Capítulo 72

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Flávia

-Fico sentada naquela mesa do restaurante chocada por ter sido literalmente abandonada pela pessoa que até a pouco tava dizendo que me ama e queria me incluir em tudo da sua vida. É pegadinha? Cadê a câmera escondida?
-Passa um filme na minha cabeça, tudo que eu já passei, tudo que tenho passado, o dia lá na boca que conheci o Casagrande já dando treta entre a gente, nossa pegação que sempre acabava em briga, nosso acordo, ele me defendendo da minha mãe, o dia que se declarou pra mim, tanta coisa até aqui, a lágrima teima em descer, como dizia minha vó quando acha um ovo tá podre, kkkkk.
-Estou emocionalmente esgotada sabe? Tá difícil de lidar com tudo, vontade de fugir pra bem longe. Preciso respirar, sensação de sufocamento, minha ansiedade atacando, os braços formigam, a agonia chega, olho pra todos os lados pensando em como sair daqui sem os soldadinhos de chumbo me seguirem.
Peço a conta, aproveito que o cretino careca deixou bastante dinheiro e suborno o garçom pra me ajudar a sair pela porta dos fundos.
-Passo pela cozinha, saindo na parte de trás do restaurante, penso bastante e resolvo ir pra praia, o mar me acalma. Foi muito fácil deixar a contenção pra trás, já estava no Leblon mesmo, sigo andando até chegar na praia.
-Vejo um quiosque compro uma garrafa de vodka a preço de ouro e caminho até perto da beira do mar e me sento na areia. Tomo um gole da bebida que desce rasgando a garganta
Entre cada gole uma lágrima rola.
-Quando foi que fiquei tão otária? Pior que eu amo aquele mamute sem cérebro e no fundo vejo que ele tá perdido sem saber lidar com todas essas situações novas mas ao mesmo tempo a revolta bate pelas mancadas.
-O tempo vai passando e não sei o que fazer, pra onde ir, já fui imprudente vindo pra cá sozinha, mas a dor tava tão forte que nem pensei nas consequências, podia estar sendo infantil e birrenta? Talvez, mas hoje me senti humilhada quando fui deixada no restaurante.
-Diego fala tanto em se importar, em sentimento mas quando essa Laura liga e toca no nome da filha deles parece que desliga a chave do bom senso e ele mete os pés pelas mãos. Jamais iria querer separar pai e filha, mas é necessário limites, principalmente pra mãe da criança que enfiou a noção no cú.
-A primeira decisão que tenho certeza é a de que vou sair da casa dele. Precisamos de um tempo pra rever as coisas, colocar os pensamentos e sentimentos no lugar. Se for da vontade de Deus a gente ainda vai ficar junto, mas cansei de sofrer. Preciso me amar e me preservar ou vou enlouquecer. Vai doer? Pra caralho! Mas o que não mata fortalece.
-Pego o celular e abro no meu grupo com as meninas pra contar o que aconteceu e a minha decisão de dar um tempo. Enquanto começo a escrever e penso se volto pra Rocinha ou pego outro rumo vejo vários homens surgirem ao meu redor formando uma roda onde eu fico no meio sentada na areia, naquele momento meu sangue gelou e senti que tinha me ferrado mais uma vez.
-Nem sei o tempo que passou mas digito muito rápido a palavra SEQUESTRO em letras maiusculas e mando no grupo, até que um deles se aproxima e arranca o mesmo da minha mão, agradeço por estar bloqueado.
-Falando nem parece mas foi numa fração de segundos o cara que dava as ordens, devia ser o chefe deles manda eu levantar e segui-los. Penso em correr mas a chance de levar um tiro na perna é gigante, então levanto devagar, olhando pra todos os lados procurando uma alma que me ajude, mas no fundo eu sei que não tem mais o que ser feito.
-Um deles joga meu celular com tudo no chão, pisa em cima e deixa ali. Sinto uma mão pressionando um pano no meu nariz ,tudo vai ficando escuro meu corpo amolece e não vejo mais nada.

(...)

-Vou abrindo os olhos lentamente, uma dor de cabeça, pisco algumas vezes olhando ao redor, estou numa peça parece um quarto sujo cheiro ruim parede descascada. No chão tem um colchão velho onde me deixaram, mãos e pés amarrados com corda, mais no meio da peça tem uma cadeira velha. A luz é fraca, procuro uma janela, qualquer saída mas não tem.
-Ouço barulho na porta me encolho na parede, um medo do que vão fazer comigo, a vontade de chorar bate forte mas não quero demonstrar fraqueza. Um ruivo forte com os braços tapados de tatuagem entra com uma sacola e uma garrafa de água na mão.

Ruivo: -Aí mina!Aqui pra tu comer e beber. Mais tarde patrão vem falar contigo sacou?

Flávia: -Onde eu tô moço? Por favor!

Ruivo: -Tu vai descobrir logo, logo. Come aí.

-Ele virou as costas e me deixou lá, trancando a porta novamente. Não tenho fome, nem coragem de comer o que eles me dão vai saber o que tem na comida? Fico só com a garrafa de água que tava lacrada.
-Passo o tempo batendo cabeça pensando quem tá fazendo isso e por quê? Será que vão me matar? Diego vai levar um ano pra sentir minha falta, aquele véio gagá. A porta abre novamente e vem na minha direção um moreno, cabelo baixinho, olho claro, barba, olhar diabólico, abre um sorriso pra mim de dar medo. Do seu lado mais dois homens mal encarados.

Xxx: -Olha só pessoal, a hóspede é a Patroa da Rocinha!-todos riem.

Flávia: -Quem é você? Onde eu tô? Querem o que comigo?-pergunto logo.

Xxx: -Calma mina! Que falta de educação, nem me apresentei... sou o Diablo, seja bem vinda ao meu morro CDD.-sorri irônico.

Flávia: -Como assim? CDD é do CV ,mesmo comando da Rocinha, são aliados. Isso é um engano!-argumento.

Diablo: -Engano é aquele teu macho tá no poder! Tu é valiosa mina, teu novo dono tá chegando pra te buscar.-dão risada.

Flávia: -Como assim, meu novo dono? Não tô entendendo nada! Por favor me deixa ir eu não falo nada ao Casagrande!-imploro.

Diablo: -Boa tentativa!Acho bom tu ficar quieta pra gente não precisar partir pro esculacho!- diz sério e sai.

-O que me resta é orar e ter fé, nesse momento não vejo mais ninguém que possa me ajudar.

À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora