Capítulo 83

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Flávia

-Recomeçar significa começar de novo, refazer depois de interrupção, retomar. Isso é exatamente o que preciso fazer na minha vida, pois desde o sequestro a impressão era de ter parado no tempo.

-Há quem diga que pra começar novamente tem que ter muita coragem. As sessões com a psicóloga me ajudam bastante, mas preciso fazer minha parte no processo e infelizmente ninguém pode fazer isso por mim.

-O dia que fui enfrentar o tal do Diablo todos ficaram preocupados no quanto aquilo me afetaria e poderia prejudicar na recuperação. Mas foi o contrário, aquela situação foi o início da minha jornada para me reerguer.

-Minha terapeuta diz que devemos enfrentar nossos fantasmas. Bater de frente, confrontar, pois isso te dá forças, sensação de controle da própria vida.

-Eu precisava mais do que nunca disso, tomar as rédeas do meu presente e do futuro.
Pensei em bater de frente com a Grazi, falar tudo que tava engasgado mas não tive tempo.

-Diego mandou levar os cachorros para outro lugar e colocou Grazi pra morar ali no Canil do Jason e Chuck. Assim a maluca viveu um pouco da vida que ela me proporcionou, claro que com requintes de crueldade adicionais do Casagrande.

-O que aconteceu foi que o vapor que levou os cães pra passear esqueceu e guardou os mesmos no Canil sem as focinheiras, onde Grazi dormia. Então a mulher virou ração de Rottweiler, diz que foi feio, rasgaram ela ao meio e roeram o que deu dos ossos.

-Com isso acredito que encerrei um ciclo, sei que ainda há inimigos por aí, mas me senti vingada. Não vou mentir porque fiquei feliz sim de saber que o mundo tinha menos dois malucos psicopatas.

-Ainda tenho meus dias difíceis, alguns gatilhos, a gente é como um vaso que quebra, você pode colar mas nunca vai ficar igual.

-Daqui pra frente precisava pensar no que fazer para tocar minha vida já que não tinha emprego e deixei meu casamento pausado.

-Casagrande veio me fazer uma proposta, ele estava com um projeto de abrir uma ONG no Morro, uma das coisas que pensamos em implantar é a alfabetização de adultos. A triste realidade de muitos é ter que começar a trabalhar muito cedo pra ter comida na mesa e os estudos ficam em último plano. Na pobreza as pessoas têm que amadurecer na marra e deixar seus sonhos de lado.

-Gosto demais da minha profissão, vocês acreditam que têm muita gente que não assina nem o nome direito. Quantas identidades com a escrita Não Alfabetizado existe. Nasceram várias ideias pra oferecer algo que ajude a comunidade, como atividades para as crianças, assim as famílias têm onde deixar e elas o que fazer pra não ficarem pelas ruas.

-Confesso que essa ideia da ONG junto com o pedido de eu ficar a frente e tocar o projeto acendeu em mim uma motivação, uma vontade de acordar, de sair e ir atrás do que é importante. Tem me revivido.

-Com tudo isso chegamos numa questão muito delicada pra mim. Meu relacionamento com Diego. Ele me machucou sim, também errei, me coloquei em perigo. Apesar da idade dele foi imaturo e não soube administrar as situações que apareceram.

-Fofoca nesse morro é algo que não corre, voa. E o papo que rola é que o Patrão é fiel e não têm pego ninguém, nem ido a baile. Na verdade isso ficou em aberto, eu pedi um tempo pra mim, não voltei pra casa dele mas nunca sentamos e conversamos sobre a questão, nem sei dizer se estamos solteiros ou enrolados.

-Admito que tenho notado mudanças no Diego, ele podia ter caído na farra mas têm focado muito em mim e na minha recuperação. Ele sempre vêm me ver, manda mensagem, faz questão de ser presente.Ficamos amigos acima de tudo, ele em faz rir, me conforta quando choro, às vezes traz guloseimas pra gente ver filme e têm respeitado meu tempo.

-Algumas vezes até me questionei se ele não me ama mais pois não tenta nada, ou se me ama tanto que basta estar perto até sentir que estou bem pra decidir se isso vai pra frente ou não.

-Casagrande amadureceu tanto que já pensei se não era um personagem pra me ter de volta, mas ninguém consegue fingir por tanto tempo eu acho. Até na relação dele com a Laura as coisas mudaram, ele busca e larga Bela na porta e só conversam assuntos sobre a filha. Algumas vezes ele até traz Bela pra cá, ela é um amorzinho, carinhosa, dengosa, me faz muito bem.

-Falando na benção mandou mensagem dizendo que está vindo aqui e quer falar comigo, ouço o barulho no portão e a batida na porta, já levanto indo abri e sabendo quem bate.

Flávia: -Oi Careca! Entra.-digo sorrindo.

Casagrande: -Tá ficando mandada de novo né?-diz rindo.

Flávia: -Mas me diga, a que devo a ilustre visita do Senhor Dono do Morro?-brinco.

Casagrande: -Vim te fazer um convite.-diz

Flávia: -Ué, convite? Não é pra enterro né?-digo rindo.

Casagrande: -Cerol é você?-gargalho.

Flávia: -Estou voltando ao meu jeito Flávia de ser garoto!-falo sorrindo.

Casagrande: -Namoral mesmo? Tô felizão por tu, te ver brincando, afrontando, sorrindo de novo, porra é um presente pra mim cara!-sorri.

Flávia: -Você é parte nisso Diego, se tem algo que nunca fui é ingrata e reconheço o quanto tu me ajudou até aqui, não saiu do meu lado, foi um porto seguro! Obrigada de verdade.- digo.

Casagrande: -Não tem que agradecer nada, até porque também não deixo de ser o causador do teu sofrimento né.-fala triste.

Flávia: -Tu errou em algumas coisas sim, não vou passar pano nessa tua careca,kkkk. Mas a maldade e a loucura dos seres envolvidos nisso não têm nada a ver contigo.-falo sincera.

Casagrande: -Tu é maravilhosa garota! Cê é doido!-diz me olhando intensamente.

Flávia: -Obrigada meu anjo, eu já sabia!-rimos.

Casagrande: -Então, sai pra jantar comigo? Tipo num encontro?-fala sem jeito.

Flávia: -Ualll, direto assim?-brinco.

Casagrande: -Te falei que não ia desistir de nós dois, mas tô ligado que tudo têm seu tempo. Tô tentando te mostrar que mudei pra caralho por medo de te perder. Mas não quero forçar barra, então quem sabe vamo suave, aos poucos. Sai comigo?-diz animado.

Flávia: -Um jantar hein! Vamos vendo no que dá.-digo e pisco pra ele.

Casagrande: -Tá ótimo! Já é um começo. Vou chegar lá Meu Furacão. Tchau.-levanta e sai.

-O pai orienta essa tua filha perdida que não quer mais sofrer. O que fazer senhor???

À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora