Capítulo 92

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Bárbara
Bônus

-Que difícil falar da gente né? Cria da favela , nascida e criada na Rocinha. Família humilde mas trabalhadora minha mãe Dona Nice é costureira e meu pai seu Rogério têm uma oficina pequena.

-Nunca passamos necessidade mas a grana sempre foi curta. Corria atrás do meu desde novinha, fazia vários bicos, babá, garçonete, o que viesse se fosse honesto eu fazia.

-Mas também sempre fui muito focada e estudiosa e isso me garantiu uma vaga na universidade federal para cursar Enfermagem.

-Na faculdade conheci o Marcos, ele cursava administração pra no futuro assumir a imobiliária da família. Apesar de ter alguma grana era um cara legal, me fazia rir, quando estava comigo era amoroso e protetor. Acabei apaixonando , começamos namorar eu tinha 18 anos, me perdi com ele.

-Acontece que o que eu achava ser proteção se transformou em um relacionamento abusivo, um inferno se formou, não queria mais que tivesse qualquer contato com meus colegas, todo cara me queria, toda garota era puta e ia me levar ao mal caminho. Roupas, outro problema, saia ele rasgou todas um dia enquanto eu tomava banho e ficou no meu quarto sozinho.

-Depois das cenas, brigas, puxões no braço, gritos, ele entrava na minha mente, me fazia acreditar que só queria proteger nosso amor.
Que estava cuidando de mim pra ninguém me fazer nenhum mal nem me tirar dele.

-Depois de muita merda acontecer resolvi criar coragem e terminar com ele, só que comecei a passar mal e minha mãe cogitou gravidez. Fui no postinho fazer o exame e deu positivo, meu mundo desabou um laço eterno com o homem de quem eu queria me libertar.

-Quando contei ele ficou eufórico, claro né me prendeu, era tudo que ele queria. Resumo da história, cismou que a gente tinha que morar, não sossegou enquanto não sai de casa e fui morar com ele que morava com a mãe que me detestava por não estar a altura do seu filho.

-As humilhações eram constantes, sua mãe fazia a cabeça dele contra mim, falava que favelada adorava chamar atenção e ele seria traído logo. O homem surtava de ciúmes de coisas que nem aconteciam, dizia ser minha obrigação fazer tudo pra agradar ele pois quem ia querer assumir uma pobre favelada e com filho.

-Nisso Pietra nasceu, ele saía pras baladas, voltava bêbado e com perfume feminino a gente discutia, fdp não ajudava em nada. Mas a gota d'água foi quando nossa filha fez 1 ano e não pude convidar minha família pra festa, discutimos e ele me deu dois tapas na cara.

-Acho que era o que faltava pra eu acordar, a vítima sempre se culpa, pensa eu deveria ter feito isso ou aquilo, ele não fez por mal,etc. Tudo errado, quando o respeito falta acabou a relação, hora de cair fora. Um relacionamento saudável não te diminui, te acrescenta, te apoia, te levanta.

-Foi uma luta pra me livrar desse homem que até hoje perturba como pode, metido a macho alfa. Depois descobriram que ele era viciado, sua mãe me culpou, disse que ele recorreu a isso porque eu tirei a família dele. Só rindo!

-Marcos ficou quase um ano internado, foi um processo até voltar a conviver com a Pietra, sua mãe sempre que pode inferniza mas a mulher que me tornei coloca ela no lugar rapidinho.

-Hoje sei do meu valor, não aceito menos do que mereço, minha família é minha prioridade, meu emprego minha paixão, o processo foi longo mas sobrevivi e me tornei mais forte.

-Acostumei a não dar espaço pra homens na minha vida, curtia na rua, voltava pra casinha. Mas aí conheci um loiro gatinho, posturado, carinha de bolado e as coisas mudaram.

-Ogro levou um tiro de raspão em uma missão e eu fiz seu curativo, conversei com ele pra distrair durante o procedimento e surpreendi o cara era gente boa, educado, divertido nada daquilo que se pensa quando olha pra ele.

-Trocamos número de telefone,fomos batendo papo pelo watts, ficamos "amigos", até o dia que ele me chamou pra sair. Nunca fui como dizem as meninas do hospital Palmiteira, mas esse loiro abalou as estruturas.

-Fomos jantar na favela mesmo, um lugar bem aconhegante, tranquilo,batemos um bom papo rimos bastante, tomamos muito chopp, foi leve. Saímos dali ele me levou pra casa na hora de descer me beijou, encaixou muito mas ele não forçou nada,deu boa noite, foi embora.

-Assim seguimos por um tempo, rolou aquele sexo babado e porra que homem é esse meu Brasil, mas eu sabia que tinha muita mulher no pé dele, além de bonito é homem de confiança do dono do morro. A insegurança bateu firme, comecei a evitar ele, trauma é uma maldição quando tu menos espera te abala

-O gato não desistiu, recebi flores, chocolates, se dedicou em agradar mas meu ex no início também fazia tudo por mim, até que cagou tudo.

-Um dia na saída do trabalho lá estava ele me esperando, insistiu pra gente conversar e fui. Sou uma pessoa calma e centrada, achei melhor abrir o jogo, Ogro disse querer comigo papo de futuro, que estava envolvido, mas o medo falou mais forte e pedi pra irmos devagar ficando pra ver no que dá mas só os dois sem terceiros, ele entendeu.

-Estava na casa dele um final de semana que a Pietra foi para o pai e de surpresa aparece a mãe dele, uma loira do olho claro, toda esnobe me perguntou se eu era a faxineira e mandou chamar ele, acredita? Nada contra o trabalho mas só porque sou negra?

-Quando Ogro veio pra sala e me apresentou como "mulher" dele a megera quase infartou, ficou roxa, surtou e disse que não tinha criado filho pra dar o desgosto de se relacionar com uma encardida. Manoooo meu lado favela aflorou queria enfiar a mão na cara dela.

-Ogro também ficou chocado, mandou ela embora, me pediu perdão que nunca imaginou ela fazer um papel desses. Aí minha ficha caiu tava muito bom pra ser verdade né? Sempre vem algo pra atrapalhar, que maré em dona Bárbara!

À Flor da PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora