Capítulo 13

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— Eu vim almoçar!

Sophia estava de braços cruzados enquanto discutia com Carolina, que fez o mesmo. As duas irritadas por terem se encontrado.

— Eu também!

— Incrível como você odeia ficar com a sua família. — Foi irônica. — Sempre que dá, você foge.

— Sophia, para de drama. — Carolina se apressou. — Vai, rala daqui! — Segurou a filha pelo braço, que fez um escândalo. Tiveram olhares para si.

— AÍ MÃE, TÁ ME MACHUCANDO! — Tentou se esquivar. — Dá pra você me soltar? Obrigada. — Conseguiu sair das mãos de Carolina. — Quem está aí com você? — Enfrentou.

— Que? — Carolina riu incrédula. — Você acha que eu estou traindo o seu pai? Por isso vim até um restaurante no centro de São Paulo pra fazer isso? Vai caçar o que fazer, Sophia! — Carolina passou a mão nos cabelos, ainda rindo incrédula. — Você é muito criança! Precisa crescer!

— Ah, eu? Tem certeza? — Rebateu com a mãe. — É sempre isso, mãe. Você poderia ter marcado algo pra gente fazer. É por isso que eu não conto nada da minha vida pra você, eu realmente não faço questão. — Rendeu as mãos.

— SOPHIA, JÁ CHEGA! — Carolina ficou nervosa, gritando. — Eu vou chamar um táxi e você vai picar a mula daqui, entendeu?

— Vem amiga, você está bem nervosa. — Bella segurou no braço de Sophia, que estava fuzilando a mãe com o olhar.

— E não adianta olhar pra mim com essa cara! Está de castigo e quando o seu pai chegar, o negócio vai ficar feio.

Carolina bufou enquanto ligava para qualquer táxi, Bella tentou recompor a amiga mas não conseguiu. O ódio de Sophia pela mãe era maior que tudo! Esperou alguns minutos até ter certeza de que a filha estaria dentro do carro, partindo para casa.

Pagou o taxista e o viu sair, voltando para dentro do restaurante. Micael esperava na mesa, um pouco entediado.

— Onde você foi?

— Vem, vamos embora! — Carolina fez com que ele se apressasse.

— A gente não ia almoçar? — Ficou sem entender, saindo do restaurante pelos fundos.

— Minha filha estava aqui. — Carolina apertou o alarme do carro, destravando. — Se ela visse a gente, você já viu o rolo que ia dar, né? — Entraram no veículo.

— E como você me traz em um lugar que a sua filha frequenta?

— Acontece que eu não sabia, Micael. Foi o destino! — Carolina apertou o volante, com raiva. — A gente não pode mais ficar se vendo assim.

— Foi você quem quis almoçar comigo, eu disse pra gente ficar na Lu$h. — Se defendeu. — Mas enfim, eu ainda tô com fome!

— A gente come em outro lugar, isso é o de menos. — Ainda estava extasiada com o que havia acontecido. — Deus, foi por pouco! Imagine se você não tivesse ido ao banheiro quando ela chegou? Eu não quero nem imaginar. — Passou as mãos no rosto.

— Calma, tudo bem? — Alisou o braço de Carolina. — A gente pode relaxar, se você quiser. — Beijou o pescoço da mulher, que ainda estava tensa.

— Não, eu não quero relaxar. Eu não quero fazer nada! — Torceu o nariz, afastando Micael.

Virou-se para Micael, o encarando.

— Por que você não sai dessa vida, garoto? — Carolina o observou. — Você é lindo! Podia muito bem ganhar dinheiro em capa de revista.

— Ata! — Micael soltou um riso. — Você acha mesmo que eu, Micael, vou ser modelo? Não viaja, Carolina. — Fechou a cara, achando aquilo uma loucura. — Você sabia que metade das modelos são garotas de programas? Posar pra revista não é esse mar de rosas todo não, tá!

— Eu sei Micael mas você podia fazer outra coisa, ao invés de trabalhar pra uma cafetina. — Carolina achava aquilo um cúmulo. — Podia ser vendedor em uma loja, ganhar um dinheirinho, estudar.

— Carolina, entende uma coisa! — Micael segurou a sua mão. — Garoto de programa não tem vez! Eu sai de casa com dezoito anos, sem nada, nem documento. A Lu$h foi meu refúgio, se não, eu ia estar passando fome por aí. — Pausou. — Ser garoto de programa não é fácil! Tem cara lá dentro que faz programa pra pagar faculdade de filho, então, não é esse mar de rosas que você está pensando. Rola muita coisa por dentro!

— E com esse mar de rosas todo que você está falando, faz quanto tempo que você trabalha nessa casa?

— Dois anos. — Micael não gostava de dizer muito sobre isso.

— Então você tem uma renda boa!

— Sim.

— Por que você tr...

— Eu tenho uma dívida pra pagar, Carolina. É isso! Satisfeita? — Micael se irritou. — Transar pra ganhar dinheiro foi a coisa mais fácil que me apareceu, foi isso. Eu não tenho como trabalhar honestamente pra pagar esse tanto de dinheiro.

— Quanto você precisa pra quitar essa dívida?

— Um milhão. — Micael encarou os próprios dedos, com vergonha de contar à verdade. — Eu era viciado em pó quando morava com a minha mãe. Daí me afundei!

— Em pó? Meu Deus, Micael!

— É, mas agora eu tô limpo. — Deu de ombros. — Eu só preciso pagar tudo que eu cheirei.

— E o traficante já ousou em procurar por você?

— Com certeza mas ele ainda não me achou. — Micael cerrou os olhos. — Eu quero sair dessa vida mas infelizmente eu não posso!

— Meu Deus. — Carolina estava abismada com tanta informação. — Isso é... Eu nem sei o que dizer!

— O seu silêncio já está de ótimo tamanho.

Carolina e Micael ficaram em silêncio, por alguns minutos. Ela mordeu a ponta dos dedos, remoendo toda a conversa que havia tido com o moreno, revirando os detalhes.

— Você me promete uma coisa?

— Depende. — Ele arqueou uma sobrancelha. — Se estiver no meu alcance, pode ser que sim.

— Eu vou te emprestar um milhão! Porém, você vai me prometer que vai sair dessa vida, arrumar um emprego e ganhar dinheiro honestamente.

— Mas meu trabalho é honesto! Eu não roubo ninguém. — Micael levantou os ombros.

— Micael, você entendeu. — Carolina ficou sem paciência. — Você aceita? É o único jeito de você conseguir um milhão de reais.

Micael ficou pensativo, não gostando nada daquilo. Viu Carolina ansiosa pela resposta, esperando que ele fizesse algo, relacionado como sim. Porém, o suspiro final foi sua única resposta no momento.

— Eu vou pensar e te falo.

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