Fiber era considerado um macho retraído, sombrio até. Como Darkness, os outros espécies costumavam deixá-lo em paz, contudo Cedar, que era o líder de Homeland III, estava em Brasília encontrando-se com representantes do governo brasileiro e o deixara responsável pela direção da colônia.
Imaginara que receber um ser humano não seria tão complicado, porém não contara de ficar... desconcertado. Fiber não conseguia pensar em outro adjetivo que não fosse aquele. Desde o primeiro momento que vira a repórter se sentira totalmente desconcertado.
Ele a vira em pé no ubá. Não era alta como suas fêmeas, mas não tão baixa quanto as mulheres da localidade. Aliás, ela se parecia com as indígenas de Santa Rosa; era um pouco mais clara, porém seus traços faciais lembrava os do povo acriano. Até seu nome era indígena, porém tinha a postura de uma forasteira. Os cabelos muito curtos e as roupas bem feitas se destacavam no meio da população nativa.
Quando se aproximara dela sentira o cheiro diferente e, curioso, chegara mais perto. O aroma que vinha dela mesclava o de flores com suor, um cheiro quente que mexera com seus sentidos. Ficara intrigado, pensando que devia estar há muito tempo sem sexo para um cheiro o interessar tanto, mas não estava. Passara a noite com uma das fêmeas e estava saciado, achava.
Não dissera à fêmea repórter que deveria recepcioná-la e deixara para a companheira de Vengeance a incumbência. Ninguém estranhara o seu comportamento, pois estavam acostumados com sua sisudez.
Na lancha, ao tocá-la, sentira a carne macia dos seus quadris e a bunda contra suas coxas. Na hora, um desejo inesperado de apertar aquela carne com os dentes o tomara. Afastara-se, estranhando o seu próprio comportamento. Tentou se concentrar na viagem pelo rio, mas volta e meia se virava para trás para ver a fêmea humana.
Na chegada ao cais em Homeland não resistira e quisera tirar à prova a atração que sentira em Santa Rosa. E se arrependera.
Segurar a mulher no colo parecera uma bomba para seus instintos e a soltara rapidamente. Sentira novamente sua maciez e o cheiro de sua pele e a sensação fora incrível. Era como provar um alimento desconhecido.
Decidira que o melhor a fazer era manter distância, porém acabara entregando suas bolsas de viagem. Dentro da casa, sem os aromas da floresta, o cheiro dela era ainda mais instigante. A pele dela parecia chamá-lo. Ficar perto o fizera sentir água na boca.
Voltara para sua cabana e tomara um banho, porém a água morna não ajudou a diminuir a estranha agitação que sentia. Vestiu-se e foi para o Clube, curioso em encontrar a visitante novamente e saber sua reação à ela.
Entrou no pavilhão e foi até o bufê. Encontrou Leona, a fêmea com quem compartilhara sexo na noite passada. Ela piscou para ele.
— Soube que foi na cidade.
— Fui.
— Se eu soubesse pediria para ir junto.
— Por quê?
Ela sorriu; era uma felina linda com cabelos ruivos abundantes.
— Para dar uma volta.
— Você pode solicitar uma saída.
— Mas não iria com você.
Fiber a encarou. Não era a primeira vez que transara com Leona e ela não demonstrara apego antes. Estaria interessada em mais interação?
— Se quiser eu posso marcar uma saída para você.
— Com você?
— Pode ser.
Ela sorriu docemente.
— Pode marcar, então.
Fiber se serviu de picadinho de capivara, sua carne predileta no Brasil; fez uma pequena montanha no prato com a carne sangrenta.Leona fez o mesmo.
— Quer sentar comigo? - ela perguntou.
Fiber se deu conta que a fêmea estava mesmo interessada nele. Era a primeira vez desde que fora libertado que uma fêmea mostrava que queria algo mais do que sexo. E ele sabia que casais de Novas Espécies eram poucos graças ao desejo das fêmeas de continuarem livres.
Sem saber exatamente como se sentir, sentou-se ao lado da bela fêmea. Conversaram amenidades, nada sério, pois ele era muito reservado. Mesmo assim, se esforçou para ser simpático.
Seus olhos, entretanto, desviaram-se para as portas várias vezes. E, um pouco depois que ele chegara, Creek entrou com Aruana.
Fiber parou de mastigar para observar a repórter. Considerava as fêmeas espécies muito mais atraentes que as humanas, mas aquela, não sabia a razão, o atraia.
Ela vestia uma camisa de malha com um símbolo que ele já vira em algum lugar, um círculo azul estrelado e o que parecia um W dourado alado. A calça comprida era justa no corpo esguio e ele desejou ver sua bunda.
— Fiber?
Ele se virou para Leona.
— O quê?
— Eu te fiz uma pergunta.
— Fez? - voltou a mastigar, desconcertado.— O que foi?
Leona olhou para trás, na direção das portas. Ela o olhou novamente.
— É a humana?
— O quê?
— A presença da humana te incomoda?
Fiber pensou que incomodava, sim, mas não diria aquilo à fêmea.
— Cedar acha que a reportagem será boa para a colônia.
— Ele podia ter esperado voltar para receber a repórter.
— Hum...
— Se precisar de ajuda com a humana... Me dou bem com eles.
Ele assentiu com a cabeça e encheu a boca com a carne que agora não parecia tão saborosa. Seus pensamentos não paravam. Não era um daqueles espécies amantes de humanas. Sabia que muitos dos seus parceiros eram amantes de humanas e gostavam , porque elas se apegavam. Dos mais de duzentos espécies nas Homelands e na Reserva, mais de uma centena se acasalara com humanas contra as duas dezenas que se acasalaram com fêmeas espécies. Não criticava quem compartilhava sexo com humanas, mas ele nunca se sentira tentado. Até hoje.
Leona parou o garfo à altura da boca e olhou por cima do ombro dele. Fiber sentiu o odor humano invadir suas narinas e retesou o corpo; já conhecia aquele cheiro!
— Boa noite, Leona. - Creek cumprimentou.
— Boa noite, Creek. - a fêmea sentou-se ao lado dele. — Sente-se conosco.
— Obrigada. - ele ouviu a voz antes dela sentar ao lado de Leona e à sua frente.
— Leona, esta é Aruana, a repórter.
Leona estendeu a mão e cumprimentou a mulher.
— Muito prazer.
— Igualmente.
— Eu falo português.
— Que bacana!
Creek balançou o garfo.
— Não conversem em português. Eu falo pouco. - virou-se para ele. — Você fala bem.
Fiber torceu os lábios.
— Eu falo.
Ele notou que Aruana ergueu uma sobrancelha, mas não se importou, afinal não era obrigado a dizer-lhe que a entendia perfeitamente. E também ignorou o olhar que ela deu para o seu prato.
Leona sorriu para a humana.
— Eu acompanho a imprensa nacional. Para quem você trabalha?
— Sou free lancer, mas agora estou trabalhando para a revista Many Tribes.
— Ah, eu leio o site. Adoro saber como as pessoas vivem.
— É mesmo?
A conversa continuou e Fiber ficou em silêncio, apenas acompanhando. Sua maior preocupação era que Aruana estava na sua frente e não conseguia deixar de olhá-la. Enquanto ela explicava que tinha origem indígena, ele admirava seus lábios se movendo e os olhos amendoados. Seu olhar desceu do queixo redondinho para o pescoço moreno. Tentou, mas não conseguiu não olhar para seus seios. Eram redondos, não eram grandes, mas pareciam pesados. Engoliu em seco, imaginando-os em suas mãos. Estreitou os olhos lembrando de onde conhecia a estampa da camisa; era da Mulher Maravilha.
Aruana se moveu debaixo da mesa e suas pernas esbarraram nas dele. Ela o olhou e Fiber pensou que deveria abrir mais as pernas para não encostar nas pernas dela. Sentiu-a recuar e, sem entender o porque, fechou as pernas, prendendo-a. Ela arregalou os olhos.
— O que foi? - Creek perguntou.
Aruana o encarou e Fiber respondeu ao seu olhar, sentindo-se confuso com sua própria atitude.
— Nada.
— Parece que você levou um susto.
Fiber sentiu as pernas dela se moverem e roçarem nas dele. Ela colocou uma mão debaixo da mesa.
— Não me assusto à toa. - Fiber sentiu a mão no seu joelho. — Mordi a língua. - ela acariciou o joelho dele e Fiber abriu a boca, com um arrepio. Unhas roçaram em sua pele e ele fechou a boca e engoliu em seco. — Se eu não prestar atenção... coisas acontecem.
Ela cravou as unhas com força em seu joelho e ele piscou os olhos rapidamente.
— Tome cuidado. - alertou Leona.
Aruana fincou novamente as unhas em sua carne e ele abriu as pernas.
— É, vou tomar. - ela falou.
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Fiber: Uma história Novas Espécies 4
FanfictionQuando Fiber foi libertado do laboratório Mercille no Colorado, ele encontrou a sociedade das Novas Espécies estabelecida. Mesmo com todo o apoio da ONE, Organização das Novas Espécies, Fiber sente que não se adaptou totalmente ao mundo. Sente-se ma...