei porquê eu entrei nesse assunto.

— Porque eu acho que na minha opinião você está querendo dizer algo, mas está com medo da minha reação!

— Não tenho medo de você, Sophia. — Ficou frente à frente com ela, ambos se encarando. — Só se lembra que você precisa de mim pra ter um teto! Eu duvido que você queira ir em alguma esquina fazer ponto e dar a boceta por trinta reais, pra um monte de velho nojento que vai te tratar que nem lixo. — Cuspiu as palavras.

Afundou o dedo indicador no rosto de Sophia, em ameaça.

— Te liga, hein loirinha!

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