Capítulo 118

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Flávia

-Medo foi só o que senti naquele beco, acho que nunca vou entender até onde vai maldade do ser humano.

-Só pedia a Deus que nada acontecesse aos meus bebês, já nem estava ligando para o que ia acontecer comigo desde que eles ficassem bem.

-Como pode né, aquelas mulheres que nem me conhecem compactuaram com aquela agressão, me jogaram de volta nas mãos daquela maluca perturbada, o pior eram as risadas.

-Na verdade ela não estava fazendo mal pra uma e sim pra três pessoas, ela nem deu bola que estou grávida, só falava loucuras do tipo que eu tirei o homem dela, como que tira algo que você nunca teve?

-Parecia que tudo passava em câmera lenta cada tapa, soco, me encolhi e tentei a todo custo proteger a barriga, mas quando começou os chutes nas costa e costelas me desesperei.

-Não faço ideia por quanto tempo apanhei,um pouco ela me batia, um pouco xingava,puxava meus cabelos me arrastando, mulher estava possuída, e as amigas gritavam: acaba com ela, destrói essa piranha metida, talarica tem que pagar.

-Fui me sentindo tão fraca, tudo começou a girar ao meu redor, uma dor na nuca, cabeça doía, meu corpo dolorido já, naquele momento achei que ia morrer de tanta pancada.

-Sabe quando em segundos passam coisas na nossa mente, eu lembrei que minha irmã viu o que tava acontecendo e nem se importou em me ajudar.

-Aquela menina que tanto ajudei a cuidar, em quem eu fazia penteados, que pulava na minha cama cresceu e virou um monstro, nem que fosse pelas crianças podia ter ajudado.

-Quando sinto minhas forças se esvaindo, vejo que não tenho mais o que fazer, ninguém vai me ajudar, vem um cansaço, um sono, meus olhos pesam muito, quando estou quase me entregando ouço um grito no início do beco e vejo Rafa, Diego e os outros pisco e apago.

(...)

-Acordo num lugar estranho, vou olhando ao redor percebendo que é um quarto de hospital, mas parece que estou sozinha, mas escuto a porta do que acho ser o banheiro abrir e dela sai o Diego.

Flávia: -Diego.-falo fraca.

Diego: -Porra Furacão, que susto!-digo.

Flávia: -Cadê meus bebês Diego?-pergunto já chorando, olhando pra minha barriga murcha.

Diego: -Calma cara, respira!-diz calmo.

Flávia: -Como que fico calma se eu tinha dois bebês na minha barriga,acordo sem nenhum?- pergunto desesperada.

Diego: -Vou te explicar Flávia mas tu precisa se acalmar e me ouvir!-diz sério.

Flávia: -Meus filhos morreram?-pergunto já aos prantos de choro.

Diego: -Não!!! Eles tão bem, vão ficar melhor ainda!-diz firme.

Flávia: -Então porquê eles não estão aqui comigo?-pergunto preocupada.

Diego: -Eles estão na incubadora, nasceram antes da hora, estão bem mas vão ficar em observação uns dias, se tudo correr bem depois de um tempo terão alta.-explica.

Flávia: -Você não tá mentindo pra mim né?-Ele nega. -Quero ver meus filhos Diego!-peço.

Diego: -Vou chamar a médica mas eles não podem sair de lá por enquanto e tu fez uma césaria de emergência tá toda costurada aí mano. Tem que descansar.-fala.

-A médica veio, conversou muito comigo,disse que os bebês estão bem a medida do possível mas não deixam de ser prematuros, então tem que ficar lá pra maturar os pulmões, ficarem mais fortes e resistentes.

-Claro que fiquei triste pois não foi assim que eu imaginei recebê-los, mas agradeço muito por estarem a salvo.

-Ela explicou também que não é possível visitas onde eles estão pois a imunidade deles ainda é fraca, então só poderemos vê-los pelo vidro da Neonatal.

-Depois de muito insistir e dizer que eu estava bem trouxeram uma cadeira de rodas para me levar até onde Safira e Bernardo estão.

-Levanto com um pouco de dificuldade vou até o vidro e uma enfermeira mostra onde estão meus amores, ali eu choro demais, eles são tão lindos, pequeninos e desprotegidos.

-Diego fica o tempo todo calado, mal nos falamos, vejo nos seus que está emocionado mas não me aproximo nem puxo assunto.

-Depois de ficar um tempo ali me levam de volta para o quarto, quando deito naquela cama de hospital e consigo raciocinar tudo que aconteceu a revolta toma conta de mim.

-Eu ia fazer um parto humanizado, tive que fazer uma césaria as pressas, corri muitos riscos, passei mal, não vi meus filhos nascer pois estava sedada.

-Pensar que uma cretina me tirou o direito de ter essa experiência com eles, eu não posso pegá-los no colo, sentir seu cheirinho, tocar, amamentar e sabe-se lá quando eles poderão ir pra casa.

-O silêncio reina no quarto, fico olhando pra parede branca tentando lidar com a minha tristeza e frustração.

Flávia: -Você já pode ir embora Casagrande, tá tudo bem.-digo fria.

Casagrande: -Tá falando assim comigo por quê mesmo?-fala grosseiro.

Flávia: -Tô falando de jeito nenhum, só estou te liberando você tem uma favela pra cuidar!- falo com amargura.

Casagrande: -Engraçadona tu, tá toda errada e vem cheia das grosserias.-Fala irritado.

Flávia: -Como que é? Eu sou a errada? Tem certeza da merda que tu tá falando?-digo puta.

Casagrande: -Namoral? Tu age que nem criança tem horas, saiu sem segurança, colocou nossos filhos em risco porra!-fala.

Flávia: -Só posso tá ouvindo errado, não é possível. Eu fiquei naquela festa engolindo sapo, vendo o meu marido pagar de casal com a mãe da filha dele, pra completar teve a parte do Parabéns com direito a pose família feliz, fui respirar, tava sufocada, fui sem ninguém pois a ideia nunca foi estragar a festa da Bela seu idiota!-fala furiosa.

Casagrande: -Não interessa, teus filhos tinham que vir antes do teu ego, do teu orgulho, tu foi egoísta pra caralho.-fala sério.

Flávia: -Eu fui sequestrada por uma maluca que quase me matou por causa tua, agora fui pega na covardia por outra maluca que nem ligou pro fato de eu estar grávida e quase me matou de porrada, sabe por quê? O motivo é tu não conseguir segurar o pau nas calças, tu ter brincado com as pessoas e eu e meus filhos que pagamos o preço.-falo irada.

Casagrande: -Acho bom parar por aqui, tu tá toda costurada ai, não pode se estressar, eu tô puto, achei que ia perder vocês, a gente só vai falar merda.-diz seco.

Flávia: -Ótimo, vai embora por favor, pede pra uma das meninas ficar aqui comigo!-digo.

Casagrande: -Jaé, vai ser o melhor esfriar a cabeça antes de conversar.-diz saindo e vontade que eu tenho é de jogar nele tudo que vejo pela frente.

À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora