Capítulo 102

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Flávia

-Ouvi uma vez que amigos são a família que o coração da gente escolhe, realmente isso se concretizou desde que vim para o Morro e conheci essas pessoas tão especiais que me acolheram, me fizeram sentir "em casa".

-Vou te falar quando paro pra pensar a sensação é de que nasci na família errada, pois nunca me senti parte da minha.

-Minha irmã Débora sempre foi muito parecida com a nossa mãe, elas formavam uma dupla e tanto. Não me lembro de nenhum vez que a caçula tenha pedido algo e não ganhou.

-Pedido não, feito um fiasco, dado um show, era assim que ela agia. Desde pequena não podia ser contrariada, nem ouvir um Não!

-Ela cresceu mas não ficou diferente, até entendo já que a mãe mimava sempre. Sabe a pessoa que coloca algo na cabeça e têm que se concretizar? Era a Débora!

-Quando eu ganhava algo novo o que era bem difícil, pois nossa mãe dizia que não tinha condições aí eu perguntava porque a Débora ganhava o que quisesse ela dizia sua irmã é pequena Flávia,não entende as dificuldades, nem merece passar por elas. Então eu merecia???

-Agora ela agiu da mesma forma que foi a vida toda, se eu tivesse algo ela queria, com isso teve a cara de pau de vir dentro da minha casa tentar pegar meu marido.

-Tudo bem que meu relacionamento é com ele e o mesmo me deve respeito,não discordo. Mas e aquela que saiu da mesma buceta que eu?

-Não vou me fazer de vítima, de coitadinha, sou muito mulher pra enfrentar qualquer situação.

-Fico com pena do nosso pai que tem um bom coração e perde a coragem de largar aquela causa perdida de lado. Mas eu entendo, filho é filho, quem ama e se importa não abandona.

-Eu CANSEI de ser boazinha e as pessoas me fazerem de tapete limpando os pés na minha cara. Já tinha falado quando voltei do cativeiro que teriam mudanças, faxina a gente começa de dentro pra fora.

-Primeiro coisa que fiz foi tirar da minha casa aquele lixo que já considerei minha irmã um dia mas pra mim morreu hoje. Pensa, no meio do chá de bebê dos próprios sobrinhos a fdp tentando pegar o pai das crianças, marido da irmã?

-A gente da o nosso melhor, estende a mão, dá casa, comida, acolhe e ganha o que em troca? Se dependesse só dela meu prêmio seria um belo par de chifres.

-Diego coitado quando me viu ficou pálido, se eu não tivesse ouvido todo diálogo dos dois realmente ele ia se ferrar bonito na minha mão. Na minha terra têm um ditado: "Até tu provar que não é um cavalo, já comeu um saco de milho e pastou".

-Finalmente consegui agir como uma irmã mais velha, que deve ensinar o que sabe. O que vou ensinar pra traíra? Vai aprender a virar mulher na marra!

-Aí tu pergunta ai Flávia não tens pena de mandar bater e deixar careca a própria irmã? A resposta é... CLARO QUE NÃO! Cobra mata abraçando, melhor manter distância.

-Se eu disser que não doeu ouvir a vadia me colocando pra baixo,que eu estava feia, gorda vou mentir. Na hora foi difícil, mas logo a raiva tomou conta, odeio ingratidão.

-Posso ser o que for mas sou grata a tudo que fazem por mim, mas infelizmente nem poder tenho pra acabar com a maldade do mundo.

-O pau comeu e a tesoura cantou, foi é pouco! A casa que tá reformando é presente para o meu pai, ajudar o véio a recomeçar. Então ele decide se vai acolher ela lá. Nem posso colocar o véio numa situação de escolher entre as duas filhas,não quero uma recaída e um pai bêbado.

-A partir de hoje a única opção pra Débora é se virar, vai ter que trabalhar sim, como todas as pessoas fazem pra viver. Nessa teta ela não mama mais!

-Tentei ficar o mais equilibrada possível pelos meus filhos, me fiz de sonsa e fui comer como se nada tivesse acontecido mas a verdade é que afetou né, me senti bem ruim, zumbido no ouvido, tontura, fiquei com medo real.

-Uma coisa que têm passado muito pela minha cabeça é dar um tempo do Morro pois é impossível ter paz aqui, toda hora é uma piada, uma maldade, ando me sentindo tão cansada.

-Nem sei como falar com o Casagrande sobre isso pois sei que é complicado pra ele se afastar do Morro. Durante muito tempo essa Comunidade era tudo que ele tinha.

-Fora que têm o Comando da facção também e nessa meu sonho de paz fica mais distante, a não ser que eu vá sozinha!

-Mas vamos falar um pouquinho de coisas boas, nossa ONG ta prontaaaaa! Daqui uns dias vamos inaugurar.

-Outra preocupação que estou no momento é com a Mari e o Cerol. Eles não estão nem se falando, um clima ruim, um tá na revolta com o outro.

-Isso tem afastado Cerol de nós meio que naturalmente, já que ele evita lugares onde a Mari esta e vice versa.

-Aconteceu tanta coisa que não deu pra parar e conversar com eles, eu sei virei péssima amiga.

-Não sei como vou fazer pra batizar as crianças pois se colocar os dois juntos alguém vai ser afogado na água Benta.

-Meu pai me preocupa também, apesar dele estar tentando melhorar alcoolismo é uma doença, tenho medo de recaídas se as coisas não saírem como ele imaginou.

-Minha psicóloga diz que preciso me priorizar e isso não é ser egoísta. Me preocupo tanto com os outros que isso afeta minha gestação.

-Mas não consigo, meu coração fica apertado de ver as pessoas que me importo mal. Será que estou tão errada assim?

-Acho que são os hormônios falando mais alto, abalando, me deixando tão vulnerável. O que ajuda é Diego, ele se tornou meu porto seguro, com ele me sinto protegida e amada.

-Agora o foco tem que ser meus filhos, jogar pras costas o que não me faz bem e o resto a gente entrega nas mãos do velinho lá de cima!


À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora