Aruana viu as luzes de Homeland III surgirem depois de uma curva do rio. Estavam viajando na semi escuridão há algum tempo e não usavam faróis. Estela explicara que as Novas Espécies enxergavam muito bem no escuro.
A lancha desacelerou e rumou para a margem direita do rio. Luzes se acenderam de repente e um cais surgiu. Havia algumas pessoas esperando.
O barco deslizou até o cais e Sky jogou uma corda que outro homem pegou. Aruana notou que os dois homens no cais eram Novas Espécies.
— Ei, Sky, pensei que iria perder o jantar. — gritou um deles.
— De jeito nenhum.
O homem amarrou a corda numa estaca e Estela se levantou.
— Está pronta para conhecer Homeland III, Aruana?
— Estou animada.
— Ainda há muito por fazer, mas temos todos os benefícios de uma cidade.
Vengeance pegou as bolsas de viagem de Aruana e as passou para um dos homens, depois se virou para Estela e a pegou nos braços. Aruana pensou em como a mulher ficava à vontade com aquele tipo de atenção.
— Quer ajuda? - o louro perguntou do cais.
Aruana olhou para o vão entre a lancha e o cais.
— Acho que preciso de uma mão.
Antes que o homem lhe estendesse a mão, ela foi erguida do chão, braços fortes a seguraram firme.
— Ei!
Ela levantou o rosto e viu que era Fiber quem a segurava. O homem era muito grande e quente!
Ele deu um salto para o cais e ela deu um gritinho. Ele a colocou em pé.
— Você me assustou!
— De nada.- ele resmungou.
Aruana se ajeitou, vendo-o voltar para a lancha.
— Vamos andando? - disse Estela e a puxou. Aruana viu um jipe estacionado num caminho asfaltado que ia na direção de onde vinham as luzes. — Se incomoda de ir caminhando? Eles têm muitas compras para levarem no jipe.
— Não. Vai ser bom caminhar um pouco.
Os homens começaram a descarregar caixas e grandes sacos.
Aruana caminhou ao lado de Estela e Vengeance, olhando para a vegetação que margeava o caminho; na escuridão parecia uma massa viva, cheia de odores e sons desconhecidos.
O jipe passou por eles iluminando mais o caminho e Aruana viu à frente uma alta cerca metálica e uma torre de guarita. Ela ouviu o som de rolamento e um enorme portão deslizou para dar-lhes entrada. Só quando ela passou pelo portão percebeu que a cerca não era iluminada.
O caminho continuou e ela conseguiu distinguir as luzes que vira do rio. Várias cabanas de um andar se espalhavam no meio da mata.
— São os dormitórios. - disse Estela. — Os espécies não acasalados possuem quartos nas cabanas coletivas.
— E os... acasalados?
— Temos cabanas individuais mais à frente.
Aruana notou que a iluminação ali era mínima.
— É sempre tão escuro aqui?
— É para incomodar ao mínimo a fauna local. - Estela sorriu. — E é uma consideração aos humanos da colônia; nós é quem precisamos mais da luz.
Aruana ouviu sons de conversa e a maioria vinha de uma construção grande, um pavilhão cheio de janelas.
— É o nosso clube. As refeições são servidas ali e temos alguns jogos também.
— Jogos?
— Sinuca, dardos, jogos de montar... As Novas Espécies não gostam de ficar ociosos. Ah, e temos uma televisão por satélite. Eles adoram programas de auditório e as novelas brasileiras.
— Sério?
— Unhum.
Passaram pelo clube e diversas cabanas menores surgiram. A porta de uma delas se abriu e uma mulher Nova Espécie surgiu.
— Olá. - saudou em português. Aruana admirou a mulher alta e morena que lhe estendeu a mão. — Fez boa viagem?
— Fiz, sim.
— Sou Creek.
— Muito prazer, Creek.
A linda mulher sorriu e falou em inglês.
— Ainda estou aprendendo sua língua. Podemos falar em inglês?
— Claro, sem problemas.
— Creek a hospedará, Aruana. - informou Estela.
— Sim, eu pedi uma cabana só para mim, mas humanos até que não incomodam muito.
Estela balançou a cabeça.
— Creek!
— O quê? Só quero que a humana saiba que não vou atacá-la.
— Como? - Aruana perguntou, espantada.
Creek continuou.
— Alguns espécies ainda não gostam de humanos, mas...
— Creek, deixe comigo. - Estela empurrou Aruana para dentro da cabana. — Você vai gostar muito daqui.
— Ah, sei.
— Ven, pode ver se as bolsas da Aruana chegaram?
— Estão no jipe.
Aruana observou a cabana. Era uma sala com cozinha americana. A decoração era quase toda em verde, causando uma sensação de frescor. Creek abriu uma porta.
— Aqui é o seu quarto. - Aruana caminhou até o quarto, que era simples, com um guarda-roupas e uma cama grande com mosquiteiro. — Coloquei cortina e poderá ficar à vontade. Ninguém virá te espiar nua.
— Hã?
Estela balançou de novo a cabeça.
— Creek quis dizer que terá privacidade.
— Terá, sim. Fiber disse para os machos que a convidada não era para compartilhar sexo e que vai bater em quem tentar invadir a casa.
— O quê? - Aruana ficou alarmada. Alguém poderia invadir a casa?
Estela tratou de explicar.
— Não se preocupe, Aruana. Os machos são muito curiosos e assertivos, mas não vão te incomodar.
Vengeance estalou a língua.
— Ninguém vai querer brigar com Fiber, com certeza. - olhou para ela. — Mas se quiser, você pode compartilhar sexo com qualquer macho. Comigo, não.
A boca de Aruana abriu e ela percebeu como Estela estava constrangida.
— Ven, ela sabe que você é casado.
Ele se virou para a esposa.
— Justice e os outros são acasalados e fêmeas humanas oferecem sexo para eles. - voltou-se para Aruana com o rosto feroz. — Mas nenhum aceita.
— Misericórdia...- murmurou Estela. Empurrou Vengeance na direção da porta. — Aruana, Creek vai levá-la para jantar. Nos vemos daqui a pouco, está bem?
Aruana apenas concordou com a cabeça. Creek foi para a sala e fechou a porta.
— Ainda têm mosquitos lá fora. - disse Creek e Aruana ficou calada, apenas observando a mulher estranhamente linda. Ela também tinha olhos de gato. Creek voltou para junto dela, porém sorriu ao ouvir o som de um carro. — É o jipe. Suas malas chegaram. Olha, vou lá ver se trouxeram o que eu pedi e trarei suas malas.
A mulher correu para a porta e saiu, deixando Aruana perdida no meio do quarto.
Os pensamentos giravam em sua mente e um medo irracional a tomou. A Many Tribes lhe assegurara que era seguro conviver com aquelas criaturas, ela, entretanto, se lembrou das reportagens do ano anterior que mostraram ataques que as Novas Espécies haviam sofrido na França. Eles retaliaram de forma brutal, ela se lembrava. As pesquisas que fizera sobre aquele povo diziam que só se defendiam de ataques, contudo também esclareciam que muitos deles viviam longe dos humanos. Ela sentiu o suor brotar em sua testa. Por que não trouxera uma equipe?
Ligou o ventilador de teto e ficou debaixo dele, refletindo.
A porta da sala se abriu e ela resolveu ir para o cômodo. Parou, surpresa, quando não encontrou Creek. Carregando suas bolsas de viagens, Fiber entrava na sala. Aruana estacou ao vê-lo à luz elétrica. Ele ,de fato, era bem mais escuro do que os outros e sua pele brilhava. Era muito alto e musculoso, mas seu corpo era harmônico. Ela não pôde deixar de reparar novamente em como era excessivamente másculo.
Ele também parou e a observou. Ficaram alguns instantes em silêncio e depois ele ergueu as sobrancelhas muito grossas.
— Qual é o seu quarto?
— Ah, é este. - ela apontou para o quarto e ele entrou.
Viu quando ele colocou as bolsas no chão e seu olhos se prenderam no traseiro grande e bem feito. Achou que nunca vira uma bunda masculina tão bonita. Fiber se virou e ela tentou desviar o olhar.
— Obrigada, senhor.
Ele caminhou até ela. Aruana achou que ele estava muito perto, mas não recuou.
— Amanhã eu me reunirei com você.
— Você? Por quê?
— Porque recebi ordens de Homeland para lhe dar o melhor tratamento.
— Você é o responsável por Homeland III?
— Apenas por algumas semanas.
— Por que não me disse antes?
— Por que deveria dizer?
— Bem, sabia que eu era a repórter, podia ter se apresentado.
Ele a encarou e ela sentiu-se incomodado pelos olhos felinos.
— Eu me apresentei. Não tenho culpa se não fez o seu trabalho e não sabia quem eu era. - o queixo de Aruana caiu. O homem musculoso andou até a porta e a abriu. — Amanhã nós conversaremos. Sou muito ocupado. Espero que não me faça perder tempo.
Fiber saiu e ela fechou a boca, chocada com a rudeza dele. Piscou rapidamente e se forçou a não amaldiçoar aquele dia cansativo e a bendita hora que aceitara aquele trabalho.
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Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...