Capítulo 20

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Sophia estranhou quando encarou o imenso prédio de classe média, sendo assim, um pouco de luxo. Conversou com o porteiro que lhe deu permissão para subir. Ajustou os cabelos no espelho do elevador, tentando tirar a cara de abatida que estava.

Quando saiu, viu que o apartamento que Micael estava era nem mais e nem menos que a cobertura. Só ele não sabia, estava muito eufórico para saber isso.

Tocou a campainha enquanto ajustava sua mochila, apertando a alça como segurança.

— Oi. — Micael abriu. Tinha gotículas pelo corpo, havia acabado de tomar uma ducha.

— Oi. — Sophia entrou, observando o apartamento. — Nossa! Você alugou com o dinheiro que estava guardando?

— Digamos que uma cliente me ajudou. — Micael levantou os ombros. — Não fuja do assunto, vamos conversar.

— É sério que você vai me dar sermão? Olha só pra você, né? — Sophia deixou a mochila em cima do sofá. — Você saiu de casa com dezoito anos e quer me dar lição de moral?

— Quero te dar lição de moral porque você ainda é uma adolescente birrenta que tem tudo o que quer. — Viu Sophia cruzar os braços e bater os pés. — Vai me dizer que é mentira? — Foi sua vez de cruzar os braços.

— Micael, não tinha como eu ficar na minha casa. A gente não ia conseguir se ver! — Sophia gesticulou. — Era isso que você queria? Ficar sem notícias de mim?

— Eu queria você segura, Sophia! E não andando como uma ninguém pelas ruas de São Paulo. — Os dois se aproximaram. — Era isso que eu tinha medo!

— Eu. Não. Vou. Mais. Morar. Na. Minha. Casa. — Disse pausadamente, fazendo Micael se irritar. — Eu vou viver a minha vida! Começando por hoje.

— Tá certo. Vai viver a sua vida! — Micael deu de ombros, debochando. — Só não chora quando a brincadeira começar a ficar sem graça.

— Isso não é brincadeira, eu sei os riscos. — Fez uma careta. — Mas e então? Esse apartamento todo! — Abriu os braços, analisando os cômodos. — A sua cliente tem dinheiro. — Caminhou pela cozinha americana.

— Onde você vai morar?

— Que pergunta mais óbvia. — Sophia soltou um riso, abrindo a geladeira. — Não tem nada aqui! Você se mudou agora?

— Ha-ha, eu não vou deixar você morar aqui, nem fodendo! — Mostrou o indicador, negando.

Um balde de água fria à Sophia, que ficou imóvel.

— POR QUE? — Se apressou.

— Porque seria fácil demais eu deixar uma pirralha como você morar comigo. Não era você que queria ser adulta? — Micael mostrou os lábios, deixando Sophia com mais medo ainda. — Eu sai de casa sozinho! Sem grana, sem nada!

— Ok. Se é isso que você quer... — Sophia atravessou a cozinha, passando por Micael e buscando sua mochila no sofá. — Vou procurar algum puteiro que queira me pegar. — Foi até à porta.

Micael correu mais rápido que ela, empurrando a madeira contra.

— Você tá querendo me deixar puto, né? — Fuzilou Sophia com o olhar. — Eu não sou seu pai, porra.

— Mas tá agindo como um. — Sophia rolou os olhos azuis à Micael, que bufou. — Ou eu fico, ou eu dou a minha boceta por vinte reais.

— Você não aguentaria nem cinquenta segundos no vintão, Sophia. — Micael riu em deboche, negando a cabeça.

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