Capítulo 65

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Sophia voltou ao elevador do flat, escondendo a caixa debaixo da blusa. Óbvio que estava visível, mas ela não ligou as olhares esquisitos sob ela. Quando chegou ao andar, estava mais calma, com um aspecto de liberdade. Micael não sabia o por quê e estranhou por isso.

— Onde você foi?

— A Raquel me trouxe um negócio. — Desconversou e se escondeu atrás do balcão, dando um jeito de guardar a caixa entre as panelas.

— Que negócio? — Micael foi atrás.

Sophia se apressou, colocando a caixa dentro de uma panela grande, sem fazer barulho.

— Uma paleta de maquiagem. — Apoiou o rosto nas mãos. — Você dormiu bastante, tem certeza que consegue dormir à noite?

— Sophia, o que você fez? — Cruzou os braços e encarou a menina, observando ela de cima à baixo.

— Eu? — Levantou os ombros, espantada e nervosa. — Eu não fiz nada! Por que eu faria alguma coisa?

— Porque você está calma demais pro meu gosto. — Foi até ela, não dando a mínima para as panelas que estavam debaixo do balcão. — Raquel disse algo pra você sobre o trabalho?

— Você começa hoje! — Arregalou os olhos e se apressou ao dizer. Estava esquisita, Micael perceberia rápido. — Na verdade, ela me disse agora de pouco. Você começa hoje!

— Não mente pra mim, você aprontou alguma coisa com a Mariana?

— Você está achando que eu fui mexer com a Mariana?

— Sim? — Franziu o cenho. — Eu dormi por horas, você está muito calma pro meu gosto.

— Eu não quero mais falar sobre esse assunto, Micael. — Sentiu calafrios.

— Tudo bem, mas você sabe que o bebê dela será o seu irmão, tecnicamente. — Alfinetou.

Sophia tapou os ouvidos como uma criança birrenta, saiu de perto de Micael, antes que chorasse de novo.

A noite caiu, Micael se arrumou junto com Sophia para o seu primeiro dia de trabalho. Pediram um táxi juntos, com destino à Lush, onde já se encontrava cheia naquele horário.

O segurança liberou a entrada de ambos, que sorriram como agradecimento. Encontraram Raquel conversando com o barman, ela mudou a feição quando viu Micael passar pela porta. Andou até os dois, sorrindo falsa.

— Micael! Sophia! Que bom ver vocês. — Abraçou os dois, dando um beijo em cada lado do rosto.

— E aí, como que está? — Micael colocou as mãos no bolso da calça jeans, observou o local dez vezes mais bonito. — Caraca, nem parece que eu trabalhei aqui quando era uma espelunca.

— Pra você ver como as coisas mudam, bebê. — Raquel soltou um risinho. — Querem um drinque? — Apontou.

— Eu tô de boa! — Micael suspirou. — Eu vou começar agora?

— Calma aí com o seu carrinho, bebê. A gente precisa conversar antes. — Raquel o parou com as mãos. — Enquanto a Sophia se diverte ao bar, a gente pode ir no meu escritório? — Sorriu amigável à Micael que acompanhou Raquel, indo até uma porta distante de onde estavam.

Ela fechou a porta atrás de si, passando uma tranca. Micael achou esquisito mas optou por ficar em silêncio, sentando na cadeira à frente de uma mesa. A mesa de Raquel.

— Então. — Estava ansioso para começar o trabalho. — Você disse pra Sophia que eu vou começar hoje, não disse?

— E você vai. — Assentiu. — Já sabe como funciona ou não faz a mínima ideia disso?

— Eu vou ficar responsável pelo dinheiro da casa, não?

— Sim! Você também vai separar a grana de todo mundo que trabalha aqui, incluindo o barman. — Explicou. — Não precisa fechar o caixa, eu fico responsável por tudo lá fora.

— Então quer dizer que eles não recebem o dinheiro na mão?

— Não, bebê. O dinheiro do programa é com eles, mas o da casa fica com a gente! É cem da casa e cinquenta da garota ou garoto.

— Cacete. — Micael se impressionou. — Teu chefe é pior do que a Vera, hein.

— Você deveria agradecer o meu chefe, ele ainda tá dando essa oportunidade de você trabalhar e ter uma vida digna com a Sophia. — Enlaçou os dedos.

— Brinquei, desculpa. — Abaixou a cabeça.

— Eu confio em você, Micael! Não me decepcione. — Pausou. — Todo o dinheiro precisa bater no final da noite.

— Fica tranquila que eu não roubo dinheiro de ninguém, ao contrário de certas pessoas. — Referiu-se à Sophia. — Mas e aí? Já posso começar ou a gente vai ficar nisso aqui? — Raquel riu e Micael soltou um riso, estava patético demais à parte.

— A sala é toda sua, meu querido. — Levantou-se da cadeira para que Micael pudesse administrar. Não era um trabalho difícil, só precisava manusear o dinheiro completo.

Lá fora, Sophia conversou algumas palavras com o barman mas parou quando viu Micael sair da sala, junto com Raquel. Estavam sorrindo, felizes, nem parecia que estava cavando sua própria cova.

— Tranquilo por aqui? — Micael abraçou Sophia, dando um beijo demorado em seus lábios.

— Estávamos conversando sobre o movimento. Tem muita gente pra chegar ainda! — Sophia respondeu ao namorado, que sorriu.

— Você quer ir para a casa? Não acho que aqui seja um bom ambiente pra você.

— E deixar você aqui com um bando de gostosas? Com certeza não! — Micael achou graça do seu ciúme. — Eu posso trabalhar com você.

— Nem pensar, meu amor. Eu preciso trabalhar sozinho, é dinheiro que está em jogo. — Contou. — Tem certeza que não quer ir embora?

— Eu não quero ficar em casa sozinha. — Fez charme. — Se bem que. — Pausou, lembrando da arma que estava debaixo do balcão. — É melhor eu ir mesmo, esse lugar não é bom pra mim.

— Viu só? Eu sempre tenho razão. — Brincou com Sophia, dando outro beijo, só que agora rápido.

— Amiga, eu já vou indo. — Sophia se despediu de Raquel, que deu um abraço apertado na mesma. — Se você quiser ir lá em casa, me fazer companhia.

— Eu preciso ficar aqui, bebê. Não posso deixar essa galera sozinha. — Fez uma careta. — Mas se o Micael quiser, eu posso dar uma carona quando acabar o expediente.

— De manhã? — Sophia fez uma careta. Não gostou muito da possibilidade. — Quer dizer...

— De manhã. Você sabe que a gente toca a Lush até às seis! — Raquel não esbanjou espanto. Adorou ver Sophia com ciúmes. — Tudo bem pra você, Micael?

— Por mim, eu posso pegar um táxi. — Deu de ombros. — Preciso ir! Cuidado na hora de ir pra casa. — Beijou a testa de Sophia e saiu.

Raquel e Sophia se encararam.

— Qual foi, Raquel? — Rebateu.

— Tá louca, garota? Você acha que eu vou querer algo com ele? Me poupe, Sophia! Teu mal é pica. — Se irritou, deixando Sophia sozinha.

Ela se irritou até chegar na entrada, onde pediu um táxi e foi embora, decidindo o que faria em relação à Mariana.

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