Micael não havia gostado da ideia de Sophia, não concordando em momentos com a sua fiel decisão. Voltaram para o apartamento, ainda conversando nessa hipótese.
— Certo. Então é isso que você quer? — Micael perguntou pela décima vez, como se estivesse oferecendo um contrato.
— Como a gente vai sobreviver? Eu preciso te ajudar, eu preciso comprar roupas, eu preciso me manter! — Sophia ainda não tinha engolido a história do cancelamento dos cartões.
— Já que a gente vai trabalhar sério, precisamos conversar sério! — Micael cruzou as mãos.
— E o que você quer falar?
— Sobre o programa... — Coçou a nuca. — Trezentos reais, e você vai começar a atender homem também.
— Então você vai ser o meu cafetão? — Sophia não gostou da ideia.
— Eu não vou ser o seu cafetão, mas também não vou deixar você ficar fazendo programa com mulher! Ménage tem casal, homem que quer só assistir. — Micael explicou. — Se você quiser pular fora agora, fique á vontade.
— Eu não vou pular fora, já falei. — Sophia estava desanimando com aquela conversa.
Se jogou no sofá, encarando a vista dos prédios pela varanda de vidro, ainda fechada.
— Como a gente vai anunciar isso?
— Internet. — Micael respondeu simples. — Ou você quer um cartaz lá fora pra todos os vizinhos verem? — Sentou no outro sofá, observando Sophia.
— Quero trabalhar, só isso!
Micael iria responder mas foi surpreendido pelo toque do celular, irritante. Deixou Sophia quando leu o nome de Carolina no visor, que seguia insistente na ligação.
— Já volto! — Avisou Sophia que não deu a mínima. Andou até a varanda, ficando do lado de fora e fechando á porta para que a mesma não escutasse. — Alô?
— Oi. Eu sumi, né?
— Oi, é... Sumiu sim! Creio que deve estar na correria.
— Eu estou com saudade. Será que a gente pode se ver?
— Nesse momento? — Encarou Sophia, que alongava as pernas diante do sofá. — Você queria algo mais íntimo ou compartilhado?
— Que história é essa?
— É que... Digamos. — Não sabia como contar isso á Carolina. — Eu tô trabalhando com uma moça agora.
— Trabalhando? Ou ela é sua namorada?
— A gente não tem relação nenhuma! Ela queria um lugar pra trabalhar enquanto não arranja uma casa. Eu conheço ela há anos. — Mentiu. — Ficou um tempo na Lush mas a Vera fez ela ralar peito de lá.
— Hummmm. — Carolina acreditou na história. — E vocês estão trabalhando juntos?
— Sim. Quer vir aqui e experimentar um pouco? Eu tenho certeza que você vai amar! — Micael deu um sorriso cúmplice, tirando risos de Carolina.
— Eu não sei... Aqui em casa está um caos! Eu estou com problemas e o meu marido anda aqui o dia inteiro. — Explicou. — A gente pode deixar marcado pra algum dia?
— Você é quem manda, minha rainha! — Sorriu.
— Ótimo! Te vejo na outra semana então.
— Perfeito. Um beijo!
— Outro beijo!
Desligaram a ligação.
— Tava falando com quem? — Sophia apareceu na porta, de supetão. Se escorou na porta de vidro, dando um pequeno susto em Micael.
— Te interessa por acaso? — Soou grosso.
— Eu, hein! Aposto que estava falando com a galinha dos ovos de ouro. — Ficou em cima do deck de madeira, descalça. Caminhou pelo pequeno espaço, ainda vendo os prédios.
— E se eu tivesse? Você ia fazer algo?
— Jamais. — Estava irritando Micael, de todas as formas possíveis. — A gente podia sair! O que você acha?
— E você vai pagar com programa? — Respondeu em deboche.
— Chato! Eu só quero distrair desse lugar, toda hora uma coisa, toda hora uma mulher diferente. — Sophia revirou os olhos.
— É melhor você se acostumar, bonitinha! Vai ter muita mulher que você vai ver ainda.
Na Lu$h, as coisas iam de mal á pior. Vera teve noção disso quando observou as contas da antiga casa, meramente, atrasadas. O valor do programa não estava coagindo com as despesas! Micael fazia falta naquele lugar.
— Posso entrar? — Luiz entrou com tudo, assustando Vera.
— Já entrou. — Largou os papéis em cima da mesa. — O que é que você quer?
— Eu vim te contar sobre o cafofo do Micael.
— É sério? — Vera levantou o olhar com deboche, não dando a mínima para que Luiz contasse.
— Não era você que queria saber pra passar para a mulher lá?
— Luiz, agora não. — Passou as mãos no rosto. — Eu estou cheia de pepino pra resolver.
— Que tipo de pepino? — Luiz ficou sério.
— A gente está na merda! Desde que o Borges saiu, os programas despencaram. Eu não posso cobrar trezentos reais de programa com uma estrutura merda dessa. — Bufou.
— Mas e aí? O que a gente faz?
— Eu tive uma ideia mas eu estou pensando bem. — Vera semicerrou os olhos. — Eu pensei da gente construir uma boate aqui, que tal?
— Boate? Mas e o puteiro?
— Luiz, pensa bem! Se a gente montar a boate, depois os programas vão acontecendo e vocês nem precisam sair daqui. — Vera e ele sorriram. — Ninguém precisa saber que a Lu$h é um puteiro! Agora ela vai virar boate.
— Caralho, hein! Tu quer mesmo de todo o jeito fazer mais dinheiro que o Borges. — Soltou rindo mas não teve a aprovação de Vera, que fechou a cara.
— Eu quero que o Borges se foda! O negócio é manter essa porra de pé de novo. Ou vocês vão ter que ralar pra achar outra casa.
— Tá louca? Eu não quero sair daqui não!
— É por isso que você precisa me ajudar! — Esfregou as mãos. — Vamos fazer uma reunião pra avisar os meninos e ajeitar essa casa pra receber o público.
— E tem jeito da gente fazer alguma reforma?
— Eu tenho os meus truques, Luiz. Fica calmo!
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LU$H
RomanceCom uma dívida de um milhão de reais, Micael foge de casa para as ruas de São Paulo, se prostituindo. Quem o ajudaria? Jovem, loira e de olhos azuis. Ela não sabia no problema que iria se meter, sendo totalmente oposta que ele.