Capítulo 112

1K 116 20
                                    

Casagrande

-Mulher parece que têm mesmo o tal do sexto sentido né mano, pô a Rafa bateu o pé que o moleque tal Hiago não tava bem e quando foi correr atrás era real.

-A gente entrou na sala daquele barraco me subiu uma raiva fora do comum, sou pai e nunca que ia machucar um filho meu daquele jeito, mas também já senti na pele a maldade em forma de pai, o meu.

-Não tinha plano de ficar agarrado com uma dona muito menos ter filhos. Mas te falar que vontade até tinha e medo também pela vida que levo.

-Só que quando o cara lá de cima decide ele manda mesmo e ainda esfrega na tua cara que a gente não manda porra nenhuma, assim veio a Bela pra minha vida.

-Me amarrei na ideia de ser pai, ali prometi que seria pra ela tudo que não tive do meu coroa e vou dar o meu melhor,daqui a pouco Bernardo e Safira tão na pista também, ainda bem que já tô careca se não ia arrancar os cabelos com esses três.

-Tô felizão pelo meu mano Bravo,surpreendeu legal resolvendo cuidar do moleque, sei que ele mais do que ninguém vai se esforçar pra nunca mais deixar ele passar por todo esse sofrimento.

-Bravo mais do que ninguém conhece a dor mas isso não tornou ele uma pessoa ruim, o coração do meu irmão é bom pra caralhooo.

-A vida tem uns bagulho sem explicação, Rafa tem uma ligação foda com o garoto e Bravo a chamou pra ajudar na criação, ainda tão vendo como vão fazer mas acredito que isso só vai reaproximar os dois e ainda vão ficar juntos.

-Hiago tinha medo de presença masculina por perto mas a primeira vez que viu o Bravo nem se assustou, se abriu, sentiu seguro, se isso não for a tal da conexão sei lá o que é então.

-Tava na função afundado em papel fazendo altas contas quando os moleque da barreira me passam o rádio.

📻 on:

Xxx: -Aí Patrão na escuta? Tijolo na voz.-diz.

Casagrande: -Qual foi cria?-digo.

Tijolo: -Seguinte Patrão tem um coroa aqui na barreira querendo subir dizendo que precisa bater um papo contigo porque é teu pai.-fala e eu paraliso.

Tijolo: -Chefe na voz?-pergunta.

Casagrande: -Não tenho pai não moleque manda vazar do meu morro!-falo firme.

Xxx: -Filho por favor me ouve depois pode até me matar se quiser!-fala o infeliz pegando o rádio.

Casagrande: -Manda trazer na boca principal Tijolo,escoltado!-quer morrer então vou ajudar.

Tijolo: -Suave chefe, tá indo já!-diz desligando.

📻 off.

-Ouço bater na porta, respiro fundo pensando que nunca ia tá pronto pra esse reencontro do inferno.

-Mando entrar, Ogro passa com ele pela porta, fico analisando a figura na minha frente.Magro
cheio de olheiras, pálido, cabelo branco, deve tá pelos 65 anos se não me engano,acabado.

Casagrande: -Quer o que aqui Vilmar?Morrer? -pergunto com ódio.

Vilmar: -Tanto faz meu filho, vou morrer do mesmo jeito, mas preciso do teu perdão!-fala.

Casagrande: -Filho é o caralho! Perdão porra nenhuma, tá maluco?-falo alto com raiva.

Vilmar: -Você tem todos os motivos do mundo de ter raiva de mim...-começa e corto sua fala.

Casagrande: -Claro que tenho seu infeliz, tu me tirou a única coisa boa que eu tinha na vida a minha mãe!-digo com nó na garganta.

Vilmar: -Se você soubesse como me odeio e arrependo por tudo.-fala chorando.

Casagrande: -Vem de falsidade não que nem me comove, lido com gente falsa o tempo todo sacou?-falo sério cruzando os braços.

Vilmar: -Não vim até aqui pra te mentir, sou tua única família.-fala triste.

Casagrande: -Minha família foi a rua, não foi lá onde tu me jogou?-falo me segurando pra não matar ele logo.

Vilmar: -Eu era um homem doente,perturbado. -diz mais calmo.

Casagrande: -O papo tá uma merda mas eu quero saber o que tu tá fazendo aqui!-digo.

Vilmar: -Vim te pedir perdão!-fala.

Casagrande: -Tu tá mais de 20 anos atrasado se ligou?-digo grosso.

Vilmar: -Tô te implorando pra me ouvir, depois eu sumo juro.-diz emocionado.

Casagrande: -Não tem nada que tu possa me falar que eu vá querer ouvir.-digo firme.

Vilmar: -Eu tô morrendo Diego! Não terei outra chance provavelmente,por favor!-suplica.

Casagrande: -Pra tu é Casagrande,10 minutos, tempo é dinheiro!- digo.

Vilmar: -Obrigado! Sua mãe era uma mulher boa, não merecia nada do que fiz e você era só uma criança, não é desculpa mas eu era um homem doente, uma alma perturbada.-fala.

Casagrande: -Tu nunca mereceu ela mesmo, vai colocar a culpa em quem? Vai dizer que tava possuído?-debocho.

Vilmar: -Entendo sua raiva, você tem todo o direito do mundo de me odiar, mas se serve de consolo eu paguei por isso.-fala triste.

Casagrande: -Só ter puxado cadeia é pouco pra tu!-falo com raiva.

Vilmar: -Foi muito mais que isso, fui preso em flagrante naquele dia,tive um defensor público, peguei 20 anos de prisão, sai depois de pagar 15 anos, foi muito difícil te encontrar você é discreto, eu não tenho grana pra detetives.-diz

Casagrande: -Comovente!-falo irônico.

Vilmar: -Foram anos horríveis, você deve imaginar o que fazem na cadeia com um homem como eu que matei uma mulher de pancada, uma inocente. Comi o pão que o capeta pisou, fui surrado, abusado, feito de empregado, passei fome, frio, não tinha família pra me conseguir advogado bom ou levar o jumbo. Resumindo contraí HIV na cadeia, fui tratado mas não como devia, as coisas pioraram, a doença agravou o médico diz que tenho pouco tempo, então vim pedir teu perdão pra poder morrer em paz.-fala.e chora.

Casagrande: -Se eu te falar que sinto muito vou tá mentindo, minha mãe penou na tua mão e nunca vi remorso no teu olho, perdoar hoje não dá também.-digo a verdade.

Vilmar: -Eu te entendo mas precisava tentar.- fala baixo.

Casagrande: -O máximo que posso fazer é te deixar ir sem fazer nada, pra que a culpa fique te corroendo até o dia da sua morte.-falo sério.

Vilmar: -Vou deixar aqui nesse papel endereço de onde tô morando, fico numas peças nos fundos da igreja que frequento, cuido e limpo o lugar, se um dia quiser conversar será bem vindo.-diz deixando o papel em cima da mesa.

Casagrande: -Já é, mas tu sabe que não vou!- falei sério.

Vilmar: -Tá certo, obrigado por me ouvir! Eu te amo meu filho, perdão mais uma vez.-fala.

Casagrande: -Quem perdoa é Deus! Vai lá, deu tua hora já.-digo firme e ele vai embora.

-Quando ele sai tranco a porta e faço algo que pouco fiz na vida, choro deixando sair toda essa porra de dor que revivi hoje, tentando entender que merda tinha acontecido aqui.






À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora