Capítulo 26

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Micael não havia gostado da ideia de Sophia, não concordando em momentos com a sua fiel decisão. Voltaram para o apartamento, ainda conversando nessa hipótese. 

— Certo. Então é isso que você quer? — Micael perguntou pela décima vez, como se estivesse oferecendo um contrato. 

— Como a gente vai sobreviver? Eu preciso te ajudar, eu preciso comprar roupas, eu preciso me manter! — Sophia ainda não tinha engolido a história do cancelamento dos cartões. 

— Já que a gente vai trabalhar sério, precisamos conversar sério! — Micael cruzou as mãos. 

— E o que você quer falar? 

— Sobre o programa... — Coçou a nuca. — Trezentos reais, e você vai começar a atender homem também. 

— Então você vai ser o meu cafetão? — Sophia não gostou da ideia. 

— Eu não vou ser o seu cafetão, mas também não vou deixar você ficar fazendo programa com mulher! Ménage tem casal, homem que quer só assistir. — Micael explicou. — Se você quiser pular fora agora, fique á vontade. 

— Eu não vou pular fora, já falei. — Sophia estava desanimando com aquela conversa. 

Se jogou no sofá, encarando a vista dos prédios pela varanda de vidro, ainda fechada. 

— Como a gente vai anunciar isso? 

— Internet. — Micael respondeu simples. — Ou você quer um cartaz lá fora pra todos os vizinhos verem? — Sentou no outro sofá, observando Sophia.

— Quero trabalhar, só isso! 

Micael iria responder mas foi surpreendido pelo toque do celular, irritante. Deixou Sophia quando leu o nome de Carolina no visor, que seguia insistente na ligação. 

— Já volto! — Avisou Sophia que não deu a mínima. Andou até a varanda, ficando do lado de fora e fechando á porta para que a mesma não escutasse. — Alô? 

Oi. Eu sumi, né? 

— Oi, é... Sumiu sim! Creio que deve estar na correria. 

Eu estou com saudade. Será que a gente pode se ver? 

— Nesse momento? — Encarou Sophia, que alongava as pernas diante do sofá. — Você queria algo mais íntimo ou compartilhado? 

Que história é essa? 

— É que... Digamos. — Não sabia como contar isso á Carolina. — Eu tô trabalhando com uma moça agora. 

Trabalhando? Ou ela é sua namorada? 

— A gente não tem relação nenhuma! Ela queria um lugar pra trabalhar enquanto não arranja uma casa. Eu conheço ela há anos. — Mentiu. — Ficou um tempo na Lush mas a Vera fez ela ralar peito de lá. 

Hummmm. — Carolina acreditou na história. — E vocês estão trabalhando juntos? 

— Sim. Quer vir aqui e experimentar um pouco? Eu tenho certeza que você vai amar! — Micael deu um sorriso cúmplice, tirando risos de Carolina. 

Eu não sei... Aqui em casa está um caos! Eu estou com problemas e o meu marido anda aqui o dia inteiro. — Explicou. — A gente pode deixar marcado pra algum dia? 

— Você é quem manda, minha rainha! — Sorriu.

Ótimo! Te vejo na outra semana então. 

— Perfeito. Um beijo! 

Outro beijo! 

Desligaram a ligação. 

— Tava falando com quem? — Sophia apareceu na porta, de supetão. Se escorou na porta de vidro, dando um pequeno susto em Micael. 

— Te interessa por acaso? — Soou grosso. 

— Eu, hein! Aposto que estava falando com a galinha dos ovos de ouro. — Ficou em cima do deck de madeira, descalça. Caminhou pelo pequeno espaço, ainda vendo os prédios. 

— E se eu tivesse? Você ia fazer algo? 

— Jamais. — Estava irritando Micael, de todas as formas possíveis. — A gente podia sair! O que você acha? 

— E você vai pagar com programa? — Respondeu em deboche. 

— Chato! Eu só quero distrair desse lugar, toda hora uma coisa, toda hora uma mulher diferente. — Sophia revirou os olhos. 

— É melhor você se acostumar, bonitinha! Vai ter muita mulher que você vai ver ainda. 


Na Lu$h, as coisas iam de mal á pior. Vera teve noção disso quando observou as contas da antiga casa, meramente, atrasadas. O valor do programa não estava coagindo com as despesas! Micael fazia falta naquele lugar. 

— Posso entrar? — Luiz entrou com tudo, assustando Vera. 

— Já entrou. — Largou os papéis em cima da mesa. — O que é que você quer? 

— Eu vim te contar sobre o cafofo do Micael. 

— É sério? — Vera levantou o olhar com deboche, não dando a mínima para que Luiz contasse. 

— Não era você que queria saber pra passar para a mulher lá? 

— Luiz, agora não. — Passou as mãos no rosto. — Eu estou cheia de pepino pra resolver. 

— Que tipo de pepino? — Luiz ficou sério. 

— A gente está na merda! Desde que o Borges saiu, os programas despencaram. Eu não posso cobrar trezentos reais de programa com uma estrutura merda dessa. — Bufou. 

— Mas e aí? O que a gente faz? 

— Eu tive uma ideia mas eu estou pensando bem. — Vera semicerrou os olhos. — Eu pensei da gente construir uma boate aqui, que tal? 

— Boate? Mas e o puteiro? 

— Luiz, pensa bem! Se a gente montar a boate, depois os programas vão acontecendo e vocês nem precisam sair daqui. — Vera e ele sorriram. — Ninguém precisa saber que a Lu$h é um puteiro! Agora ela vai virar boate.

— Caralho, hein! Tu quer mesmo de todo o jeito fazer mais dinheiro que o Borges. — Soltou rindo mas não teve a aprovação de Vera, que fechou a cara. 

— Eu quero que o Borges se foda! O negócio é manter essa porra de pé de novo. Ou vocês vão ter que ralar pra achar outra casa. 

— Tá louca? Eu não quero sair daqui não! 

— É por isso que você precisa me ajudar! — Esfregou as mãos. — Vamos fazer uma reunião pra avisar os meninos e ajeitar essa casa pra receber o público. 

— E tem jeito da gente fazer alguma reforma? 

— Eu tenho os meus truques, Luiz. Fica calmo! 

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